Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Saturday, December 09, 2006

Uma pequena bobagem sobre "identidades culturais"

Nasci em Taubaté, interior de São Paulo, “berço do rock brasileiro”, como costumo dizer, já que a Celly Campello era de lá. Morei em Campos do Jordão e passei um tempo na capital paulista. Hoje moro em Foz do Iguaçu, Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, países que visito com freqüência semanal.
Apesar – ou talvez por causa – disso, não me sinto taubateano, jordanense ou paulistano. Talvez me sinta um pouco “brasileiro”, mas as idas constantes aos países vizinhos me fazem ver que não somos tããão diferentes assim, ainda que não vá me considerar “argentino” porque como empanadas cordobesas bebendo Quilmes e ouvindo rock argento, nem paraguaio porque tenho uma cuia de tererê à mão.
Na verdade, o que eu não entendo é essa necessidade que as pessoas têm de “pertencer” a um lugar, a precisar se identificar com algo que faça referência à geografia onde estão. É claro que isso influencia. Ter nascido no meio de montanhas e rios faz com que muita coisa em mim seja diferente de quem nasceu entre prédios de apartamentos e shoppings. Mas nem por isso vou ter meu caráter definido a partir daí.
Vejo dois discursos retos e planificados tomando dimensões cada vez maiores: o blábláblá insuportável da “globalização” e da “identidade global”, que já se provou inverossímil e mesmo assim encontra perpetuadores; e a insistente afirmação de uma identidade regional ( que é “ser paulistano”, “ser carioca”, “ser curitibano”, etc?). Não consigo compreender a retórica de nenhum dos dois. E não sei me apresentar segundo eles.
Na verdade, isso não tem importância nenhuma e eu raramente penso sobre o assunto. É que, desde que deixei o Estado de São Paulo, percebo o quanto as pessoas – principalmente as ligadas ao “meio cultural” – tem essa coisa de achar São Paulo a quintessência do urbanismo. São Paulo, pra mim, é um caos que pode te trazer muito em termos de vivência pessoal, mas culturalmente, é um reprodutor/pasteurizador de padrões alheios. Salvo raras exceções (a maioria delas fora do grande circuito), São Paulo “vomita” cultura como desfila seus preconceitos: em grande quantidade e sem conteúdo. E as pessoas parecem se orgulhar disso e querer defendê-lo veementemente. Para mim, isso soa muito estranho.

1 Comments:

Blogger André said...

Também não gosto da idéia de "pertencer" a lugar algum. Talvez quando estiver à beira da morte, eu apenas me lembre de onde nasci e de onde estou morrendo. O resto, realmente não importa.

9:18 AM

 

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