Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, October 31, 2006

Sobre a "nossa" MTV

Muito recentemente, andei zapeando pela MTV. Nem tenho TV em casa, mas na casa da namorada, que nem TV a cabo tem, pega. E...
Uns dias atrás, o
André escreveu que a MTV nunca se propôs a ser um veículo alternativo, como faziam sugerir seus dois primeiros anos no Brasil. Ela é, desde seu início, um veículo que se propõe a ser massivo. Seu público alvo nunca foi o indie empedernido ou a pessoa ávida por boa música. Ela é uma vitrine de coisas populares, no meio das quais, com alguma paciência, podem ser encontradas coisas boas. Tampouco ela é um canal musical, apesar do nome. Ela é voltada ao público jovem, e para esse público, a música pop (que dizer o rock’n’roll) é apenas um acessório a ser consumido em seus microcomputadores, ou no caso dos mais abastados, iPods. Uma entidade sem muita importância que fornece letras insossas para serem citadas nos perfis e álbuns de fotos do orkut dessa juventude “impessoalizada”.
Ainda assim, todas essas premissas não desobrigam a emissora de ter o básico: apresentadores bem preparados, que conheçam parte da matéria-prima original do canal (a música pop, oras) e que sejam mínimamente competentes, além de uma certa coerência em sua programação.
Pois bem. Eis que estou assistindo um programinha qualquer na hora do almoço, cujo nome nçao me recordo, apresentado por uma VJ tão bonitinha quanto insossa, uma certa Luisa (eles continuam com aversão a sobrenomes, pelo visto). Ela entrevistava o anedótico Martin Algar, vulgo Olga, vocalista e guitarrista dos lendários Toy Dolls. Foi uma grata surpresa: eu não sabia que os Dolls ainda existiam, menos ainda que estavam tocando no Brasil. Assim como foi surpreendente ver o quanto Olga continua jovial, apesar dos anos de turnês intermináveis, bebedeira e cheiração. Porém foi decepcionante ver que a apresentadora não tinha a menor noção de quem ele era. E quando ele citou o Cólera em resposta à original pergunta “quais bandas brasileiras você conhece” (tá, até eu já perguntei isso a uns artistas. Mea culpa), deu para perceber que ela sequer desconfia que banda é essa. Pô, é sobre música a entrevista! E a menina não conhecia Toy Dolls e Cólera. Ainda fosse, sei lá, Eddie And The Hot Rods e Pupilas Dilatadas, vai lá. Mas as bandas em questão são mínimos denominadores comuns do punk. Os Dolls foram tão fundamentais para a adolescência de alguns brazucas quanto os Ramones. E a banda de Redson é sinônimo de punk brasileiro na Europa. Luisa, perdidaça na entrevista, só conseguia pôr o Olga para jogar um joguinho on-line inútil e parecia querer forçar um conhecimento de causa que francamente não existia.
Outro dia desses, estava vendo o tal Lab, que passa logo de manhã (07h30, acho), e vem uma seqüência com Caetano Veloso, Dave Matthews Band e REM, para o bloco seguinte trazer Negra Li. Tudo bem, a proposta do programa é não ter um estilo musical fixo. Mas seqüência conta alguma coisa em música. Não dá para você ouvir Anthrax e, logo em seguida, Curtis Mayfield, mesmo que os dois sejam muito legais. O ouvinte não migrou seu estado de espírito de uma coisa para outra. Como ir em um festival e ver o show da Tati Quebra-Barraco antes do New Order (o que vai acontecer no Personal Fest, agora em novembro na Argentina). É inviável. Mas não no Lab, é claro. Pode até ser que role exatamente isso no programa.
Só que a MTV não é causa de nada. É sintoma. Vejo que, a cada ano, a música passa a representar mais um item fashion do que uma forma de expressão artística e emocional para os adolescentes. E a adolescência é a fase onde música costuma ser tudo: diversão, religião, fé, paixão, ódio, distração, razão de viver. Hoje em dia, mal parece ser distração. É algo que está no ar e pronto. Passa com a velocidade das conexões banda larga e desaparece como um arquivo velho deletado. Tem tanta importância quanto o último filme do Adam Sandler. Claro que isso não deveria me assustar num mundo onde Armandinho é ídolo maior e incontestável. Mas assusta.

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