Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, June 04, 2007

My borther, the cow*

Rever a família nem sempre é das tarefas mais prosaicas, principalmente quando você está envolvido em uma situação que não agrada muito a eles. Gostaria de poder dizer que não me preocupo em correspinder às expectativas dos meus pais, mas infelizmente estaria sendo desonesto. Ainda não me livrei dessa sombra que persegue todos os filhos que, de uma maneira ou de outra, foram superprotegidos - e embora eu não tenha sido exatamente um momma's boy paparicado, tive minha cota de carinhos.
O melhor desse período taubateano recente foi voltar ao Mercado Municipal em companhia dos meus pais. De quando eu era criança até o começo da adolescência, eu costumava acordar lá pelas 06h15 de cada sábado e seguir com meu pai pelo "mercadão", carregando pesadas sacolas de frutas e produtos alimentícios suficentes para alimentar uma família de sete - que era exatamente o número da nossa. O passeio sempre terminava na banca do já falecido "seu" Morgado para a compra e troca de gibs usados. Esse hábito parou quando eu comecei a trabalhar ou a encontrar ocupações mais individuais para as noites de sexta, mas permanece como a melhor lembrança da minha infância - às vezes, parece ser a única lembrança boa daquela época (o fato de eu ter tido carinho não quer dizer que não tive problemas). Andar por aquelas barracas na companhia dos velhos - e ver o orgulho deles - me deu uma alegria e entusiasmo sutis, do tipo que não aprece em manifestações explosivas de êxtase, mas sim numa tranquilidade que permite agüentar rojões de grosso calibre.
Esses vieram, como em 99% dos casos, da parte do meu irmão. Meu irmão foi quem me ensinou a ler através de leituras de libros de história e HQs, e era quem me acolhia na sua cama em noites que eu tinah medo. Mas isso foi até uns seis ou sete anos de idade, e depois disso já se vão mais de vinte anos de brigas, humilhações e indignidades.
Não sou do tipo que transfere aos outros a culpa pelas minhas ações, e se sou quem sou, é por minha causa, e de ninguém mais. Meu irmão certamente contribuiu para cortar os maiores traços de auto-estima que eu poderia ter, prolongou minha insegurança por mais tempo que o recomendável e me serviu como um modelo do tipo de adulto que eu jamais gostaria de ser. Ainda assim, eu permiti que ele o fizesse. O desprezo e o desconforto que ele causa são compartilhados por vários outros de minha família, mas eu sou o único que deixou que isso se alastrasse e se manifestasse num nível que se aproxima do indelével. Então, a culpa realmente pode não ser dele, mas está claro para mim que não há qualquer motivos que me obriguem a gostar dele ou mesmo respeitá-lo.
Não usarei este espaço para resolver questões familiares que devem ser resolvidas cara-a-cara, de homem para rato. Mas me permito colocar aqui a reflexão da obrigatoriedade de afetividade familiar, algo que não concordo em absoluto, como se laços de parentesco nos obrigassem a ter uma atitude que não corresponde em nada às próprias crenças. Mesmo o tal do "honrar pai e mãe" é questionável, dependendo dos genitores que você pode vir a ter. Nada a ver com a rebeldia sem causa dos adolescentes permissivos, mas acho difícil que uma garota respeite, por exemplo, o pai que dela abusou, ou que um garoto tenha veneração pela mãe que quando não o humilahava, o ignorava. Conheço pessoas que passaram por isso e perdoaram seus parentes, o que só aumenta minha admiração por elas. Porém, essa admiração ainda não tem força o suficiente para me fazer adotar postura parecida com meu irmão. Posso até perdoá-lo, mas daí a querer gostar dele é pedir muito.

"My brother, the cow" é uma música do Mudhoney, aqui citada sem nenhuma razão que não fosse a aleatoriedade da minha mente.

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