Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, April 18, 2007

O ravióli, o governador e alguma coisa inútil sobre garçons.

Para o almoço de domingo, eu e a namorada decidimos gastar um pouco mais em comemoração ao sucesso de uma cirurgia que ela fez – e aproveitar para brindarmos àquele meu emprego novo, ainda que temporário. Escolhemos um restaurante na Argentina (benefícios de se viver na fronteira) e fomos. Como até comemorações pedem pelo menos um pouco de bom senso, escolhemos um prato que podíamos pagar (ravióli de roquefort, 14 pesos) e o vinho branco mais escondido e de valor mais barato na carta (Etchart Privado Torrontés, 10 pesos, exclusivo de Salta, saímos no lucro, era coisa fina).
Já conhecendo as porções generosas e as terrinas superlativas do restaurante em questão, pedimos apenas um prato para nós dois. Ficamos felizes como pintos no lixo (ou pobres no luxo, que é a mesma coisa), até que chega outro garçom (o que nos atendeu primeiro abandonou nossa mesa, na certa pressentindo que não ia ganhar gorjeta) e traz nosso prato numa porção bem menos opulenta que de costume e comenta: “só esse pouquinho?”. É, Pablito, só isso. Minha namorada, com cara de pneu murcho, jurou que eles estavam de sacanagem. Eu ri... e depois, quando minha memória acessou suas lembranças da outra vez que eu comera lá, tive certeza que era sacanagem. Em desagravo, comemos devagar e ficamos terrivelmente satisfeitos (o popular “estufados”), deixando de pedir um segundo prato que talvez viéssemos encarar (estávamos dispostos a tanto, já que o câmbio nos favorece e o clima era de festejo).
Saciados e mais lúcidos, vamos conversar com o tal segundo garçom. Conheço os únicos meios de dobrar um garçom argentino sem lhe dar gorjeta, e usei-os todos com ele. Ele elogiou meu espanhol e seguiu contando histórias – essa conversa toda sempre te livra dos olhares constrangedores na hora de sair de um lugar onde o pessoal vai mais pelo ambiente (opulento) que pela comida (realmente boa) – uma das quais envolvia o prestigioso governador do Paraná, Roberto Requião.
Quem é daqui deve conhecer a peça. Não vou nem comentar a destruição que ele está operando no ensino público, principalmente nas universidades (um professor efetivo que ingressar na UEL não chegará a ganhar um salário de três dígitos, isso para não mencionar a estrutura curricular e financeira dos cursos); tampouco as suas “brilhantes” declarações à imprensa; a história dos pedágios nem vale ser lembrada e a falácia da tal “economia agrária” (onde o pequeno agricultor se f*** e o latifundiário aumenta suas terras e a destruição da natureza – o Paraná só perde para o Pará em devastação da mata nativa, tendo 92% de sua mata original deflorestada) é tão acintosa que me abstenho de escrevê-la para evitar a úlcera.
Requião, quando vem â Foz, cruza a aduana (e vê que não há qualquer fiscalização no sentido Argentina-Brasil e deixa por isso mesmo) e vai almoçar lá, onde estávamos eu e a minha namorada. E costuma destratar os garçons, de imbecil pra baixo, segundo nosso interlocutor. Na última vez que esteve lá, ao perceber a aproximação de um jovem garçom loiro de franja caída no rosto, gritou: “tira esse viado daqui! Manda ele pra mesa de gay! Eu não quero ser servido por viado!” Dito pelo cara que chamou os agricultores pro pau e chamou estudantes da universidades públicas de desocupados, até faz sentido.
Aí o garçonzinho que nos atendia completou: “quando ele vem aqui, é sempre com uma comitiva de trinta ou quarenta pessoas (N. e é tudo pago por nós, otários), gastam muito, são bons fregueses. Mas nos tratam como cães”. Quase completei, com a ironia velha de guerra, que nós podíamos não gastar como o Requião, porém pelo menos éramos dignos no tratamento, mesmo que nos trouxessem uma porção canina. Mas não completei. Ficou subentendido.

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

é foda. pensar que esse é o cara que decide o futuro do estado. deprimente.

11:50 AM

 
Blogger Túlio said...

aquela entrevista pos vitoria do requiao ano passado foi a coisa mais medíocre que ele podia ter feito. até onde vai a intolerância desse homem?

2:34 PM

 

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