Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, May 09, 2007

Budismo Velho

A flor brota em minhas feridas meio deslocada e eu aqui, pensando no que seriam as “diatomáceas da lagoa” do Augusto dos Anjos em seu budismo moderno, buscando maior identificação, já que um urubu parece ter pousado em minha sorte. Um ímpeto pela grandiosidade brota aqui dentro, mas ele é sufocado pela absoluta sensação de ter a mediocridade cotidiana se tornando mais e mais parte da alma, ocupando um espaço maior em minha essência do que eu mesmo gostaria de admitir.
Em doses homeopáticas, vou me drogando gradativamente e de formas diferentes, a intenção é só sublimar o que sinto, sufocar, deixar de lado. Não haverá inspirações místicas ou revelações metafísicas. Isso não vem daqui, e a certeza de que atitudes drásticas mudaram pouco o quadro atual ajudam a configurar o tal “quadro depressivo”. Mas não, essas dez letras meu ser quase se recusa a redigi-las, não porque eu viva a cobrança acrítica (neologismo, noelogismo) da felicidade, essa busca pela felicidade hedonista e/ou prozaquiana. Um pouco de hedonismo até que me faria bem agora, é um artigo que anda em falta – o Prozac eu continuo dispensando.
Quantos mais se sentem assim? Ah, mas é claro que eu sei que não sou só eu quem penso assim, não mesmo. Mas são tantos de nós que querem ser aquilo que não são e, olha só, conseguem fazê-lo. Teria me faltado empenho? Acho que não, embora nunca tenha sido o “operário-padrão” em nenhum emprego. Emprego que atualmente me faz bem e representa meu único alívio de mim mesmo e dos acontecimentos pelos quais culpo, preconceituosamente, os urubus. Nem é uma seqüência de “mais do mesmo”, é uma seqüência de “nada do nada”, um misto do “eterno retorno” nietzchiano (citações de um leitor de orelhas) com um autêntico desinteresse por qualquer coisa que pareça mais séria.
Um budismo velho em um mundo “muderno”, um tédio de quem não tem paciência nem capacidade, tampouco vontade, de acompanhar os ditames da vida cotidiana e não se tocou ainda que isso é algo que acomete a todas as pessoas, só que a maioria delas não está nem aí. Eu, lamentavelmente para mim, me importo. Ser igual, ficar legal – não é para mim. Mas acho que eu estou legal. Fala pro pai que eu tô legal. Melhor ele não saber da verdade.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Leo, "acho que estou legal (...)" decididamente esse estado de espírito não combina com você e sabe disso. A afirmação identifica medíocres, categoria que nem com muito esforço uma pessoa como você se enquadra.

6:05 PM

 
Anonymous Anonymous said...

Adorei a citação de Augusto dos Anjos! Parabens pelo texto.. faço fanzines e gostaria muito de poder usar seu texto algum dia (citando o autor, claro).

belcanopus@hotmail.com

5:39 PM

 

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