Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, July 16, 2007

Filmes, livros e afins, todos conferidos recentemente. Vamos lá:

O JOGADOR MISTERIOSO (The Card Player)

Dario Argento tem uns traços em sua obra que parecem ser indeléveis: a mistura de misoginia com adoração excessiva pela figura feminina (em especial mulheres jovens, belas e emocionalmente abaladas), violência com armas brancas e demais objetos perfurantes, ruas escuras, ambientes claustrofóbicos, bondage precedendo a morte, homens heróicos que tem sua dignidade punida com assassinato, desejo enquanto obsessão e loucura; e no centro disso tudo, uma mulher com traumas familiares e dificuldade em ter relações sexuais. O Jogador Misterioso tem isso tudo, com menos sangue e violência gráfica que o habitual, mas com direito a uma mini-autópsia. Às vezes acho ele um ótimo diretor que faz filmes confusos; em outros casos, um pervertido que faz filmes interessantes. Esse em questão tá no meio termo entre os dois. Estranho.

FLORES PARTIDAS (Broken Flowers)

Dizem que esse é o filme mais comercial e acessível de Jim Jarmusch. Como dele eu só vi Estranhos no Paraíso e Dead Man, não posso opinar com propriedade, mas não vi maiores concessões que a cor ou alguns nomes famosos no elenco (excepcional, aliás). É um grande filme: poético, estradeiro e muito, muito bonito, ainda que com um travo de amargura. A história do Don Juan que nunca se viu como tal e só vê tédio em sua tranqüilidade (e vice-versa) sai numa busca (induzida, sim, mas também escolhida por ele mesmo) pela mãe de seu hipotético filho. Os cinco (sim, cinco! Reveja o filme e conte direito) encontros não trazem o passado de volta - coisa que ele, Don (Bill Murray), nem queria. Mas isso não quer dizer que ele ficou para trás. De comover o coração e (acima de tudo) a mente.
Observação: apesar do notável elenco feminino e da atuação impressionante de Murray, quem rouba a cena é o carismático Jeffrey Wright, no papel do vizinho de Don. E é ele quem fornece a trilha do fimle, um aplastante jazz etíope temperado com algumas soul songs. Alguém tem essa pérola para eu gravar?

QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO (Fantastic Four 2 – The Rise Of The Silver Surfer)

Sempre vi o Quarteto como personagens de segunda (aliás, terceira) categoria, cuja fama se deve mais à tradição (ter sido uma das primeiras criações da Marvel) do que à qualidade de suas histórias ou ao carisma de seus personagens. Assim, passo longe de ser o típico fanboy e consigo me divertir bastante com as duas tranqueiras que são os filmes da série. Claro, as atuações são horríveis, os diálogos pueris (mas vá lá, eu ri um monte) e os efeitos especiais desperdiçados na “dancinha do Reed Richards” poderiam ser melhor gastos aprimorando o Galactus. Pra não falar no Dr. Destino, corno de novela mexicana transformado em supervilão. Mas e daí? Estamos falando da equipe de super-heróis que dá mais margens para brincadeiras escatológicas – ou vai dizer que você nunca parou para imaginar como seria uma transa do Sr. Fantástico, aquele que estica todas as partes do corpo, com a Mulher Invisível? E olha que eu nem citei o Coisa (aliás, beeeelos nomes, hein?), um gigante de pedra alaranjada. A ação demora séculos para acontecer, porém quando chega, é aquela seqüência de ação digna de empolgar o adolescente nerd dentro de cada um. Tudo como um grande hambúrger – zero de valor nutritivo, muito espalhafato e nada que fique na memória, Mas na hora, cai que é uma maravilha.


APOCALYPTO

Mel Gibson gosta de sangue, sofrimento e crueldade. Adora mostrar gente inocente sofrendo, com detalhes para o sangue, mutilação e humilhações, com especial destaque para a garganta de um ente querido sendo cortada ou para alguém sendo torturado em posições de sacrifício ritual. Depois dizem que eu é que sou bizarro e fetichista...
Apocalypto traz a mesma coisa que você já viu em Coração Valente e A Paixão de Cristo, só que sem a empolgação do primeiro ou a polêmica do segundo. Simplesmente não há história, é quase um O Albergue passado na civilização maia: gente inocente sendo mutilada sem razão nenhuma, e depois sendo vingada por um “herói” com ainda mais requintes de crueldade. Nada de se espantar para quem colocou um corvo comendo os olhos do ladrão que zombou de Jesus (só faltou mostrar Judas sendo empalado com um ferro em brasa).

Já pensou o que a mulher desse cara deve agüentar na cama?

E se não ficou suficientemente claro: o filme é apelativo, com roteiro cheio de buracos e cansativo pacas. Fora que deve ter gerado um impacto ambiental irreparável. Merda superproduzida e pretensiosa não deixa de ser merda.

A CABEÇA – Luiz Vilela

Se eu não chamei Luiz Vilela de “gênio” umas postagens atrás, foi apenas porque a palavra anda desgastada pelo mau uso – e também porque eu ainda não tinha material o suficiente para analisar isso. Esse A Cabeça veio para confirmar a impressão que Histórias de família tinha deixado: uma prosa seca e curta, tão centrada em diálogos tão bem-conduzidos que não dá para entender como ninguém adaptou algum dos dez contos desse livro para o teatro (fica a dica). Minas Gerais é um palco onde o mundo explode em tabus, violência, dogmas vazios e escatologia, tudo isso sem a avalanche limítrofe de “merda”, “porra” e “cacete” que uns e outros gastam por aí. Quando ele quer ser sensual, ele vai cutucar na tua pedofilia não-assumida (“somos todos meio pedófilos, mas quem vai dizer?”, sentenciou uma amiga uma vez), por exemplo. Quando há violência, ela aparece na tensão de um moreno bonachão papeando numa mesa de bar do interior de Minas Gerais, torturando a consciência do cara que o sacaneou – sacaneou mesmo? Freiras em férias, uma querendo dar, a outra querendo ver e a terceira rezando por elas... todas no fim, só pensando nos bolinhos de bacalhau do retiro para onde deverão ir. Podia continuar listando os “causos”, mas o recado está dado: A Cabeça é um livro que se lê de uma “sentada” só (em uma hora dei conta do bicho), mas o qual se relê (física e mentalmente) muitas e muitas vezes...

SÉRIE GARFIELD L&PM POCKET – Jim Davis

São sete volumes e eu tenho todos. Faz pouco tempo, comprei o 6 e o 7, que são os melhores até agora, junto com o primeirão. Pegam fases mais antigas do gato mais famoso do mundo, com o cinismo ainda em dia (se bem que não perdeu a validade), o apetite mais voraz, as banhas mais disformes, a preguiça mais indolente, etc. Ah, claro, e um Odie mais babão e um Jon mais panaca. Eu acho Garfield um ícone dos tempos modernos e deixo esses livrinhos expostos com certo destaque na prateleira porque, na real, são um dos meus itens preferidos de meu humilde acervo. E estou disposto a adquirir quantos mais volumes vierem!

LIGA DA JUSTIÇA – Keith Giffen

Quem tá perto dos 30 e tinha o saudável e dispendioso hábito de ler quadrinhos na adolescência, certamente tem as melhores lembranças da Liga da Justiça escrita pelo Keith Giffen. Por várias razões editoriais que não cabem aqui, o cara teve que trabalhar com personagens bisonhos como Besouro Azul, Gladiador Dourado e Homem Elástico. Aí ele e seu parceiro J. M. de Matteis fizeram a única coisa possível: escracharam as tramas e as atitudes dos ditos “heróis”, fazendo uma série mais de comédia que de ação, onde o humor absurdo de Giffen era completado pelos diálogos prolixos e cheios de ironias e jargões de De Matteis (já que Giffen escrevia apenas os roteiros, deixando os diálogos para seus colaboradores). Quando entravam os ditos heróis “consagrados” (Batman, Aquaman e afins), a coisa toda ficava ainda mais divertida, ao contrapor a suposta “seriedade” desses personagens jurássicos com as palhaçadas da nova equipe.
Achei uns números da antiga revista Liga da Justiça bem baratinhos num sebo daqui de Foz e comprei uns números de diferentes fases. Ficou claro que, com De Matteis e o desenhista Kevin Maguire, Giffen teve seus melhores momentos, com mais criatividade e menos repetições de piadas e situações – coisas que passaram acontecer com outros parceiros que ele teve. Pena que os quadrinhos mainstream não comportem mais esse tipo de “ousadia”, que garantia, na mais remota hipótese, boas risadas. Agora é um tal de matar e reviver personagem...

A MORTE DE IVAN ILITCH – Leon Tolstoi

O conde Leon Tolstoi é considerado um dos maiores nomes da literatura de todos os tempo, autor de obras tidas como imortais, como Anna Karenina e Guerra e Paz. O curioso é que, no fim da vida, ele passou a renegar esses todos os seus demais trabalhos anteriores, centrando foco nos seus últimos escritos, entre eles, este A Morte de Ivan Ilitch, “o mais conciso e mais poderoso conto de todos os tempos, a melhor narrativca já escrita”, segundo alguns críticos. Desconheço os clássicos citados, mas sobre o livro em questão, tenho uma forte tendência a acreditar nos críticos. Em menos de 100 páginas de um livro de bolso, testemunhamos a agonia dos últimos dias de um burocrata e sua mediocridade próspera desde a infância. Dizer que o livro critica a hipocrisia das instituições ou o vazio da vida burguesa é limitar a análise à discurso de calouros de faculdade xarope. Digamos que, mesmo antes de terminá-lo, ele incomoda. E incomoda. E incomoda...
E segue incomodando e questionando até agora.

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1 Comments:

Blogger André said...

Poxa, gosto bastante de APOCALYPTO. Principalmente da segunda metade pra frente, no qual ele vira um FIRST BLOOD descarado. Me diverti a valer.

Sobre o BROKEN FLOWERS, quem fez a trilha é o Mulato Astatke. Corre atrás que é bom pra caraio.

9:31 AM

 

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