Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, February 12, 2007

Mais um pouco sobre a estética

Alguns posts atrás, eu escrevi, em uma linguagem errática e figurada demais, sobre o padrão de beleza inverossímil que se criou recentemente. A propósito de tal texto, meu amigo André Takano me escreveu – já que até então eu não tinha consertado a configuração de comentários desse blog – dizendo que ele dividia esse sentimento comigo, e ponderou: “é um pessoal que fica com tudo a ver – as meninas ficam a ver com um padrão de beleza que não é deste mundo, e os meninos ficam a ver com um sonho que não poderão encontrar”. Algo assim.
Nisso eu me lembrei: esses dias, uma aluna minha aqui de Foz foi à São Paulo participar de uma série de testes para modelo em “grandes agências de São Paulo”. A coisa funciona assim: olheiros espertos ficam nas ruas mais movimentadas da cidade e abordam as meninas mais ou menos bonitas, convidando-as para irem com os pais na agência deles, porque eles estão “recrutando modelos para uma seletiva onde a ganhadora vai ter a chance de ser contratada por uma das maiores agências de São Paulo”. Enfatizam que não é falcatrua nem aliciamento e insistem para os pais irem juntos à uma “entrevista”, onde poderão ser selecionadas. As meninas vão, em 99% dos casos acompanhadas das mães, e lá se deslumbram com as promessas, sendo não raro incentivadas pelas mães, que também não raramente se deslumbram mais com a possibilidade do “sucesso” das filhas que elas próprias. Enunciar minha opinião sobre o ridículo de todo esse processo seria uma puta perda de tempo.
Minha aluna – uma garota legal e divertida de dezesseis anos, capaz de articular boas idéias e cativar com sua beleza – caiu nesse papo, foi “selecionada” e pra São Paulo rumou, num ônibus com mais umas 40 “selecionadas” de Foz e Medianeira. Encararam uma maratona de testes e agências, passearam no Hopi Hari e em uns dois shopping centers. Seria tudo muito fofo, digno de constar nos orkuts e demais registros de suas vidas, mas a coisa toda está longe de ser “fofa”.
Os tais “testes” consistem em fazer algumas poses e dar alguns sorrisos, e se o examinador gostar do que vê, encaminha as meninas a uma sala onde desfilarão de biquíni enquanto sete ou oito marmanjos de pose afetada ficam “avaliando o material” e dizendo o que precisa mudar ou não, segundo os critérios deles e dos padrões de beleza vigentes, é claro.
Preciso dizer o quanto isso é doentio? Acreditar que algum desses pedófilos não-assumidos mantém um “distanciamento profissional” numa atividade dessas é a mesma coisa que afirmar que um cartola está preocupado com a qualidade do futebol que seu clube apresenta! As garotas se voluntariando, muitas com muito orgulho, a se exibirem como pedaços de carne no açougue, perante os olhos famintos de quem está ali avaliando suas coxas, sua bunda e seus seios. Para minha aluna, disseram que ela teria que endurecer a bunda, “o resto estava perfeito”. Ela é, de fato, muito bonita, de um modo muito natural. Tem belos olhos verdes, um sorriso que desembrutece qualquer marmanjo e um jeito meio moleca, meio mandona, que é divertido de se ver. Entretanto, foi setorizada, avaliada e sentenciada a “melhorar a bunda”. E voltou feliz e realizada para casa, certa que será contratada em janeiro, “tão logo arrume a bunda”.
É óbvio que as chances de ela voltar para Foz do Iguaçu em depois de dar com a porta na cara (teria que voltar a SP esse mês) são enormes. É também óbvio que muitas garotas ouviram um “não” logo de cara e voltaram para casa com a auto-estima arrasada. O que não é óbvio foi o que se seguiu no relato dela. Me contando esses detalhes que eu escrevo aqui, ela assinalou que uma garota de Medianeira – cidade conhecida pela disponibilidade de loiras altas e esguias – “foi aprovada em todos os testes, até na Mega (e ela fez questão de ressaltar que era A Mega. Alguém sabe que porra é essa?) e voltou pra casa chorando, chorou a viagem inteira no ônibus, porque disse que não queria morar em São Paulo, que não queria ser modelo, que a mãe a estava obrigando a isso...” E quando eu comentei que “ela tem o direito de não querer ser modelo”, a menina replicou “mas deveria querer. Toda menina quer!”
Mudei a conversa de assunto e procurei não pensar mais no tema. Claro que não o consegui, senão não estaria escrevendo isso.
É isso aí. Toda menina quer, e quem não quer, que morra (ou viva, o que é pior) no isolamento, naquelas ilhas sociais onde jogam os que não se encaixam no gosto geral, os que não fazem parte da “galera”.

1 Comments:

Blogger André said...

Essa mãe deve ser uma gorda velha e horrorosa, projetando seu passado falido na filha.

11:38 PM

 

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