Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, June 19, 2007

Let the Romeo weep

Os ônibus vão rangendo seus freios do lado de fora. Do lado de dentro, minha namorada dorme no quarto “do casal”. Eu não vou pra cama hoje. Enquanto meus olhos puderem manter minhas pálpebras separadas, esses meus dedos correrão sobre o teclado e eu vou escrever aqui tudo o que eu deixei escapar. Não me espere, Lidi. Hoje eu não vou pra cama cedo.

***

Ela foi embora numa ambulância depois do que era, cremos eu e outros, um ataque de fobia. Ela só tem dezesseis anos, alguma inocência e uma dose apenas saudável de malícia. Ei, me desculpe, nem todos nós nascemos para ser sórdidos. Já há sujeira demais à volta, e eu vejo a sujeira minando e matando sua saúde. Ela é ingênua, eu sei. Eu também fui assim. E não o sou mais porque quase me resigno como estou. Quase.

Ainda há esperança.

Refrão nenhum toca em minha cabeça enquanto vou pro carro e não vejo veículo nenhum pegar a estrada. Tem horas em que estamos confortavelmente sozinhos. Outras horas, a solidão é só desconcerto.

Solidão é ir pra casa sabendo que você não vai se encontrar lá.

Solidão é um copo vazio na pilha de pratos da pia, um copo que você usa repetidas vezes sem lavar.

Mas ainda há esperança.

***

Ginsberg viu os expoentes de sua geração nus, com fome e frio. Minha geração não tem expoentes. Minha geração não viveu nem um “ismo” que fosse, nem mesmo o individualismo. Os expoentes da minha geração ou foram cobertos pelo pó dos dias de trabalho ou foram fazer MBA e se lembram de que pertencem à uma geração na hora de recapitular desenhos animados.
Uma geração de fracassados, e quem quer seja o líder, não está nem aí.
E nós nem precisamos de líder, é claro. Nós precisamos de um refrigerador Prosdócimo em doze vezes sem juros e, quem sabe, umas Alpargatas novas.
Outros só precisam de um Nike Shox.
Eu preciso de mim mesmo, mas eu me cansei de mim e fui dar uma volta. Me encontrei ali, nos olhos estrábicos de quem acredita no mundo e algumas outras coisas boas. Dessa vez não fiquei com medo nem melancólico.
Eu fui logo ali, e encontrei um vazio do caramba, e o vazio de um bolsão de opiniões taxativas, confusas e furadas. Uma infinita repetição de vocábulos e mágoa, sem qualquer sentimento original.
Eu fui deixar Romeu chorar e ver o que Julieta faria. Mas eu sabia que Julieta cumpriria seu papel, conquanto ela soubesse que ambos morreriam no final. Ela não admitiria nunca que ele fosse feliz sem ela – coisa que ele teria grandes chances de ser. Ela não conseguiria manter o relacionamento em vida. A morte mútua comprova a reciprocidade de sentimentos entre os veronenses, e por fim lega a posteridade.
Eu não quero passar aos pósteros. Só quero estar distante de todas as guerras. Claro que não vou conseguir, porque eu não tenho guerra nenhuma. Travo um combate apenas, do qual eu não conhecerei nem um décimo de todo seu estrategema graças a essa bruxa que me varre os pensamentos.

Eu tenho sono, desânimo e alguns trocados no banco. Nenhum deles me serve de nada.

Eu tenho um monte de coisas com as quais me ocupar, mas nenhuma delas me diz nada.

Eu tenho várias cidades à minha disposição e uma passagem marcada para o outro lado do mundo. Até para o outro lado da lua, se eu quiser.

Mas eu durmo de lado porque não consigo encarar minha mulher.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

daí Leo. finalmente saiu o novo single do oaeoz. tá lá no blog pra baixar

http://rapidshare.com/files/38047872/oaeoz_-_impossibilidades.rar.html

assim que puder te mando a cópia "oficial" em CD

abração

12:40 PM

 

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