Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, April 03, 2007

Cascadura

A primeira vez que eu tive contato com o Cascadura foi no Rock de Inverno VI, em 2005, eu almoçando com os caras do La Carne (e o Carlinho confundindo bisteca de porco com filé de frango, para a ira do Jorge) e o Ivan Santos na outra mesa com eles. À noite veio o show e eu, entristecido por ter encarado o festival com muito menos púbico que eu esperava (fiquei com raiva dos curitibanos, por terem tanta música boa à disposição em lugares tão legais, e ainda assim desprezá-los como os cuzões que são) e cansado pela farra que tinha sido o show do Góticos 4 Fun, não dei muita bola pro show dos baianos. Na hora me pareceu muito “70”, no lado não muito criativo da coisa. Eu estava em outra parada, pessoal e musical. Em resumo, me faltou o tal “contexto”.
Mas aí veio 2006 e gente muito confiável me recomendava a audição de Bogary, terceiro disco dos caras que saíra encartado na outracoisa, pior revista de música do Brasil. Como esses que recomendavam eram pessoas do meu mais alto apreço e como a “imprensa especializada” (tanto a “alternativa” como a “oficial”) não pagasse muito pau pra eles, a curiosidade ficou aguçada, até que, com uns meses de atraso, a revista chegou à “banca do Magazine Luiza” (uma banquinha de esquina que tem os melhores gibis e pocket books de Foz) e eu, que até então não havia comprado nenhum disco nacional no ano, decidi investir o valor de uma hora/aula no CD.
Foi o primeiro – e único – disco de rock brasileiro que comprei em 2006. Não precisava de outro. Puta disco bom, um disco de rock, rock mesmo, guitarras decentes, lap steel, cozinha entrosada e fazendo mais que segurar bases. A seqüência “12 de Outubro”, “Elnora” e “O Centro do Universo” rodou tanto no meu player que poderia ter facilmente me cansado. Ao contrário, só me viciou mais. E eu pensando, “pô, como esses caras melhoraram!”.
Até que no começo desse ano encontrei o álbum anterior, Vivendo em Grande Estilo, baratinho na Sensorial Discos, São Paulo. Movido pelo vício causado por Bogary, não titubeei. E agora o pensamento é outro: “pô, como eu devia estar xarope naqueles dias”. Vivendo... é tão bom ou até mesmo melhor que Bogary. Tem uma inspiração setentista, sim, uma coisa meio Lynyrd Skynyrd, mas é uma inspiração, e não uma chupação. Órgão e percussão trazem detalhes importantes, mas é a dinâmica da banda que impressiona, além do talento inegável de Fabio Cascadura como compositor. Coisas como “Queda Livre”, “Wendy” e “Gigante” entram praquele hit parade pessoal e vão marcar viagens, lembranças, bebedeiras, reflexões, momentos carinhosos, solidão e tudo mais que importa e faz parte da vida. As canções rocker são ainda mais roqueiras. A preocupação pop é natural. Discão.
Aí vem sempre aquele pensamento já clichê: como é que um som desses é off media? É pop, é pesado, é marcante. Sei que esses termos já foram aplicados à bandas medíocres ou mesmo bandas razoáveis mas ainda muito cruas, mas dou a cara pra bater. É o tipo de som que deveria fazer os moleques de quinze anos quererem aprender a tocar violão para interpretar essas canções. As baladas fazem meninhas, moçoilos e velhos precoces a se fechar no quarto e curtir o som sozinhos. O que acontece, então, que ninguém dá a devida trela a esses caras?
A “imprensa” não fala porque é um disco que saiu na outracoisa, e não vão fazer propaganda gratuita. OK, isso é business. Indies não gostam de rock (já viu indie gostar de Led, Who ou Skynyrd? E não venha me dizer que eles gostam de Neil Young, que eles estão mentindo). Mas e os donos da coisa? Os caras que põem o Moptop em evidência, por que eles não colocariam “Mesmo Eu Estando do Outro Lado” nas FMs?
A resposta, vinda de FONTES FIDEDIGNAS, é: porque os caras são feios. É. E porque o vocalista, além de não fazer social com as “pessoas certas” (e eu, ingênuo, pensando que só fábricas e universidades tinham esse esqueminha...), é negro. “Quem é que quer uma banda de rock com um preto no vocal, ainda mais com os outros caras sendo feios?”, foi o que disse um desses letrados homens de negócio. Aí você vê quem esteve nas capas da Rolling Stone brazuca, assiste aos comentários dos jurados e dos espectadores de Ídolos e dá uma passeada por um colégio de classe média, e começa a entender que o tal businessman tá certo. O que tá errado é todo o resto.


Os caras são esses. Puta banda, mas...



...mas pela "lógica", deviam vir numa embalagem dessas.

COMO FAZER AMIGOS E INFLUENCIAR PESSOAS (POLÍTICA)

(de Roger Rocha Moreira, consta do disco "Ó!", do Ultraje a Rigor)

Eu não gosto nada disso
mas eu deveria dedicar um certo tempo
prá sair com o pessoal da gravadora
já tenho namorada mas talvez fôsse melhor
se eu namorasse com uma das divulgadoras
talvez mudar prá perto do escritório
só prá ouvir o falatório e controlar minha carreira
tenho que ir na rádio e na TV e falar bem de todo mundo
prá não ir prá geladeira (ô ô ô)

Política é assim
Política
Política (ô ô)
prá você e prá mim

Deve ter alguma coisa errada, não é possível
que a gente tenha que viver assim
eu não acho bom ter que viver lustrando o ego de alguém
só prá esse alguém gostar de mim
precisamos um do outro mas não é desse jeito
que a gente tem que se relacionar
viciados em levar vantagem não podemos
ser alguém em quem se possa confiar (ô ô ô)

Política é assim

Política (ô ô)

prá você e prá mim


Mas se você acha que é legal viver fingindo
prá ninguém poder falar mal de vocês
e você não pode se mostrar então você
não é ninguém que valha a pena conhecer
você se dá bem com todo mundo mas não é nada
tão profundo como ter uma amizade
distribui abraços e sorrisos mas não vai
poder sentir o que é um abraço de verdade (ô ô ô)

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

pois é. eu sabia que se você tivesse oportunidade de conhecer melhor, ia mudar de idéia sobre o Cascadura. e o "Vivendo em grande estilo", pra mim, já é clássico. As melhores canções estradeiras do rock contemporâneo brasileiro. pena que, como dizia o Robertão, vivemos em um tempo em que "todos estão surdos". abraço.

11:16 AM

 
Anonymous Anonymous said...

pow cara, ce tem razão, esses dois discos são incríveis, Cascadura é a melhor banda que já me apareceu nos ultimos tempos... na minha coleção, Vivendo em Grande Estilo eu viciei, e o Bogary é perfeito...
Desconsolado eu não paro de cantarolar, num dá pra entender msm como a banda não é sucesso nacional...

5:44 AM

 

Post a Comment

<< Home