Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, June 25, 2007

Aqui a ôia é pesada, mano!

Cinco jovens bem-nascidos agrediram uma mulher num ponto de ônibus no Rio de Janeiro. What’s new? Renato Russo, em entrevista de 1987 (vinte anos atrás), já falava que isso acontecia constantemente em Brasília. Crônicas policiais trazem relatos semelhantes desde os anos 50, a única diferença é que então eram “as turmas do rock” que escapavam pra delinqüência, e hoje são os bombados da Barra.
O Rio é um templo de culto ao corpo. Mais do que qualquer outro lugar no Brasil, lá quem tem pança é pária e mulher com celulite fica à margem de tudo. Se além de feio, for pobre, aí já era. Entre meus alunos há um carioca de seus dezenove anos que diz sentir muita falta da terra natal, um lugar lindo (que só não é mais bonito por causa daquela negrada e daqueles paraíba que mora lá”, nas palavras dele, erros de concordância ipsis letteris. Desse cenário para a formação gangues de marombeiros ricos que “se divertem” surrando transeuntes, é até um processo óbvio. Afinal, esses garotos não podem passar o dia todo na academia nem na internet, tem que sair para menosprezar os mais fracos graças ao benefício da imunidade que vem da opulência e do tédio que vem do vazio da suas próprias existências.
A alegação que deram – três dos mancebos foram localizados e detidos, todos proeminentes universitários de cursos inócuos (Administração e etecéteras) – foi a de que “pensaram que a mulher fosse uma prostituta”. Claro – bater numa trabalhadora é uma coisa, numa puta... ora, quem se importa? Capaz de ganharem absolvição e até aplausos. O mais severo que deverão ouvir provavelmente será algo do tipo: “vejam se da próxima vez acertam uma puta de verdade, pô!” É o Grupo de Extermínio de Aberrações, aumentando suas fileiras dia após dia!
Nessa última vez que estive em Taubaté, soube que as putas da avenida Charles Schneider e imediações foram corridas de seus “pontos” graças à eficiente repressão policial, que não tem marginal para prender e precisa zelar pela ordem moral da família brasileira, prendendo essas diabas sexuais que tentam cidadãos dignos a se tornarem maridos adúlteros, manipulando a inocência desses homens de bem. A tal repressão incluiu táticas sabidamente eficazes, como espancamentos e estupros, aplicados sistematicamente à qualquer “profissional do mal” que estivesse por lá. Espancamentos e estupros. Danificando a mercadoria não há como vender, não é mesmo? Geniais, esses policiais.
Aqui em Foz, o fogo cruzado do acerto de contas no comércio de drogas pega traficantes e usuários, inocentes e envolvidos. Mas tudo rola na periferia – Três Lagoas, Porto Meira, Jardim Jupira, bairros distantes e superpopulosos, onde a população se amontoa em ocupações desordenadas para ganhar terras loteadas pelo município e depois repassar essas terras em contratos ilegais de locação (maniqueísmo não cabe aqui, I’m sorry). O que se diz pela cidade, mesmo com a média oficial de 1 homicídio por dia, é que “morre quem tem que morrer”, mesmo que seja uma criança de cinco anos que deu o azar de estar no local errado na pior hora. Mas também, quem mandou morar no Três Lagoas? Ele que arrumasse emprego e saísse de lá (e como aqui é cheio de guris e gurias de seis anos trabalhando, inclusive para a máfia paraguaia, ninguém iria estranhar um piá de cinco na labuta, né não?).
Somos o país cordial, o povo da Ordem e Progresso, o maior país católico do mundo. Todo mundo deveria se orgulhar de morar num lugar assim! Vocês não?

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Um conhecido meu uma vez contou que ele e seus amigos tinham feito uma balada "legal": eram 5 playboys riquinhos, bêbados e drogados que chamaram uma prostituta, amarraram na cama e "usaram" (inclusive agredindo e ameaçando). Claro, o número de clientes e a "natureza do serviço" não tinham sido acertados com a moça. E ele ainda queria que eu achasse bonito. Detalhe: isso faz mais de 20 anos.

6:52 AM

 
Blogger Túlio said...

o problema é que nos acostumamos com essas noticias, tudo parece normal.

8:24 AM

 

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