Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, March 19, 2007

Whose heart is broken?

“No hay banda. No hay sentimiento”.
(Carlinho Remonte, baixista do La Carne)



Assisti ontem a I Am Trying to Break Your Heart, documentário a respeito das complicações envolvendo Yankee Hotel Foxtrot, o disco que colocou o Wilco no mapa da música pop mundial. Yankee... é um grande disco, que não gera paixão à primeira audição, mas na segunda já te deixa de joelhos, uma obra que vai perdendo as arestas mais doloridas com o tempo e ganhando suavidade e constância muito confortantes e duradouras. O filme em questão já não é nem um quarto disso.

Documentários sobre a feitura de discos são um problema. É plausível (e mais comum que se imagina) que haja algum amigo da banda com uma câmera de mão registrando uma espécie de making of de um álbum, cada vez que um grupo entra num estúdio com esse propósito. Agora, ter uma equipe de filmagem para acompanhar a gravação já indica a pretensão de tornar o álbum “clássico”. Some a isso a suposta presepada administrativa da Warner – dona do selo Nonesuch, ela acabou pagando por um disco que ela rejeitara, já que também era proprietária da Reprise, que dispensou o Wilco por considerar YHF impossível de ser comercializado – e você tem um cheiro de armação muito bem pensada no ar. Principalmente quando você pára e analisa a figura egocêntrica e propensa ao culto de Jeff Tweedy, “vocalista e líder” (aê, Linari!).

Quem era o Wilco? Uma típica banda americana de segundo escalão (comercialmente falando), com alguma moral com a crítica. A típica banda “de americano para americano”, com aqueles hard rocks de letras clichês sem muito charme, e umas razoáveis baladas country rock. Mas em Summerteeth eles começaram a explorar melhor os recursos de estúdio e a brincar com as possibilidades do formato pop, o que permitiu que chegassem a Yankee..., um disco de melodias essencialmente pop, porém de estruturas desconstruídas até tornar sua audição uma experiência além da melodia, as balizas do disco – “I Am Trying to Break Your Heart” e “Reservations” – sendo o melhor exemplo dessa reengenharia.

Tal resultado só foi obtido graças à tensa colaboração/conflito entre os egos e as forças criativas de Jeff Tweedy e do guitarrista/tecladista Jay Bennet, as idéias megalomaníacas e a obsessão meticulosa do primeiro com o apuro melódico do segundo. Só que no processo de realização do disco, a corda cedeu para o lado do tecladista (“não poderia ter ficado mais feliz com a saída dele”, confessa um Tweedy sorridente), com o apoio da banda (“já era hora”, afirma o baterista Glenn Kotche), que aceita passivamente o papel de coadjuvante (o multiinstrumentista Leroy Bach não diz uma única frase em todo o filme e o baixista John Stirrat só abre a boca para falar mal de Bennet). E Bennet é mostrado, pós-expulsão, tocando sozinho em um clube para poucas pessoas, interpretando uma pop song ordinária e bem tolinha, enquanto a banda ruma para a posteridade, avalizada por jornalistas do jornal Chicago Tribune e da revista Rolling Stone, bem como por empresários do meio musical...

Aliás, não é por acaso que um dos principais depoentes do filme seja o próprio manager do Wilco, Tony Margherita, que pinta a banda com tintas de genialidade o tempo todo e conduz discussões determinando que a banda deve abandonar o selo Reprise. E como a Reprise deixou-os levar um disco que custou, segundo a própria banda, 200 mil dólares, sem nenhuma multa contratual e sem controle de propriedade artística, é um mistério. Seriam seus administradores graduados em faculdades brasileiras de administração de Empresas, ou egressos da infame incursão da Wal-Mart na China? Seriam uma das poucas explicações cabíveis.

I Am Trying To Break Your Heart é mais um filme sobre business e a construção de um mito que sobre música. Você acaba pescando nas entrelinhas informações sobre o que realmente interessa, e fica com muito do lixo – a xaropice de Tweedy, o calculismo do empresário, a passividade dos outros músicos – na superfície. Não tira nem uma faísca do brilho de Yankee Hotel Foxtrot, é claro, nem dos bons discos que se seguem até então. É verdade que, sem Bennet, eles nunca mais vão lograr algo tão memorável, o mesmo podendo ser dito de Bennet sem o Wilco. Foi um momento-limite num processo criativo de uma banda que legou um disco à posteridade, truques de marketing à parte. O filme poderia ter sido um registro desse ponto extremo. Mas ficou no futuro do pretérito.

3 Comments:

Blogger André said...

Bom, como você imagina, eu discordo de quase tudo. Longe de levar Tweedy ao posto de "deus" (aliás, coisa que só fiz com Nick Cave e Dylan, em tempos passados), mas não vejo "xaropice" dele em entrevista alguma. Pelo contrário, gosto da fala dele, ele consegue não ser chatos em assuntos chatos (como mp3, por exemplo) e, se tem algo de xarope nele, provavelmente é por causa dos painkillers que tomou em excesso. Sobre Wilco não ser o velho Wilco sem o Bennett, sempre discordei (lembra que te falei uma vez que li isso na resenha do Marcelo Costa pro A Ghost is Born no Scream Yell e discordava?). Nunca achei que o Bennet fosse a "alma pop" da banda, pelo contrário, muito do início das experimentações da banda (antes ainda que no Summerteeth, no Being There) se deu pela entrada do Bennet. Ouça o disco do Bennet que saiu no ano passado, algumas vezes dá até raiva da "mão de produtor" que arruina algumas ótimas melodias. YHF tem mérito por ser meu debut em Wilco, mas acho que fica pau a pau com A Ghost is Born, e depois desses dois, o último disco é meu preferido. E, por último, a música que o Bennett toca após a saída da banda, no documentário, é a My DArling, do Summerteeth. abs!

10:50 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Me escreva: dary@tg.mus.br

11:12 AM

 
Blogger Meteoro said...

estou na pilha pra ver esse!

1:00 PM

 

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