Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, February 28, 2007

Folhetim Urbano

Eu não sou pago para escrever no Scream&Yell, tampouco o Marcelo Costa me pede ou pediu para fazê-lo. O filho é dele e ele o alimenta como quiser. Assim que, por razões que ele deve ter, ele modificou ou mesmo suprimiu (i.e., cortou) alguns parágrafos da resenha que escrevi sobre a banda curitibana Folhetim Urbano. Calhou que a matéria perdeu todo o sentido que eu queria dar. Tornou-se um texto que eu não assinaria - mas ainda assim, minha assinatura está lá.

Sem qualquer intenção de picuinha, publico aqui o texto que eu escrevi. Pode não ser genial e ter um caráter meio exagerado, mas é assim que faço a maioria das coisas: sem genialidade e com exagero muitas vezes apaixonado. Inclusive minha escrita. Então está aí:

FOLHETIM URBANO - CATIVEIRO
por Leonardo Vinhas

Recentemente, o Scream&Yell publicou uma lista de apostas com “sete bandas mais uma” para o ano de 2007. É uma ousadia alta da qual este escriba não compartilha, não por desacreditar do trabalho dos artistas listados, mas simplesmente porque não crê em prognósticos nem se atém aos apelos comerciais da música. Porque se há vezes em que a música fala ao mercado e mesmo muitas outras vezes em que ela fala ao coração, há ocasiões em que a música fala aos intestinos, ao cérebro, aos instintos, à intelectualidade, à frugalidade imprevisível do momento e à imponderável combinação de circunstâncias e emoções.
E foi possivelmente na soma dos dois últimos itens acima citados que a estréia do trio curitibano Folhetim Urbano, o EP Cativeiro, tomou de assalto meu orgulhoso e quase obsoleto aparelho de CD.
Os irmãos Carlos (voz e guitarra) e Renato Zubek (baixo cheio de variantes, caminhos tortuosos e inspirações jazzísticas), mais o baterista Marcelo Tchychy, estão juntos desde 2005 e já vem dessa época a peleja para registrar em estúdio as cinco faixas que compõem o disco. “Guerrilha” havia sido disponibilizada em versão demo na TramaVirtual, quando o grupo ainda atendia por Sabadá e já chamava a atenção pelos grooves solapados de baixo e pela guitarra que rockeava para caminhos desconhecidos a partir de inspirações setentistas. O vocal agudo do convidado Linari (La Carne) trazia a urgência e a convocação aos versos cínicos, fosse na ponte que diz que aqui “só tem índio” ou no refrão que prometia que “quem matar mais americano, mais medalha no peito”.
Essa faixa ganhou produção mais pesada e o sax dissonante de Paulinho Branco e abre o CD no susto, seguindo sem descanso até o último suspiro do sax. “Avon”, dedicada ao controverso avô dos irmãos Zubek, prova que música não é só profissionalismo – ela ainda requer grande dose de entrega e abandono, sem que isso signifique auto-destruição. Só ouvindo para entender como os versos “não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue / e procura o fim / sozinha” perdem a aura ingênua para virar declaração de vida sem qualquer afetação. A guitarra contribui muito para tanto, mas o xeque está no vocal, que ainda entoa o precioso verso “ainda ouço o teu sorriso”.
Versos mais densos estão em “Frases, Fases e Tempestades”, uma canção cortante, conduzida com menos urgência mas sem significar descanso. “São os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / Ontem eu vi alguém que se ama / Isso é raro e já não toca mais”. Internet, pressões profissionais, ditadura estética, a TV exercendo a função de canção de ninar adulta, a rotina para pagar as contas e a diversão para esquecer das dívidas, ansiolíticos e pílulas para todos os males, até os que não são maus; tudo isso levando o Homem numa enxurrada e fazendo-o soterrar-se na nulidade de sua própria rotina.
“F de Todos Nõs” traz mais um La Carne, agora Jorge Jordão, para correr com sua guitarra sobre tudo enquanto a independência social declarada pelo crime, representado por Fernandinho Beira-Mar, ganha ares de vingança contra a sociedade que exclui os que nasceram do lado errado da calçada. “Sabadá” era para ser canção-tema dos primórdios, mas é um hard-rock que passa batido frente aos quatro outro monolitos saltenhos que já te envolveram.
Só isso. Só cinco faixas. No máximo, pode-se dizer que algo está iniciando aí. Não dá para fazer apostas, porque esse que escreve é um homem cujos dias sempre ameaçam engolir as idéias, e quase conseguem. Porém, há vezes em que esses dias encontram barreiras da mediocridade e permitem ao Homem que respira erraticamente lá dentro sair da toca e tentar construir algo. Isso vem da frugalidade imprevisível do momento e à imponderável combinação de circunstâncias e emoções.
Vem do tipo de música que fala à inspiração.

4 Comments:

Blogger fernando lalli said...

Pra ser sincero, gostei bem mais do Folhetim Urbano do que todas as 7 apostas para 2007 do S&Y.

Não consigo aplicar outro adjetivo a esse disco senão "simpático". Por algum motivo que eu ainda não descobri, ele me passa a mesma bonança de ouvir o Unicerebraiz [?]. Vai entender!

[Ah, sim: dia 10/03 estarei num casamento, ao invés de Curitiba. Bata a cabeça por mim!]

5:41 PM

 
Anonymous Anonymous said...

sem dúvida Léo, realmente esse texto tem muito mais a tua cara, agora dá pra sentir o sangue correndo! Te respeito muito por isso, (sinceridade, saca!?) Obrigado por se manter fiel ao que sente, o mundo agradece!

3:00 AM

 
Anonymous Anonymous said...

sem dúvida Léo, realmente esse texto tem muito mais a tua cara, agora dá pra sentir o sangue correndo! Te respeito muito por isso, (sinceridade, saca!?) Obrigado por se manter fiel ao que sente, o mundo agradece!

3:00 AM

 
Blogger André said...

caracu na liberdade hein?

1:04 PM

 

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