Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, February 12, 2007

Quando a história anda para trás

Você conseguiria voltar ao colégio? Se sentiria à vontade se voltasse a trabalhar em uma empresa onde trabalhou no passado, reassuimindo o mesmo cargo e setor de antes? Retomaria um namoro para fazer as coisas continuarem “de onde pararam” ?
A resposta mais provável e crível para todas essas perguntas é não. Você, eu, qualquer um, sentiríamos o peso do dejá vu, já que nada seria como antes: nem a escola, nem o trabalho, nem a garota e, principalmente, nem você mesmo.
A história é um contínuo, já se disse por aí, mas não anda para trás (Larry Wizniewski). Não dá para voltar no tempo ou fazer com que ele volte. O que aconteceu, aconteceu, e o que vier para frente pode carregar as conseqüências disso, mas nunca se repetirá. Se quiser insistir nos clichês, eu diria que “tudo acaba um dia”. Sem exceções.
Não fiz nada mais que escrever obviedades até aqui, e quem está lendo, provavelmente pensa: “tá, por que estamos falando disso?”. Porque a MTV estava exibindo um soundcheck dos redivivos Mutantes
Como é que pode? Uma banda que já nasceu datada virou objeto de culto, e hoje é vista como o medalhão mais prestigiado da música brasileira em seu “retorno”. Retorno de quem, modernete? Cadê a Rita Lee nessa brincadeira? Nem vamos falar do Liminha, mas me parece claro que, independente de preferências, Mutantes sem Rita Lee é como o Jefferson Airplane sem a Grace Slick ou Smiths sem Johnny Marr. Passa pela minha cabeça que um grupo de músicos tem uma identidade enquanto se trata do mesmo grupo de pessoas. A entrada ou saída de elementos a esse grupo altera a equação, tanto para melhor como para pior. Mas às vezes você tira uma peça não é fundamental, e a coisa segue sem maiores atropelos. Não é o caso dos Mutantes, como pode atestar qualquer fã (onde eu NÂO me incluo) da banda. A mulher do Roberto de Carvalho contribuiu, e muito, para que a banda obtivesse a fama de que desfruta hoje.
Estão para chegar ao Brasil dois senhores, Roger Daltrey e Pete Townshend. Dois homens que tocaram no Who, e que hoje representam o que há de mais patético (a vaidade tardia e inacabável de Daltrey, o reacionarismo e a pedofilia de Townshend) na porção da raça humana que constitui a sociedade bem-alimentada. O Who foi uma grande banda, e para mim chegou a ser uma obsessão, de ficar procurando significados ocultos em Tommy e todo aquele hippismo. Hoje eles mal freqüentam meu player, mas terão meu eterno respeito, assim como serão alvos da certeza que o Who de verdade já havia acabado antes mesmo de Keith Moon bater as botas – ou vai me dizer que você consegue escutar o Who Are You? inteiro?. Ainda assim, dá pra você pensar no Who sem a bateria anfetaminada de Moon ou sem as digitadas velozes e imprevisíveis do baixo de John Entwistle?
Arnaldo Baptista, antes de ficar completamente lesado, insistia em dizer que os Mutantes eram defasados e que Sergio Dias estava completamente pirado em acreditar que eles poderiam ter tido uma carreira internacional na época. Também era categórico em dizer que a banda não voltaria. Rita Lee chegou a declarar que o Pato Fu (!) superou os Mutantes em sua proposta. E de uma hora pra outra devemos acreditar que uma conjunção cósmica juntou um cara com o cérebro frito, um egomaníaco, um tiozinho do qual o rock não se lembrava e uma “cantora eclética” para reviver algo que “sempre foi grande”, nas palavras de Dias? Bah!
Só que o público vai na onda. Como vai na onda do Who, também (escutar Daltrey cantar “I hope I die before I get old”, ver Townshend repetir as poses dos longínquos anos 60, etc). E de muitos outros. Até aqueles que se consagraram como “alternativos” e “desafiadores” se lançaram em “voltas” e “reencontros” de inspiração puramente caça-níqueis, que se aproveitavam da emotividade e da paixão cega dos fãs para levantar uns trocados para não faltar pó na aposentadoria – sim, estou falando de Pixies, Jesus And Mary Chain, esse povo todo.
Esse papo não tem nada a ver com a idade no rock. Neil Young tá aí para derrubar qualquer argumento de preconceito geriátrico. Iggy Pop é mais discutível, já que ninguém sabe o nome de uma música nova dos Stooges, mas quem vê o tio no palco, sabe que o papo é bem menos simplista.
O problema está lá no primeiro parágrafo desse texto. Não dá para voltar ao colégio, nem reviver as emoções daquela época. No máximo, dá para ver fotos e acalentar boas lembranças. Mas tentar reviver... não dá futuro. Só dinheiro para uns poucos e enganação para muitos.

2 Comments:

Blogger André said...

Gostaria de ver o Jesus and Mary Chain apenas UMA vez, assim como só vi uma vez o Pixies. Agora, Mutantes não dá. Arnaldo babando e Sérgio falando que é melhor que o Hendrix, realmente NÃO DÁ.

11:38 PM

 
Blogger fernando lalli said...

Fui no Mutantes em São Paulo e posso assegurar que vi um grande espetáculo. Agora, se aquilo é uma "banda" de verdade, que vai fazer música nova com a mesma qualidade [discutível ou não] de antes, aí é outra história.

Sou totalmente a favor que eles façam essa turnê com o repertório antigo [QUE É MUITO SUPERIOR A TUDO O QUE ACONTECE NA MÚSICA NACIONAL HOJE, com raríssimas excessões]. Mas sou totalmente contra que eles "voltem" de verdade, como o The Who. Não ouvi Endless Wire e tenho medo de fazê-lo.

Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

Abraço!

12:48 PM

 

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