Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Thursday, September 06, 2007

Mimetizando

Existe algo de glamouroso na imagem do escritor sentado à sua escrivaninha, máquina de escrever à sua frente e um copo de whisky ao seu lado; ou na imagem do garotão jovem e belo, metido a escritor, preso em um narcisismo de cabelos encaracolados em frente ao computador, cerveja preta embalando uma noite quase fria. Imagens que alguém concebeu e muitos introjetaram de modo a reproduzi-la em suas vidas, como aqueles monges copistas que levavam seu ofício a sério demais. Só que os monges se davam conta, antes mesmo de começar seu trabalho, que iriam meramente reproduzir o que alguém já fizera.
Está aí uma possível razão – ou pelo menos uma tese bem discutível, que encontra ressonância numa mesa de bar – para muitos dos tais “males da alma” que nos atormentam já há um tempinho (sendo “alma”, é claro, um conceito pra lá de abstrato, às vezes além do limite saudável). Não nos satisfizemos profissionalmente porque temos que ser igual àqueles “modelos” de histórias edificantes que nos contaram, seja via midiática ou oral. Não somos correspondidos no amor porque não alcançamos nosso ideal de romance, e este não está na nossa experiência pessoal, e sim em meia dúzia de clichês literários e/ou hollywoodianos.
Beijar na chuva ou esperar alguém do lado errado da rodoviária pode ficar bem em celulóide, e talvez até fique como um referencial simpático na biografia de cada um. Mas, às vezes, dar a chance de alguém falar pode ser absurdamente romântico. Deixar alguém dormir quando você sabe que há vida lá fora pode ser tristemente romântico, amargamente romântico, ou simplesmente belo.
Esse preâmbulo, que no fim virou o próprio texto, veio à tona por quê mesmo? Porque eu passei os últimos dias ouvindo pessoas que me importam, pessoas decididamente importantes para mim (inclusive eu mesmo, veja só), se perguntando o que vai ou o que foi de errado em sua vida. E as mais diferentes perguntas pareciam encontrar uma resposta semelhante: ninguém parece saber por quê faz o que faz. Ou melhor, sabem que querem corresponder a uma idéia, um arremedo de “objetivo” (essa palavra surrada e maltratada dos dias de hoje) que herdaram de alguma experiência de mass media ou de algum livro que impressionou além do mero encanto textual.
Isso é errado? Não sei. Quem sou eu para dizer, se caí na estrada e nos bares depois de pegar o Bagana na Chuva, e até hoje sofrer vendo que alguns dos meus textos não passam de imitação sofrível do Mário Bortolotto. Só que sei que toda vez que tentar escrever como ele escreve, o máximo que conseguirei é fazer uma cópia razoável, que, entretanto, nunca parecerá mais que uma cópia, desfigurada se comparada ao original.
Eu e meus amigos e minhas amigas destes últimos dias, single serving friends ou irmãos que acompanharão na estrada (obrigado, Chuck Palanihuk!) estamos todos, cada qual a seu modo e em suas áreas particulares, presos à repetição do que não vivemos. Queremos – e junto com nós, toda a humanidade, ao que parece – viver o que alguém viveu, gozar com o pau alheio, beber da mesma água em uma garrafa diferente. Isso não vai dar certo. Isso angustia. Isso dá no tal do vazio. E o vazio sempre esteve aí. Ele também acaba sendo uma cópia.

1 Comments:

Anonymous Anonymous said...

besteira. por mais que algo sej a um a influencia pra gente, aquilo que a gente cria é sempre outra coisa. pelos simples motivo de que a história que voce tá contando ali naquela música ou texto é a tua vida, e não a do teu ídolo/referência, sei lá. Continue escrevendo e pare de pensar besteira (ehehehe) abraçao

7:29 PM

 

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