Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, December 11, 2007

Contas a acertar

"O escritor publica seus livros para se livrar deles", Jorge Luis Borges.


Chega uma hora em que você se dá conta que, se morresse agora, não faria sentido tentar acertar algumas contas – pelo menos, é o que me passa agora pela cabeça. Não teria por quê voltar atrás, recapitulando minha vida e tentando encontrar sentido no que se deu, porque o que houve pertence ao passado e ali deve ficar, e depois que eu morrer, esse passado começará a se integrar ao esquecimento até desaparecer por completo.
Somos finitos, falhos e passíveis de arrependimento, e o máximo que isso nos rende é a chance e a vontade de não cometer o mesmo erro novamente. E apenas isso. A vida não tem botão de rewind, e as lembranças são ilusões que escolhemos aceitar para tornar nossas recordações mais palatáveis à nossa índole. Mas o que faz a diferença sempre é, desculpem-me o clichê, aqui e agora. A vida não tem reprises, e nem sempre a primeira sessão foi boa. Mas continuamos indo ao cinema à espera de um bom filme.
E se tudo parasse agora, se amanhã realmente não fosse chegar, não faria sentido telefonar para parentes, amigos, tentar celebrar mais uma vez, porque se não fiz nada disso até agora, não será no último momento que vou conseguir. Também acho tola (e muito humana) essa idéia de procurar acertar animosidades no último minuto, mas se optei por manter distância de alguém, não é a iminência da morte que vai redimir esse erro. Tive a chance de me acertar com meus desafetos, e se não o fiz (e não fiz mesmo, infelizmente), a oportunidade já passou e ficou em nunca mais. Os amores também foram, e contrariando os românticos, posso dizer que não ficaram. Ficam mágoas, recordações e impressões, mas o que foi vivido, morto está.
Nós morreremos, e não gostamos de pensar nisso. Alguns até lidam bem com a idéia da própria morte, mas temem em pensar no falecimento dos outros. A idéia da eternidade, porém, é tão ou mais torturante quanto. O que ficar fazendo quando se tem todo o tempo do mundo? Felizmente, não precisaremos descobrir a resposta para essa pergunta.
Então o tempo se esgota. O meu, esgotado hoje, me deixa com a certeza que vivi de acordo com minhas convicções, o que, honestamente, não é grande coisa. Os homens-bomba, os fanáticos religiosos, os assassinos todos vivem segundo suas convicções, e eu não sou melhor que eles só porque não amarro um cinturão de explosivos em volta do corpo ou rasgo minhas pregas vocais num púlpito. Podemos ser terrivelmente cruéis ou consternadoramente doces, e frequentemente nos confundimos quanto à hora de sê-lo. Mas, de alguma maneira, morrer hoje me deixa apático. Não há o que resolver, não há nada por fazer. Acho que isso me faz bem, de uma forma insidiosa e soberba. O que mostra que até na iminência da morte preservamos nossas características mais chulas.

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