Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, October 01, 2007

Deus abençoe Cheri Caffaro!

Um camarada precisa ser muito freak para saber quem é a Cheri Caffaro, mais ainda para admirá-la. Pois é, eu sei e admiro. Cheri foi atriz nos anos 70, a época em que os filmes que exploravam temas “polêmicos” se assumiam como mera exploração comercial (ao contrário de hoje, onde eles se mascaram sob uma aura de “filme de arte”, gerando merdas como Irreversível e Nove Canções). Eram os tempos do blaxploitation, gorexploitation, sexploitation e outros. A Sra. Caffaro honrava esse lado sexual, abusando nas cargas de permissividade, bondage, maquiagem e putice descarada. Enfim, um modelo de mulher!


Na série filmíca Ginger, ela teve seu auge (!), vivendo a espiã que se via nua, amarrada, amordaçada e abusada a cada dez minutos de película. Nos outros dez, ela não estava imobilizada, mas dava de bom grado e com muita vontade. Ou então chutava o saco de algum capanga de um chefão do crime, todos – o chefão e seus asseclas – caricaturas do “macho asqueroso”, seres prepotentes e que abusam da força física, mas que não passam de macacos que podem ser facilmente “adestrados” por mulheres – naturalmente mais capacitadas que eles. Com isso, Caffaro e seu marido Don Schain – que dirigiu todos os seus filmes e adorava filmar a mulher pagando de puta – ganharam a ira das feministas, que viam na personagem uma espécie de glorificação da mulher que só tem poder através do sexo. Bom, se fosse essa a intenção do casal, não estariam de todo errados – basta ver o caso Renan Calheiros / Mônica Velloso para comprovar o pussy power, só para ficar em um modelo óbvio e atual. Mas nem era isso, a intenção era chegar a uma espécie de girl power mais liberal e safadinho. Sei lá se surtiu efeito (a julgar pela geração de mal-comidas e reprimidas, não), mas que foi divertido para eles e para vários espectadores, ah, isso foi!


Graças à internet, seus filmes passaram de raridades disputadas em sebos para arquivos facilmente disponíveis em eMules e bitTorrents da vida. E foi graças a eles que eu consegui ver os três filmes da série: Ginger (1971), The Abductors (1972, o único que tenho comigo ainda) e Girls Are For Loving (1973). As tramas não passam de pretexto para a putaria, como convinha à época. Ainda assim, The Abductors se destaca por ter mais nudez (inclusive masculina, numa cena pra lá de constrangedora), mais fetiche, mais violência mal-coreografada e mais explosões. Dá pra ver que Don ganhou grana com o primeiro e se empolgou, gastando no segundo e no terceiro uma verba bem maior em efeitos especiais e chamando coadjuvantes mais gostosas (entre elas, Jeramie Rain, a meliante de Last House On The Left e futura senhora Richard Dreyfuss, e a lindíssima Laurie Rose). Em Girls..., dava pra ver que ele já estava cansado da própria fórmula e, talvez por isso, talvez por ceder à pressão dos “grupos de defesa das minorias”, tenha feito A Place Called Today em 1972, um filme pesado, sem nada do humor e desencanção que guiaram sua "trilogia', abandonando de vez as espiãs taradas e entrando na questão racial, com direito a ódio, estupro e agressão filmados em detalhes. Esse não vi inteiro, somente trechos, mas foi o suficiente para desanimar.

Depois disso, não se ouviu mais falar de Cheri (atuou em mais uns três sexploitation flicks e sumiu), e Don foi trabalhar de produtor de TV, chegando ao ponto de ser um dos responsáveis por High School Musical (!). E nunca mais se viram filmes mainstream assumindo às claras seus fetiches e pirações com senso de humor e espontaneidade (ah, e foi tudo na era pré-silicone!). Triste fim para uma parceria gloriosa, que celebrava com alegria adolescente o sex power, tanto do ponto de vista feminino como do masculino. Por isso, Cheri é minha heroína secreta, por ter tido a coragem de encarnar esse espírito de “autonomia putanheira” com tanto... afinco.
Nessa onda de remakes, estou certo de que ninguém vai refilmar nenhum filme da série Ginger – tempos sombrios e sem humor esses, em que Borat é considerado a melhor comédia do ano e até Dukes of Hazzard ganha releitura (o próximo deve ser Chips, com dois zes-manés bonitinhos fazendo Baker e Ponchiarello). Azar. A internet garantiu a eternidade para Cheri. Amém.



Como é que o Fausto Fawcett não fez música pra essa loira?

Labels: , , ,

1 Comments:

Blogger André said...

seu... pervertido!

8:38 AM

 

Post a Comment

<< Home