Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Thursday, July 12, 2007

Versos roubados de algum livro apócrifo

E se não existir Céu nem inferno, amigo? Você já pensou nisso? Nem reencarnação, nem nirvana, nem nenhum tipo de pós-vida ou benesse transcendental. A vida é aqui e acabou, sem Deus para livrar tua cara e te perdoar, sem Cristo para redimir teus pecados, sem outras vidas desmemoriadas para pagar os karmas dessa, sem novas existências em vacas, peixes ou plantas; só o pó e as cinzas, e mais nada reservado para você.
Você pode até ter pensado naquela frase sempre lembrada por quem não leu Os Irmãos Karamazov: "se Deus não existe, então tudo é permitdo". Eu já penso por outro lado. Se Ele não existe, aí é que a responsa aumenta. Porque se somos todos um monte de tecidos e fluidos que vieram para esse planeta com a capacidade de sentir alguma coisa, aí então é que fodeu mesmo. Não vai ter segunda sessão. A vida é uma só. Então, ele não pode ser tão inútil e vagabunda assim.
Ela não pode ficar resumida a meia dúzia de compras no cartão de crédito e viagens registradas na sua câmera digital último tipo. Ela não pode ficar resumida a uma trepada bem dada numa noite de quinta-feira ou numa vida de com a mesma pessoa, vendo a mesma novela, só com atores diferentes. Não tem como ela ser um emprego onde você tem um cargo pomposo, um vice-troço de sub-bosta qualquer, nem como ser um sorridente atendente de uma cadeia de fast food aspirando ao cargo de gerente de limpeza, por um salário trinta reais maior. Não pode ficar presa ao seu martírio religioso nem à sua fodeção charliebrowniana disfarçada de marginália literária. Não, cara, não tem como ser assim.
Na verdade, não dá para saber como tem que ser. Somos a geração que tem acesso a tudo e não sabe de nada. Mas aí, você lembra que um dia você leu um camarada mezzo gente boa, mezzo atormentado, chamado Saulo, escrever assim: "quando eu era criança, pensava como criança, agia como criança, sentia como criança. Agora sou adulto e abandonei as coisas de crianças. Hoje vemos como em espelho e de maneira confusa. Mas um dia veremos como realmente é". Só que acabamos sendo crianças por tempo demais, crianças mimadas, adolescentes com brinquedos caros. Alguns de nós nem tiveram a chance de ser drianças. E a todas essas, essa frase na cabeça, trazendo a pergunta: "e quando vai chegar esse dia, em que veremos como realmente é?".
Olha, o único jeito de responder a essa questão é com algumas daquelas coisas religiosas do começo do texto. Até espero - e mesmo chego a acreditar - que elas existam. Aí será tudo mais fácil no final. Mas como eu não estou disposto a colocar a mão no fogo por isso, estou seguindo aí para ver como realmente é, e não tem emprego nem festa nem tédio nem tesão no mundo que vão me mostrar isso.
O texto termina com reticências, que ninguém preencherá por mim.

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4 Comments:

Blogger jamagonça said...

Grande texto!!!!!!!!!!!!!

6:58 AM

 
Blogger jamagonça said...

Olha só, amigo Leo. Não resisti e postei teu texto no meu blog. Não se preocupe que lhe dei o devido crédito. Assim, dê uma passada lá. Se não gostar do que fiz, pode xingar à vontade.
Grande abraço.
www.tudovintageounao.blogspot.com

7:05 AM

 
Blogger André said...

às vezes minha dúvida nem é tão grande assim, mas ela sempre anda em círculos: viver numa eterna dúvida é melhor ou pior?

1:07 PM

 
Anonymous Anonymous said...

daí Leo. olha só que legal! http://www.compactorec.blogspot.com abraço

7:38 AM

 

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