Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, November 22, 2006

Mais uma de Márcio Américo

Fiquei um tempão pensando em qual texto do Marcio Américo colocar aqui quando anunciei a entrevista dele no Scream&Yell, e acabei colocando um trecho da dita. Mas fuçando pelo blogue dele, encontrei o texto que segue abaixo. O filho do Márcio, já nomeado Mateus, tá prestes a nascer. E o maluco escreve isso:

A VIDA É BELA?

Não vou dizer nada pro meu filho, mas acho que uma hora ou outra ele vai acabar sacando que esta vida não é um passeio, que ela não foi projetada pra felicidade, isto é uma criação das propagandas de margarina e Molico.
Antes de nascer o sujeito está nas mãos de gens, enzimas, proteínas e outras inas que se derem uma mancada podem fode-lo pro resto da vida. Depois que vem ao mundo, leva uma porção de picadas pelas pernas, bunda e braço a fim de evitar que bactérias, fungos e vírus o levem antes da hora. Claro, entre um sofrimento e outro há o prazer de nadar no liquido amniótico e as primeiras mamadas.
Depois já crescidinho, vai aprender que seu desejo é o seu algoz. Vai ouvir NÃO o dia todo e quando transgredir o “não” vai se fuder, vai levar choque, queimar o dedo, cair da cadeira, cortar-se, ralar-se, será picado por formigas, abelhas, mordido por cachorro, arranhado por gato, queimado por taturana, é tudo que o espera caso ignore o NÃO. Mas caso ele acate todos os NÃOS, sofrerá se tornando um apático sem desejo e sem porra nenhuma.
Ele vai entrar pra escola e possivelmente terá apelidos, será excluído de alguma turma, será desprezado pela garota mais bonita da escola, irá mal em determinada matéria e ele se achará um idiota por isto, ele ainda não sabe o que é talento, o que é inclinação.
Na adolescência vai ter dificuldades de relacionamento, vai achar que eu sou o pior pai do mundo, vai tentar impor suas idéias ainda que não tenha certeza delas, vai entrar em conflito, vai desejar todas as mulheres do mundo e descobrirá que só existe uma, aquela.
Um dia ele vai se casar, descobrirá o que é a vida adulta num país capitalista: filas de banco, cartões, senhas, documentos, chaves, telefones, recados, agendas, datas... seu dia ficará cada vez mais curto.
Um dia ele ficará velho e aí todas as doenças aparecerão de uma vez, se ele conseguiu chegar até lá ileso, a vida não perdoará, ela vai destruí-lo devagar.
Gostaria que ele descobrisse desde cedo que o que vale a pena mesmo são os intervalos, aqueles momentos em que a vida não tá a fim de te destruir nem de te enlouquecer, são momentos pequenos e espero que ele saiba aproveitar: uma janela aberta, soltar pipa, jogar bolinha, ter amigos, escrever o nome da garota no caderno, fazer poemas secretos, tomar um porre, reencontrar amigos, vento, atirar pedras no lago, despedidas em rodoviárias, grandes mesas de bar repleta de amigos, uma janela aberta... a lista é longa, espero que ele tenha tempo.


Márcio Américo Alves

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

esse é o cara.

6:44 PM

 

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