Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, September 11, 2007

Ao vivo

Porque misoginia é um estilo de vida OU Um texto escrito no Dia Internacional do Rock – que porra é essa de “Dia Internacional”?

Onde há guitarra, há buceta. Essa máxima foi cunhada na minha adolescência, quando, rodando de bike pelos subúrbios de uma cidadezica do interior paulista, vi uns guris com uma bateria podre e uma guitarra simples plugada num amp “caixa de abelha” tocando um Charlie Brown cover qualquer, rodeado de gurias sumariamente vestidas em volta. Aí foi só virar zineiro e começar a freqüentar uns camarins de bandas para ver que a teoria não só procede, como é extrapolada no caso de ser um grupo minimamente conhecido.
Os Acústicos & Valvulados começaram rockabilly em God Bless Your Ass (1996), foram para um country folk que embalava sonhos de pós-púberes semi-virgens em Acústicos e Valvulados (1999), mandaram pop pesado de produção afu (o outro disco homônimo, de 2001), sentaram o pau no invocado Creme Dental Rock’n’Roll (2003) e voltaram às teenage love songs em Esse Som Me Faz Tão Bem (2005) – o mais fraquinho. É claro que sempre tem uns magrões (eu, por exemplo) que gostam pra caralho do som da banda, principalmente quando eles se metem a invocar na rifferama ou a acertar nuns arranjos country. Mas o público maior deles, principalmente aqui no Paraná, são as gurias. Em Foz do Iguaçu, especialmente, os caras são hit certeiro. Aliás, isso já foi debatido aqui no Gordura: tem uma pá de banda gaúcha que é taxada de “indie” em SP e afins (Tequila Baby, Ultramen, os próprios Acústicos), mas que nos estados de barro vermelho apitam muito e, se não lotam lugares para mais de mil pessoas, estão perto disso – ao passo que as bandecas do tal “indie” paulista não chegam a encher um moquifo tocando para um público de amigos. Claro que a convocatória de uma banda não é sempre proporcional à sua qualidade, mas só para lembrar ao leitor indie-bunda padrão (não escolhemos quem nos lê): aqui esses caras tocam no rádio pau-a-pau com hypes nacionais, as meninas semi-virgens (definição apropriadíssima cunhada pelo Vignoli) têm fotos deles nos seus fichários de Hello Kitty e os piás tentam tocar sons deles nas aulas de guitarra.
Assim, não era de surpreender que, mesmo sendo uma quinta-feira fria como a buça da rainha Elizabeth II, o tal Ono Teatro Bar estivesse bem cheio, mais ou menos nessa proporção: de cada 10 pessoas, dois eram guris fãs da banda que foram lá ver os caras fazer o show da turnê/CD/DVD Acústico Ao Vivo e A Cores, dois eram pessoas de qualquer sexo que são habitués da casa (ou seja, o tipo de pessoa que gasta grana e tempo em roupas e produção e, na hora H, faz de conta que não saiu para comer ou ser comido/a) e outras seis eram gurias ávidas de “energia roqueira”. Se é que preciso explicar.
Então, a exemplo duma outra resenha de show gaúcho em terras fronteiriças, vamos tipificar a coisa toda para você, que vive atrás de uma tela de computador e não viaja nunca, entender qual é a da coisa:

O LUGAR
Ono Teatro Bar. Só os donos sabem porque há o “teatro” no nome. Se pá, nem eles. Não tem nada de teatro nem dentro nem fora, o lugar parece meio vagamente um navio, tendo sido decorado como tal. Tem uma pista onde cabem umas duas mil pessoas, um bar cheio de cerva a preço caro (cerveja Skol long neck a R$ 3,50) e coquetéis coloridos, insossos e mais caros ainda; uns camarotes com sofazões para o pessoal ficar se pegando ou fazendo pose e; no sobrepiso que mais parece um mezanino, um restaurante japonês! Costuma receber em sua agenda de shows: bandas que fazem cover de Jota Quest, bandas gaúchas quase famosas, bandas gaúchas famosas, bandas de “forreggae universitário” (Maskavo e todas aquelas merdas que se parecem com eles, com nomes naturebas que não escondem a vocação maconheira-vagabunda de seus integrantes e seu público), micaretas, DJs brazucas com “nomes artísticos” cheios de consoantes, gauchescos presepeiros e a banda Viva A Noite, aquela do Pânico na TV.

OS HABITUÉS DA CASA

Você leu o parágrafo acima. Precisa de mais alguma informação?

OS MAGRÕES QUE GOSTAM DA BANDA
Esses devem ter se matado de rir no ano passado quando, para anunciar um show do Autoramas, um bar local usou o riff de “Se Você For Assim”, dos A&V. Para você ver que, apesar dos pesares (ter eleito o Requião, foder todo o Estado para plantar soja, etc), o pessoal aqui é sensato: dão aos Autoramas sua devida irrelevância. Claro, eles foram legais um dia. Mas faz tanto tempo que minha mente até já perdeu esse dia de vista.

De volta aos magrões: pareciam estar no começo dos seus vinte anos. Sabiam as letras de cor. Ouviam atentamente as inéditas. Alguns identificaram até mesmo o cover de “Sob Um Céu de Blues”. Ou seja, se você não fosse avisado, poderia achar que está no Rio Grande, olhando para eles. Mas pra que ficar olhando para eles, se haviam...

60% DE GURIAS...
Sabe as tais pós-puberes? Elas cresceram. Seus peitos e bundas também. E não estavam preocupadas em se proteger do frio. Provavelmente, deixaram de ser semi-virgens há algum tempo, o que não quer dizer que se descabaçaram de vez. Também sabiam um ou outro trecho das letras. Sabiam rebolar muito bem – manja o tipo de universitária de facul particular que não pode ouvir funk carioca para ver se consegue se sentir meio puta? É por aí. Algumas provavelmente deixaram sua semi-cabacice naquela noite, com algum cara da banda. O camarim tava uma festa só: o batera Paulo James na dele, só tomando um vinho, e o vocalista Rafael Malenotti (o quase-estrela do MTV Rockgol) na companhia da assistente da banda. Os outros músicos (Diego Lopes, Daniel Mossman, Alexandre Móica e o tecladista contratado Luciano Leães, da banda Locomotores) eram disputados às penas, podendo escolher quem levar. Eu e minha namorada, já meio duros no trago, vendo tudo e nos matando de rir. São as mesmas ex-alunas de cursos e faculs onde lecionei, que faziam pose de santas não faz nem um ano.
Tinha também uma nova leva de adolescentes ainda com alguma proporção de inocência dentro de si. Essas só deliravam por estar de frente com seus “ídolos”. Como delirariam frente a qualquer outro show de outro artista com música nas FMs.

O SHOW
Vi todo ele detrás do palco, o que me deu uma visão privilegiada do público (daí essa riqueza de detalhes e poder de observação) e uma chance de curtir o show numa boa, cerveja e vinho acompanhando. Como já disse, gosto muito do som dos caras, e acho que o formato acústico cai bem a eles, na maioria das vezes (“O Dia D É Hoje” ficou meio frau, mas só ela). O lance de ter órgão e piano também faz uma boa diferença. O que eu nunca gostei do show dos pintas é que eles sempre prezam pelo set list mais óbvio quando estão fora de casa, e agora que a turnê está divulgando um disco ao vivo, mais ainda. De surpresa mesmo, só “Sob Um Céu de Blues” num arranjo simples e massa, já que as quatro inéditas foram tiradas do disco novo. Dessas, “Vou Com Você” tem o vocal de Alexandre Móica, bem melhor que o de Rafael Malenotti. Mas o Beduíno Albino tem carisma, não dá para negar. Ainda que apele para as frasesinhas decoradas de sempre. Mas até aí, quem quer verborragia também?
O show foi bem curto, e deixou de lado até uns hits locais, como “Cinco Frases” e “A Minha Cura”. Mesmo assim, tocado com vontade, e com umas soluções legais incorporadas a um formato que já é manjado desde que nasceu. Quem gosta da banda aproveitou, lógico (esses tipos sempre aproveitam, aplaudem até espirro), mas fiquei com a impressão que, quem não gosta, ficou tentado a fazê-lo. Na real, foi um dos melhores shows dos caras que eu vi. Certamente tem a ver com o entrosamento dos caras – visível até para quem não é perceptivo.

O VEREDITO
Cada enfia ou esfrega suas partes pudendas e órgãos alimentares onde bem entender.

PÓS-ESCRITO
Diego Lopes, baixista e tecladista do A&V, também faz parte do Super D, uma “talagada de Ben Folds Five e Jellyfish, uma cópia assim, na cara dura”, segundo palavras dele próprio. Chego até ele, num átimo de impulso jornalístico, e pergunto: “cara, digamos que eu tô duro no trago, pego o CD do Super D e pergunto: ‘que porra é essa?’ Quié que tu me responderia?”
De bate pronto, o gurizão manda essa, rindo: “hardcore pra viadinho”.
Ninguém pode acusar os caras de não serem autênticos.

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