Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Friday, November 23, 2007

Retrospectiva - Downloads

Continuo nas listas - o calor de 40ºC de Foz do Iguaçu não favorece um brilhantismo intelectual ou a originalidade. Mas sempre é bom fazer uma retrospectiva, mesmo que não se saiba para quê.

Hm... tá.

Foi um ano com muito mais discos baixados que o habitual, principalmente para um sujeito que não tem internet em casa. Mas graças à uma comunidade do Orkut (“Discografias”) e ao blog Stay Free (e mais uns outros esporádicos), deu para coletar umas coisinhas. Uma boa parte foi pro lixo, mas aqui vai um resumo dos mortos, feridos e vitoriosos.

Radiodread, Easy Star All Stars.
Como afirmou Fernando “Boi” Lalli: melhor que Dub Side of The Moon! Os alquimistas dub do ESAS chamaram um time de vocalistas de prima e deixou os graves cuidarem do que um dia foi OK Computer, mantendo as melodias e renovando todo o resto. Uma obra de versões que independe da original.


Mirando Caer La Lluvia, Mimi Maura.
Mimi é uma cantora porto-riquenha radicada na argentina que divide a cama, as contas e a paixão por dub, ska, calipso e reggae com o marido Sergio Rotman, ex-Fabulosos Cadillacs e ex-Cienfuegos. Esse seu disco é, segundo me dizem, mais sofisticado que os anteriores, que eram mais pop. No campo das generalizações: um belo disco de música latino-jamaicana feito por uma grande cantora que dá um pequeno espaço para o espírito roqueiro de seu marido. Não é o ovo de Colombo, mas é bem bom, mesmo perdendo fôlego no final.


Invisível DJ, Ira!
É um disco que não precisaria existir, mas cuja existência não compromete a trajetória da banda. De chamar a atenção mesmo, só a regravação de “Culto de Amor”, aqui mais bluesy e mais sentida que na também ótima gravação que consta no primeiro disco-solo de Edgard Scandurra, Amigos Invisíveis (seria coincidência tanta “invisibilidade”?). O resto consiste em roquinhos corretos, uma balada radiofônica horrível (“Eu Vou Tentar”) e uma versão anêmica da paulada “Feito Gente”, do Walter Franco. Funciona no rádio – o que é o melhor que se pode dizer de um disco produzido pelo Rick Bonadio.



Santorini Blues, Herbert Vianna.
Tivera várias vezes a chance de ter comprado esse disco por R$ 10,00 ou até menos, mas não o fiz – era um desses pós-adolescentes indies não-assumidos e cheio de pretensa adrenalina e não conseguia me entusiasmar com a proposta desse segundo disco-solo do líder dos Paralamas. Tudo bobagem da minha cabeça, pois esse Santorini Blues é comovente de tão belo. Traz já na capa ares mediterrâneos que se estendem pelas notas que deslizam de seus violões e guitarras – praticamente os únicos instrumentos usados (um piano aparece em “Uns Dias” e “A Palavra Certa” ostenta cordas orgulhosas). Esse vai me acompanhar por dias, meses, anos, amores e solidões.

Fino Coletivo, Fino Coletivo.
As resenhas sobre esse disco foram muito exageradas, mas é um pop carioca rebolativo e bastante aprazível. Agrada às mulheres e tem muitos méritos. Mas que parece que o Wado gravou seus vocais em espírito galhofeiro, ah parece! Ele bem que poderia ter poupado a regravação de “Uma Raiz, Uma Flor”. Georges Bourdoukan (que cedeu os versos à canção, mas nunca recebeu o CD) não merecia essa, nem nós.


Broken Flowers, vários artistas.
Já havia comentado aqui nesse blog, mas fica o registro: soul, rock e jazz etíope (geniais composições de Mulatu Astatke) garantem uma das cinco melhores trilhas sonoras de todos os tempos, independentemente de quais forem as outras quatro. Uma trilha que compõe o filme e a viagem que ele retrata, revelando detalhes mínimos e ao mesmo tempo escancarando possibilidades de devaneios. Deus abençoe Jim Jarmusch!


Lo-Fi Dreams e Black Barn Music.
Gian Ruffato e meu brother André Pagnossim sentaram à frente de seus respectivos micros para gravar em esquema caseiro suas composições muito pessoais. O Black Barn mistura Flaming Lips com Daniel Johnston e Renato Teixeira, soando derivativo em umas faixas (principalmente quando o André usa o falsete ou as traquitanas tecladeiras) e pessoal em outras, agradabilíssimo em todas. Já o Lo-Fi Dreams é o “menino errado” Gian Ruffato gravando as mais pungentes combinações de verso e melodia dos últimos tempos. “Hey Deus, agora sei como fazer você me ouvir...” Palavras e sons que invadiram essa casa.



Quelqu’un M’A Dit, Carla Bruni.
Admito que só fui atrás porque era uma moça gostosinha cantando em francês (todos podemos ser rasteiros e putanhentos vez ou outra), mas o disco é um folkzinho simpático (ainda que meio estilizado), e a garota realmente tem uma bela voz. No geral, é um “disco de hora do almoço”, mas numa escutada mais calma (as quais quase não fiz), dá para ver que há umas três canções que se sobressaem. O disco original deve ser um objeto mais cobiçável se houver umas fotos do naipe da capa.

Indubitavelmente, uma artista que se expõe



MTV Unplugged, R.E.M. / Midnight Oil.
O do R.E.M. veio com esse título, mas nem sei se é mesmo da emissora norte-americana, já que traz majoritariamente faixas de Up e Reveal. É bonito, mas não empolga nem envolve, mesmo com o resgate de “Cuyahoga”, “Country Feedback” e “Find The River”. O do Oil também perde em intensidade e criatividade para as versões que constam no pirata Blue Sky, Red Earth, mas é o Midnight Oil com “Warakurna”, “My Country” e outras belezas. Quer dizer, não dá para ser muito ranzinza.

Futból, Drogas y Rocanrol / O Sole Mio, vários artistas
O pessoal do Stay Free às vezes disponbiliza umas compilações feitas por seus amigos. A primeira é a junção “rock + futebol” e tem de cumbia uruguaia à punk escocês, resultando numa seleção bem divertida. O Sole Mio traz canções que tenham “sol” no título (não importa em que idioma) e mantém um ar praieiro (calma, xaropão, não tem Jack Johnson, mas ele seria bem-vindo), com predominância de canções violeiras nas mãos & vozes de Velvet Underground, Babasónicos, Intoxicados, Bob Marley, Stevie Wonder e, claro, Beatles. Editando um pouquinho, fica jóia.


Samba Russo, Cuelho de Alice.
Estou longe do que pode se chamar de “admirador” das Velhas Virgens, e em termos de letras, essa banda paralela do vocalista Paulo de Carvalho não ajuda muito a mudar o quadro: para cada boa sacada, vem coisas como “eu sou da turma da madrugada / e tô na night pra qualquer parada”. Coisa pra classe média que se produz pra pegar piranhas oxigenas e escovadas. Mas o som – um rock básico, pesado e com uns apliques percussivos – tá num nível respeitoso. E tem “Um Trago Com Deus”, a melhor faixa de 2007, incontestavelmente, um blues-rock invocado que abriga um puta poema (“Deus tá com olheiras e cansado / Deus, pode beber que eu pago / Deuses, homens, bichos e insetos / todo mundo quer o amor por perto”).


Bares y Fondas, Los Fabulosos Cadillacs.
O primeiro disco dos argentinos é o mais ska de todos, fazendo a ponte entre a geração sessentista do gênero, o two-tone e o Clash. Mesmo sendo de 1986, não traz timbres datados e traz a riqueza musical e a energia contagiante que desde a estréia seriam as marcas registradas da banda. Para fãs de ska, rock, jazz ou simplesmente de boa música.


Curto e grosso:


La Radiolina, Manu Chao. A repetição como conceito musical. Três ou quatro bases que se repetem o disco todo e logo enchem o saco. Bah!
One Step Beyond, Madness. Não ouvi com a devida calma ainda, mas tem uma versão de Lago dos Cisnes (“Swan Lake”) que é uma delícia.
Boys Don’t Cry, The Cure. O primeiro da banda, quando o termo “pós-punk” fazia sentido e indicava rock urgente, efêmero, algo intelectualizado e muito bom.
Dilema, Malhechores. Roquinho argentino de boteco. Nada de mais. Entretém.
Curtains, John Frusciante. Um dos melhores do homem. Isso não é pouco.
Hormonal, Hilda Lizarazu. Ela era do Manta Ray, e isso diz muito, né não Rubens e Igor? É mais pop que a lendária banda da qual ela fazia parte, mas isso não é defeito. Digamos que parece uma Tanya Donnely melhorada. Ainda não consegui enjoar.
Su Majestad, Rosal. Banda meio indie, meio artê, com algo de MPA (Música Popular Argentina) no meio. Pareceu um pouco “delicado” demais, mas tem seu apelo, e não só por causa da vocalista bonita.
Look At All The Love We Found, vários. Tributo ao Sublime, com Jack Johnson, Fishbone, G-Love e uma turma que gosta de sol&mar mas desconhece Detonautas. Na pior das hipóteses, rende uma marola.

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2 Comments:

Blogger Túlio said...

Vi Rosal ao vivo aqui em Bs As e achei um tédio... talvez nao seja para escutar ao vivo mesmo...
e essa música do Scandurra é um clássico.

8:27 AM

 
Blogger giancarlo rufatto said...

"Já o Lo-Fi Dreams é o “menino errado” Gian Ruffato gravando as mais pungentes combinações de verso e melodia dos últimos tempos."

como diaria bruce springsteen, "é incrivel como a gente pode fazer 15 canções com sol, ré e dó e ninguem perceber que é sempre a mesma musica"

obrigado pelas palavras rapaz!

10:52 AM

 

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