Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Thursday, May 17, 2007

Sobre livros, com um tanto de mau humor deslocado

Existem livros que você lê uma vez, gosta, e eles ficam na memória como uma excelente referência, mas na verdade você dificilmente voltará a se sentar para dedicar algumas horas às suas páginas. E há aqueles livros, talvez nem tão bons assim, que se tornam um misto de clássicos pessoais e referência constante, por serem livros que projetam seus sonhos ou refletem emoções, percepções e sentimentos. São poucos, os livros assim.
Eu tenho meus três ou quatro livros que estão nessa categoria, mas nesses dias me aferrei a dois deles: Vozes no Deserto (Georges Bourdoukan) e Atire no Dramaturgo (Mário Bortolotto). Um porque eu estou realmente sem dinheiro para comprar livros (“sem dinheiro” não é força de expressão dessa vez) e o ato de reler é mais que recomendável para ocupar uma mente que de vazia não tem nada – mas nem por isso está habitada por coisas exclusivamente produtivas ou benéficas. Outro porque a fase atual mistura enfado, mau humor, uma cota de desilusão em meio a outra de esperança (em proporções sempre alternáveis); mudanças, (ausência de) expectativas, teatro do absurdo feito real. E claro, melodrama, porque senão não seria eu. E de alguma forma, o humor ferino (e algo feroz) do Bortolotto servem como um contraponto para as percepções agudas do Bourdoukan. São livros que já me serviram de norte, uma espécie de bússola/bíblia pessoal, e claro que quando exerciam (involuntariamente) esse papel, acabavam sendo obras que traíam seus propósitos. Mas os exageros trazem medidas mais sábias, e hoje aprecio esses livros sem o caráter de “livro das revelações” de outrora (uma coisa de católico enrustido).
E no Atire no Dramaturgo, eu vejo uma coisa em especial: a tendência em se isolar, ou pelo menos, de escolher melhor as companhias. Digo sempre para meus alunos: você não escolhe família nem colegas de trabalho, mas pelo menos escolhe quem vai entrar na sua casa. A lista de entrada para a minha casa está cada vez mais restrita – o mesmo valendo para a mesa do bar (onde vou com cada vez menor freqüência) ou até eventuais caronas. Prefiro um passeio de ônibus ou mesmo a pé a dividir o exíguo espaço automobilístico com certas pessoas. É que você vai percebendo que seu fígado tem um limite, e chega uma hora em que as companhias erradas estouram esse limite num nível mais perigoso que o excesso de álcool.
Também não consigo mais fingir simpatia por ex-supostos amigos, nem gastar preocupações por quem não se dá ao trabalho de preocupar-se consigo próprio. Simplesmente saio de perto dessas pessoas – e se não me pedirem satisfações, não sou eu quem vou gastar energia dando-as gratuitamente.
Quando eu conseguir a isenção total desse povo, ou pelo menos atingir a suprema indiferença, meu fígado e meu estômago (mais judiados ultimamente que o de um bebum que só se alimenta de fast food) agradecerão comovidos e aliviados. Por enquanto, a leitura do Atire no Dramaturgo para me lembrar que tem hora que o saco estoura. E aí sobra pra todo mundo.

2 Comments:

Blogger Túlio said...

pois é, já diria o NAZI "foi assim que me tornei essa pequena ilha, cercada por concreto e inundada por ondas de paixao"

8:58 AM

 
Blogger Túlio said...

PS: tenho o raro e o cortamambo em MP3, muito bons mesmo. Os caras sao tipo os Titãs do Uruguai, só que cada vez com mais sucesso.

9:40 AM

 

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