Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, October 15, 2007

Tão perto e tão longe

Não há maquiagem que embeleze quem acordou às quatro da manhã. E cercado de várias pessoas que tentavam ocultar sua feiúra de desgasta natural, aportei em Curitiba, feliz e ao lado da namorada, para passar quatro dias que eu classifico como “inesquecíveis” com a plena certeza de não estar recorrendo a um mero clichê literário.

Foi a primeira vez em que cheguei e saí de Curitiba em boas condições (estava triste demais, ou perdido demais, ou chato demais nas ocasiões anteriores), talvez por mim, talvez pela companhia da minha namorada, mais provavelmente por nós dois e todo mundo que nos acompanhou e acolheu nesses dias.Graças a essas pessoas, nos permitimos “brincar de turistas” pela primeira vez em Curitiba – peguei a afamada “Linha Turística”, ônibus municipal que percorre os atrativos maiores da cidade por uma quantia justa e em boas condições. É uma cidade agradável – certamente não é a Curitiba do Lerner, a tal “cidade-modelo”; nem a “Buenos Aires brasileira” (boa essa, hein?), um recanto europeu no meio de uma fazenda brasileira (OK, o Paraná é uma enorme fazenda, mas de “européia”, Curitiba tem pouco mais que os sobrenomes de seus habitantes e alguns edifícios de arquitetura balcã ou germânica); menos ainda a “Capital Cultural do Brasil”, até porque esses títulos são tão descritivos como “pocilga disfarçada de metrópole”: corresponde só a uma parte da cidade e não revela a complexidade de suas ruas outrora simples, nem da vida que teima em existir entre elas. Digamos que Curitiba não é São Paulo nem Foz do Iguaçu, e isso já me dá motivos para me isentar de julgamentos ao passar por ela recreativamente.

Eu escrevi “recreativamente”? É, os gibis empilhados na sacola jogada ao meu lado enquanto comia iguarias teutônicas no Bosque Alemão (torta de gorgonzola com pêra e biscoitos caseiros de amêndoa para acompanhar) poderiam até sugerir um “recreio”, mas o pátio em que minha alma brincava não era o bosquezinho encenando a delinqüência ludicamente disfarçada de João e Maria*, era algo mais interno, mais profundo, melhor cuidado (pelas mãos da Lidiane e de boas pessoas que por ali passavam) e deliciosamente mais passageiro. Pois lembranças até valem alguma coisa, mas o dia presente vale muito mais, e esse sabor, esse preço, não se igualam às conquistas de concreto e títulos de propriedade.

(*Delinqüentes, sim! Os guris invadem a casa de uma velha, matam-na cozinhando-a viva e depois fogem com sua grana e ainda são saudados pelo pai, claro que é um conto marginal!).

Outros passeios mais, pelo Jardim Botânico (eu sou turista, pô!), pelo Parque Tanguá (um antiga pedreira transformada em mirante aquático, com direito a túnel e outros belos etecéteras), pela Feira da Osório, pelos ótimos sebos (vim com uma carga pequena mas deliciosa de livros & gibis), pelas lojas de roupas e banquinhas de acessórios (a namorada em busca de vestidos & brincos), por livrarias, por ruas, ruas e mais ruas, as ruas que protagonizam os textos de Dalton Trevisan, os poemas do Marcos Prado, os contos de um monte de escritores ruins e as recordações & impressões de gente de todos os tipos. A Curitiba que a Administração Municipal quer que você veja e as outras Curitibas, todas merecendo nosso igual respeito.

=*=

À noite, a charla com nossa anfitriã e amiga Adri Perin quase nos põe em atraso para o show. Ah, eu nem te falei que o pretexto para essa viagem foi o show de comemoração dos dez anos de existência d’OAEOZ, a banda que melhor traduz a sensação de “inadequação pessoal” em música com letras em português. Com a abertura de Gian Ruffato, o garoto violeiro que por anos assinou como Lo-Fi Dreams e agora se assume em sua própria persona frágil, discreta e singelamente brilhante. Você realmente achou que eu ficaria em Foz? Então ou você não me conhece, ou não conhece Foz do Iguaçu.

Mas o show é outra história. Naquele começo de noite, em torno do narguilé, muitas idéias e sentimentos nos fizeram companhia enquanto falávamos sobre essas coisas que realmente importam e que passam rápido. E quem dormia no outro quarto participava do nosso colóquio sem saber, mas ah, como esteve presente!

Claro, chegou a hora do show. Uma hora, as coisas têm que começar, como escrevi no post anterior. E a história desse começo fica pra depois.

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4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

é Leo. sem condições. no palavrs. só fica em paz, amigo. fica bem. cada tombo é um motivo pra recomeçar. abração

4:57 PM

 
Blogger Unknown said...

este eh o meu status de hoje:

marcia paredes concorda com léo vinhas em q lembranças até valem alguma coisa, mas o dia presente vale muito mais.

4:28 AM

 
Blogger Túlio said...

saudade da Capital SOCIAL!

7:36 AM

 
Blogger André said...

Nunca fui de viajar muito, mas Curitiba é a melhor cidade que já estive no Brasil. Adorei o clima e o preço justíssimo da comida e do aluguel. Uma pena que trabalho lá (aí) pra mim é muito complicado, senão desistia de SP de vez.

7:31 PM

 

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