Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, November 20, 2007

Andrés Calamaro

Embora eu tenha tentado bastante nesse blogue e nos meus últimos tempos do Scream&Yell, sei que é difícil para quem não está nessas áreas (i.e., Tríplice Fronteira) entender a instituição que é o rock argentino, mas o fato é que o rock – ou alguma coisa muito parecida com isso – é muito popular por lá.
Eu não vou negar que eu só tenho acesso à porção mainstream (para não dizer popularzona), e que o choque cultural me garante o benefício do prazer. Quer dizer: em termos de popularidade, Babasónicos é equivalente ao Jota Quest, mas o fato de eu ser um estrangeiro já torna o Dárgelos muito mais palatável que o Rogério Flausino. Fiz uma comparação propositadamente equivocada (a distância da proposta musical desses portenhos em relação ao grupo mineiro é maior que a geográfica), mas acho que você entendeu o ponto.
E talvez seja justamente isso que explique o fato de eu conseguir ouvir – e gostar – de parte do trabalho de Andrés Calamaro. O Túlio já o definiu como o “Bob Dylan argentino”, mas eu sempre vi o sujeito como um cruzamento junkie do Lulu Santos com o Guilherme Arantes, com um toque de Wando. Essa relação profana entre modelos já de início meio rotos tem sua explicação: Lulu alterna boas canções de pop fácil com hits irritantes e faixas auto-indulgentes, abusando da prepotência injusificada em entrevistas e aparições públicas; Arantes é um compositor talentoso (e pianista, como o argentino em questão) cujas canções são muitas vezes sacrificadas pelos arranjos bregas, exagerados ou simplesmente equivocados. E Wando é o Wando.
Calamaro concentra bem essas características desses três, com o “adicional” de ter a voz de uma araponga de cu quadrado (que infelizmente parece ter virado referência para oito entre dez bandas de uns anos pra cá – Intoxicados, Estelares e Los Tipitos, com seus vocalistas de lamentos anasalados que o digam!). Ainda assim, esse gêmeo de corpo e alma (e amigo íntimo) do Maradona tem uma qunatia respeitável de canções que ficam ali, prestando assistência à minha retórica introspectiva. “La Parte de Adelante”, um caso raro de combinação acertada entre letra, música e arranjo, fica orbitando minha cabeça com sua seqüência de definições à Wando: “soy el soldado de tu lado más malvado / y el arquitecto de tus lados incorrectos / soy propietario de tu lado más caliente / soy dirigente de tu parte más urgente / soy artesano de tu lado más humano / y el comandante de tu parte de adelante”.
“Donde Manda Marinero” é outra que acerta em cima, com uma leveza melódica que – perdoem o clichê – qualquer um pode ouvir, mas pouquíssimos podem fazer. Outras tanta, como “Te Quiero Igual”, “Cuando te Conocí” e “Buena Suerte y Hasta Luego”, são estragadas pela voz de pata prenha (essas definições podem ser infinitas) e pela instrumentação de banda de parquinho de diversões – o que não impediu que o Wander Wildner surrupiasse os arranjos e as bases na cara dura para fazer seu “Paraquedas do Coração”. Há umas – como “No Se Puede Vivir del Amor” – em que a moldura musical enfeia o quadro lírico. Outras parecem refugo textual do Cazuza com melhor resolução musical – é o caso de “Cartas Sin Marcar” e “Alta Suciedad”. A lista poderia seguir até o cansaço – nem falei de sua versão constrangedora para “I Will Survive” – afinal, se trata de um cara que teve ego e cacife suficiente para lançar um disco quíntuplo (!!!) em 1999, El Salmón, para depois cair no limbo cocaínômano (batizou seu estúdio e apartamento de Deep Camboja e se enfurnou lá até que tivesse cheirado metade da produção da Colômbia) e mais tarde emergir como herói nacional e rockstar redivivo... lançando um disco de covers de tango!
Pois é, o rock argentino tem dessas coisas. E como eu ainda fico ouvindo isso, nem eu sei - bom, me poupei do disco de tango, mas não consegui escapar de sua versão tecnobrega de "I Will Survive". De qualquer maneira, fica registrado o momento, para minha futura referência, diversão ou vergonha.

Galã.

Labels: , , ,

2 Comments:

Anonymous Anonymous said...

"são estragadas pela voz de pata prenha (essas definições podem ser infinitas)"

HAHAHAHAHAHAHA!!!

12:10 PM

 
Blogger Túlio said...

gosto muito daquela frase rancorosa dele da música corazon en venta: "feliz navidad sangrienta, te desea mi corazon en venta".

2:11 PM

 

Post a Comment

<< Home