Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, April 18, 2007

Grupo de Extermínio de Aberrações

Via Rubens K, cheguei a umas músicas do disco vindouro do Violins, Tribunal Surdo (título provisório). No meio dessa pré-mixagem, as músicas me soaram instigantes, apesar das vozes meio frau (um problema meio generalizado dos indie rockers), porém uma me chamou a atenção acima de todas as outras: Grupo de Extermínio de Aberrações. Não só por ser ganchuda (sem adjetivos derramados, ela gruda e pronto), mas principalmente pela letra, que me dei ao trabalho de transcrever abaixo. Pode ter um errinho ou outro, os vocais ainda não estão em sua mixagem final, o que compromete um pouquinho a audição, mas nada calamitoso.

Atenção, atenção
Prestem atenção ao que vamos dizer
Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações
De toda a sorte que você possa conceber
Vindo até vocês pra pedir
Qualquer quantia que se possa fornecer
E garanto que seus filhos vão agradecer por poder crescer
Sem ter que conviver com bichas e michês
E pretos na TV

Tá faltando soco inglês
O estoque de extintor não chega ao fim do mês
Eu não tô pedindo aqui uma fortuna pra vocês
A gente quer limpar o mundo de uma vez

Amigão, amigão
Abaixa essa arma que é melhor pra você
Nós somos o Grupo de Extermínio de Aberrações
E não viemos pra ofender
Viemos receber
Sem medo de pedir pra vocês
Qualquer quantia que se possa fornecer
E garanto que seus filhos vão agradecer por poder crescer
Sem ter que conviver com discípulos de Che
E putas com HIV

Tá faltando soco inglês
O estoque de extintor não chega ao fim do mês
Eu não tô pedindo aqui fortuna pra vocês
A gente quer limpar o mundo de uma vez

E eu garanto que seus filhos agradecem por crescer
Sem ter que conviver
Com bichas e michês
Pretos na TV
Discípulos de Che
E putas com HIV


Sabe, de certa forma, acho que não é de todo fantasiosa uma realidade como essa da canção. Vivemos em uma sociedade de catarse, que acredita em mártires, salvadores milagrosos e apoteoses vingativas. Se duvida, basta conferir a lista de personalidades, políticos e novelas de sucesso, para confirmar respectivamente as três crenças acima. Há um sentimento que extrapola o “olho por olho, dente por dente”, expresso em frases ditas em frente à TV, como “tem que jogar esse filha da puta numa cela com três negão lôco pr’ele aprender” ou “uma biscate dessa tinha que ser currada e deixada viva pra sofrer com o trauma” (como eu ouvi em casos e lugares distintos, sobre notícias recentes).
Meus alunos hoje em dia vêm das camadas mais baixas da sociedade, o extremo oposto do meu emprego anterior. Mas se você acha que por isso eles são desprovidos de preconceitos e crueldades óbvias, tem mais fé no ser humano (ou é mais ingênuo) que você mesmo supunha. Um outro professor que toma o mesmo ônibus que eles já teve que serenar os ânimos de um grupo que ficou sacaneando uma colega de curso negra e outro afeminado. O “engraçado” é que, entre os zombeteiros, vários mulatos e mestiços em geral. Nada tão surpreendente num país onde há skinhead mulato (a prova de que o nazismo só se presta aos imbecis taí), mas nem por isso menos ridículo. A burrice não privilegia classe social.
Muitos judeus que foram libertados dos campos de concentração se mudaram a outros países e houve dentre esses muitos que adotaram uma postura fascistóide e discrimnatória em relação aos “nativos” – há uma passagem cortante no Maus (Art Spiegelman) sobre isso, na qual o velho Vladek quase enfarta ao ver a nora francesa parando o carro numa estrada rural para dar carona a um fazendeiro negro.
Esses exemplos – que descambaram para o raciocínio mais rasteiro do preconceito racial – foram só para lembrar que o tal papo do “brasileiro cordial” pode ter sido muito usado, mas nunca correspondeu muito ao nosso caráter. Nosso caráter é o da Lei de Gérson, o da “pouca farinha, meu pirão primeiro”. Bem aquele tipo de coisa: todo mundo quer que algo seja feito, contanto que não seja ele próprio quem tem que fazê-lo.
Por isso aceitamos salvadores. Por isso também fica fácil aceitarmos executores. Não tem gente que até hoje tem saudade do Esquadrão da Morte?

3 Comments:

Anonymous Anonymous said...

essa letra é muito boa, mesmo. e ainda mais assustadora quando se percebe que está cada vez mais se tornando uma realidade. basta lembrar das milícias no RJ, ou dos playboys daqui que se divertem à noite atirando em travestis no meio da rua.

11:52 AM

 
Anonymous Anonymous said...

pobre são paulo, pobre paulista...com nossa ida, é mais ou menos isso...abraço.

8:26 AM

 
Blogger Unknown said...

ola
achei seu blog por ai.;/,
gostei
qndo tiver tempo passa no meu
www.mundodelais.zip.net

9:07 AM

 

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