Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, July 10, 2007

O HOMEM-BOMBA ATACA NOVAMENTE

Eu já fui descrito pelo Carlinhos (La Carne) como portador de um “humor de homem-bomba preso num engarrafamento em Bagdá”. Procede, na maioria das vezes. Sob camadas de civilização, mais umas camadas de psico e fitoterapia, eu consigo soterrar essa montanha de stress e intolerância, e às vezes, até fazer piada com ela – porque se levar a sério demais é pedir para escorregar para o túmulo mais cedo e por pouca coisa. Mas tem horas que não dá para segurar as aparências, porque fazê-lo seria ainda pior para a minha saúde.

Como anteontem. Era uma mulher com voz de sirene de ataque aéreo, uma espécie de estridência rouca que seria incômoda por si só. Para piorar, ela dá razão demais ao poeta que escreveu que “ninguém se cansa de ouvir o som da própria voz”. E ela dominou o monopólio sonoro do ambiente. Não se escutava nem o ruído dos talheres, só a voz da gralha, soltando palavras tão cheias de ar (devido à falta de substância) que curariam um ataque asmático. Mas era uma mesa com “as pessoas do trabalho”. Eu sempre digo que a visão do inferno é uma reunião pedagógica com professoras incompetentes e mal-comidas vomitando jargões pedagógicos. Agora imagine essa situação numa mesa de restaurante onde está alguém que não admite nem que você diga um palavrão quando vê os descontos do INSS no seu hollerith, e esse “alguém” calha de ser a pessoa que paga o seu salário. Então você tem que ficar quieto e agüentar, pelo menos até os outros convidados chegarem e você ter uma desculpa para mudar de mesa. Foi o que eu fiz, mas não adiantou muito – além de outra gralha gorda ter ocupado a mesa ao lado, a Gralha Primeira continuou infestando o ar com suas opiniões incontestáveis sobre tudo.

Pensei nas dezenas de grosserias bem-colocadas que eu poderia dirigir a ela, desde as que eu vi em livros até algumas que criei na hora. Entretanto, em prol da convivência harmônica na ambiente de trabalho, nas regras de convívio social e, principalmente, na possibilidade de continuar sendo contratado da empresa, sufoquei a raiva criativa até chegar em casa e explodir em mau humor, ranger de dentes e dores de garganta.

O senso “tosqueira machista”, de permanente plantão, imediatamente explicaria a atitude da “dama da sociedade” do parágrafo acima como decorrente, simplesmente, de “falta de rôla”. Mas é uma inverdade. Não há rôla nesse mundo que cure uma alma que caga pela boca.

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1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Sempre achei do maior mau gosto esse pessoal que fala de trabalho na hora do almoço. Pô, é a hora em que eu esqueço que estou no trampo. Quanto à bomba, cuidado, que ela explode lá dentro.

6:55 AM

 

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