Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, December 04, 2007

A "Nova" mulher

Minha namorada ganhou uma assinatura da Nova, a “revista da mulher moderna” (ou essa seria a Marie Claire?), e eu, interessado que sou no universo feminino (leiam nas entrelinhas, por favor), sempre dou uma fuçada nela. A capa nunca muda, é sempre alguma celebridade de talento duvidoso tentando atender uma imagem de sofisticação, bem-estar e sensualidade simultâneos, então tento me orientar pelo conteúdo para saber de que mês é a edição. Nunca resolve, os assuntos são os mesmos: dicas “infalíveis” para fisgar um homem, novidades da moda da estação, um guia “ar-ra-as-dor” de sacanagens a dois (que de sacana têm muito pouco), recomendações para você subir um cargo na empresa, enfim... tudo para a mulher se tornar um objeto sexual masculino (nem pensar em lesbianismo!) com um mínimo de realização decorrente do sonho capitalista básico (a revista menciona professoras, operárias, enfermeiras ou qualquer outro emprego que seja não-clerical?). Enfim, tudo seguindo o modelo da Cosmopolitan americana, exportada para diversos países segundo o mesmo padrão – as mulheres devem ser todas iguais em todas as culturas, né?
Mas deixemos a patrulhinha de lado, até porque não estou escrevendo outra coisa senão o óbvio. Fiquemos com o encarte especial da edição desse mês: Guia Astrológico 2008, sugestivamente apresentado pelo texto “Uau! Quanta sorte e sucesso em seu destino!”. Claro, uma revista não venderia nada com uma chamada do tipo “você vai se ferrar esse ano”, ou “se prepare, que a bucha não vai ser fácil”. E na capa do encarte propriamente dito, vemos os tópicos abaixo descritos. Os comentários são, obviamente, meus:

“sexo – os dias que prometem abraços escaldantes”
Maravilha, uma nova versão da tabelinha, essa voltada pro desejo! Vou ter que olhar pra lua para saber quando a trepada vai render, e rezar para não ser período fértil.

“sucesso – os desafios e as decisões certas para chegar lá”
“Lá” é precisamente onde todos querem chegar, mas ninguém sabe bem onde é. Só uma coisa: vai ter cargo de chefia suficiente para todas as leitoras que seguirem à risca suas indicações?

“poder – o trunfo que destacará você das outras”
Ah, tá! Então tem um trunfo! Mas... todas vão usar o mesmo? Iiih, não vai dar certo...

“amor – o zodíaco revela se ele é para casar ou..”
Vou correndo ver o que dizem do meu signo! Se for pró-foda, vou perseguir toda mulher que eu ver com a revista nas mãos e sair gritando: “sou de Sagitário! Sou de Sagitário!”.

Enfim, a revista deixa claro sua visão das mulheres: somos todas modernas, loucas para amar e para dar, para fisgar marido, para sermos executivas bem-sucedidas... mas continuamos esperando pelo príncipe encantado, e ainda por cima dependemos dos astros para tomar nossas decisões.

Misoginia e humor rasteiro à parte, cada um acredita no que quer, inclusive nos signos, na moda ou em Papai Noel. Mas daí a afetar uma “independência” quando tu depende do marido para pagar as contas e das estrelas para poder dar uma bem dada, a coisa fica esquisita. Claro que a revista atende a uma caricatura da personagem feminina, da mesma maneira que a Vip atende a uma caricatura masculina – e se tais “desenhos” estão mais que presentes hoje em dia, a culpa é desse argumentista de quinta categoria que é o destino num “mundo globalizado” (me doem os dedos quando escrevo essa expressão). Ficamos todos padronizados, temos que querer o mesmo que todos, no mesmo prazo e do mesmo jeito. A decoração do closet pode até ser diferente, e a prateleira de discos um pouco mais ou um pouco menos cult, mas o lance é ser igual.
Claro, não há nenhum pecado (ou se há, desconheço, porque conheço mais sobre culpa que sobre pecados) em querer ser submissa a um homem de livre espontânea vontade e se sentindo livre só porque usa a maquiagem certa e diz obscenidades na hora de transar. Cada um faz o que quer. Só acho chato – e triste, e irritante – que todos queiram o mesmo. O conceito de “diversidade” hoje parece se referir apenas a penteados e roupas diferentes, já que a essência é comum a todos. E quando se persegue um sonho comprado, ele tem prazo de validade. E quando alguém se apresenta como uma caricatura, não pode reclamar de ser tratada como tal.

Ah, sim! A edição desse mês ainda traz “11 maneiras de dar sentido à sua vida”, matéria apresentada pela foto de sorridentes garotas esguias em roupas sumaríssimas, todas iguaizinhas. Não quis ler essa, nem a título de riso. Pensei em uma de imediato: sacanaear a revista.

Qual o "talento" dessa mulher mesmo? Ah, é, ela deu pro Senna antes de ele morrer...

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6 Comments:

Blogger Túlio said...

hahaha. conte mais do amigo SEXCRETO por favor!

3:49 PM

 
Anonymous Anonymous said...

ô viado, quer dizer que vem pra curitiba e nem me liga. ok. bacana.

9:22 AM

 
Blogger André said...

eu também confundo a Nova com Marie Claire... sei que uma é da mulher moderna nos trinta, e a outra é da mulher moderna beirando a menopausa.

3:57 AM

 
Anonymous Anonymous said...

muito bom o texto cara!

ah, pra vc se divertir:
http://youtube.com/watch?v=8mJgJKGFYwU

6:27 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Essas 11 maneiras de dar sentido à vida me deixaram curiosa, hehehe... Se a melhor capa que puderam escolher é essa moça, tem-se uma idéia do conteúdo.

6:20 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Ah, esqueci de dizer... a "Nova" é praticamente igual há mais de 30 anos (não tem mais novidade, né, hehehe). Ficou só um pouco mais vagaba, eu diria (no mau sentido).

5:56 AM

 

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