Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Saturday, August 18, 2007

Henry David Thoreau

Henry David Thoreau escreveu A desobediência civil, a bíblia do pensamento anarquista, que acabei de ler recentemente. Impressiona sua profundidade de raciocínio, colocada de forma concisa e clara, e impressiona mais saber que sua idéia básica – o homem não se sujeitar à normas arbitrárias simplesmente porque um governo assim as estabeleceu, independentemente de valores e juízos – ainda não foi entendida. Mas o que me pegou ainda mais foi o “texto bônus” que veio na edição da L&PM, Leituras, um ensaio sobre o potencial revolucionário e o prazer advindo do estudo dos clássicos da literatura. Sob uma forma aparentemente conservadora, Thoreau legou um texto ainda mais inconformista e rebelde que a obra que o celebrizou.
Thoreau escreve que “nem todos os livros são tediosos quanto seus leitores. Provavelmente há palavras que se aplicam exatamente à nossa condição, e que se pudéssemos realmente escutar e compreender, seriam mais salutares a nossas vidas que as manhãs ou a primavera, e possivelmente dariam um novo aspecto à face das coisas”. Isso viria a partir da leitura de Homero, Ésquilo, Dante, Shakespeare, Zoroastro. Pedância, poderiam dizer alguns, mas o “ermitão social” Thoreau usa aqui a mesma eloqüência e o mesmo raciocínio aguçado presente em sua opera mater, com resultados mais eficazes e, certamente, mais arrebatadores. A utopia pessoal assume o lugar da social, e a partir daí, é mais fácil crer que a sociedade poderá ser diferente.
Thoreau não passa nem perto de cair no sofisma de que “quem lê é uma pessoa melhor”, nada disso. Um dos primeiros parágrafos traz uma ressalva fundamental: “os livros devem ser lidos tão deliberada e reservadamente quanto foram escritos”. Não é a simples leitura que traz algum benefício, mas sim o estudo, a reflexão reservada, o pensamento além da dialética, que garantem a chance de algo melhor ser formado em alguém. E com esse pressuposto, o escritor – já nos idos de mil oitocentos e alguma coisa – escancara a promiscuidade dos investimentos públicos, citando que em sua cidade, dezessete mil dólares haviam sido gastos em uma nova Câmara Municipal, porém o Liceu não recebia mais que 125 dólares anuais. Sobrava também para cânones de sua comunidade (Concord, Massachussetts), com pastores, pedagogos e conselheiros municipais sendo destitulados de sua presumida superioridade moral e intelectual, ganha na base do grito e do status social.
Thoreau é leitura fácil, mas nada superficial. As páginas dos dois manifestos involuntários contidos neste livro se sucedem sem urgência mas com prazer, se inculcando aos poucos naquela área ainda não acometida pela indignação burguesa e pela caridade cristã. E produz efeitos imediatos – alguém tem a Ilíada para me emprestar?

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

Tenho lido seus textos enquanto as aulas ocorrem (rs). São textos interessantes e gostosos de se ler.
Concordo com isso: "Não é a simples leitura que traz algum benefício, mas sim o estudo, a reflexão reservada, o pensamento além da dialética, que garantem a chance de algo melhor ser formado em alguém."
Boa noite :o)

4:35 PM

 

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