Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, April 03, 2007

Das coisas que passam pela cabeça em um momento

Um dia você acorda e descobre que desde o primeiro momento semi-consciente da sua vida você saiu brigando com o mundo, só não mandou o médico que fez seu parto tomar no cu porque lhe faltavam recursos lingüísticos.
Você seguiu crescendo e brigando com quem pudesse, com seus pais e irmãos, com o deus que lhe disseram existir, com aqueles outros que estavam à sua volta. Aí você descobre, já um tempinho considerável depois, que brigar não resolve e decide tentar agradar todo mundo: aquele deus, pai, mãe, irmão, professor, cachorro, transeunte. E vem um tempo, variável de acordo com o senso de cada um, que você descobre que agradar também não resolve.
Ai acontece, grosso modo, duas coisas: neguinho vê que fazer drama é perda de tempo e acha um ponto de equilíbrio que vai manter até o fim da vida, à exceção de uns altos e baixos bem humanos. Ou então pira, e essa piração assume as mais variadas formas e gera as mais diversas atitudes, mas não esconde o fato que sua consciência e vontade são tão firmes quanto a gema de um ovo frito.
Parece que a maior parte da humanidade, na qual me incluo, faz parte desse segundo grupo aí, e vive uma relação de admiração e inveja com a outra parte. Pode acontecer, e frequentemente acontece, de acharmos que toda aquela história de casa-filhos-televisão e carnê do baú é o normal, e até quem se puna por não fazer parte disso. Também pode ser, e não raro é, que o sentimento de incompreensão alavanca uma vontade incomensurável de mandar tudo e todos à merda, como se só você passasse por lá.
Mas não. Nem todo mundo nasceu pra sonhar com o Big Brother (e não estou recriminando aqui quem sonha em disputar o paredão com o Alemão). Assim como nem todo mundo nasceu pra bater carimbo no dia-a-dia, como um número considerável de pessoas parece se esforçar em fazer. Todos – negros, brancos, vermelhos, verdes, putas, católicos, evangélicos, muçulmanos, bêbados, abstêmios, doentes, etc – vão passar pela merda um dia. Até o ACM vai. O Bill Gates vai. A Cameron Diaz vai. Eu vou. E você também.
E o que nos faz mais homens, mais dignos, mais suportáveis? Dificilmente acaba sendo a grana que temos. Claro que ela compra paciência, conforto e vinho de ótima qualidade, mas não só. Também não é o tão valorizado shape ateniense, porque na hora que o bicho pega, não é um abdome de Rodrigo Santoro ou uma bunda de Scheila Carvalho que vão resolver os problemas.
A lista é grande e tornaria o texto mais adolescente do que já está, mas acho que você já entendeu. A questão toda está numa palavrinha muito diluída nesses dias de marketing segmentado e rebeldia confortável: atitudes. É aquilo que a gente faz antes, durante ou depois de passar pela merda que vai fazer a diferença. Não só porque você precisa dormir bem à noite – você pode perfeitamente ser um pulha com uma auto-imagem excelente, e seu sono vai ser mais doce que o do Bebê Johnson. Nem porque importa a sensação que você vai passar antes do médico dar o diagnóstico final, porque ninguém garante que seu auto-julgamento vai seguir critérios salomônicos.
A coisa toda que importa é que você provavelmente vai acordar amanha. E quando abrir os olhos, vai ter que passar mais 24 horas convivendo consigo mesmo. Inexoravelmente. Quer você queira ou não, você sempre vai ter você ali,
E aí, antes de pensar em deixar o legado pros filhos, você pensa se o cara que vai acordar no dia seguinte não vai estar com vontade de matar o cara que foi dormir na noite anterior. Se for esse o caso, é sinal de que tem alguma coisa valendo muito pouco a pena.

0 Comments:

Post a Comment

<< Home