Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, September 03, 2007

The Indian Runner


“Assistiu a Indian Runner?”

“Só há um grande filme, e Sean Penn é seu diretor”.

(Diálogo entre os personagens Sbórnia e Cardan, no livro Bagana na Chuva)

... E foi numa tarde de terça-feira que eu achei o VHS de The Indian Runner, sob o título nacional Unidos pelo Sangue, à venda numa locadora falida de Foz do Iguaçu. Faz até algum sentido: encontrar esse filme ali, num lugar à vista de todos mas num canto meio esquecido e desconsiderado, mais ou menos como Frank Roberts.

Frank voltou do Vietnã para ver o irmão Joe, e somente ele. Deixa os pais de lado pois “eles vão até ficar aliviados”. Eles sabem que Frank é reckless, indomável, destrambelhado – e de delinqüente juvenil para paria adulto é um pulo, e não demora muito para que ele vá parar na cadeia por bater na namorada. Nesse ínterim, sua mãe morre, e Joe acha que é hora de fazer alguma coisa para salvar seu irmão. Joe é policial, acredita em família e vive segundo sua crença. É casado e tem um filho, algo que Frank parece (veja bem: parece) invejar, está sempre com eles e/ou com o pai. E parece preservar pouco deste, assim como o irmão. Os dois irmãos Roberts parecem ser forças à parte de sua família, a natureza e a civilização enquanto seres vivos, animais que agem segundo sua própria natureza e se vêem incapazes de compreender a natureza alheia. Claro que esse ímpeto de “salvação” proveniente de Joe vai cobrar de todos eles e de outros mais um preço. As escolhas ditarão caminhos que não estavam previstos e, se pararmos para pensar, não poderiam ser evitados.

Agora pense: Sean Penn é um diretor que, mais que contar histórias, arranca do ator atuações angustiantes em sua precisão, sempre com histórias de pessoas que estão entre o dever e a dor, pessoas que pagam pela própria vida (ou com a sanidade) por suas escolhas indomáveis. Assim ele arranca de Viggo Mortensen (Frank) e David Morse (Joe) as melhores atuações de suas vidas. Charles Bronson, numa participação cortante de tão frágil, é o pai do clã. Dennis Hopper aparece menos de cinco minutos para garantir um dos diálogos mais assustadores do filme (aliás, os diálogos são excepcionais, mas são cruelmente mutilados pela legendagem da Tri-Star.Columbia). Eu ia escrever que, não obstante a presença da bela Valeria Golino como a esposa de Joe, esse é um filme para homens. Mas já não tenho mais certeza – aliás, o filme não te deixa nenhuma certeza sobre muita coisa, já que os dilemas do dia-a-dia vão se avolumando a uma questão crucial: quanto se morre pra poder viver? Obrigado ao Linari pela frase.

Acontecimentos levam Frank a assumir trabalho, filho, a casa paterna, cama king-size e churrascos em pesqueiros no fim de semana. A pergunta é se Frank assumiu ou aceitou isso tudo, e a resposta vem em forma de vômito, a verdade escarrada para o mal estar de quem está na tela e do outro lado dela.

Nada disso impede Joe de ver seu irmão caçula como o garoto que brincava com ele na infância. Isso também é de sua natureza. Quando é preciso, Joe também vomita sua verdade, seu sangue sendo derramado com menos dor do que o sangue alheio. Joe mostra à Frank em que acredita, logo depois que ele fizera o mesmo. Coisas explodem, e os estilhaços vão criar feridas na alma que nunca cicatrizarão. Com a família é assim.

E a coisa toda daquela pergunta, sobre o que está em nossa natureza e o que advém de escolhas, volta, na forma de cartas na mesa, com a última colocação de Joe, narrador do filme. E vamos todos para a casa sem rumo, querendo saber se para onde estamos indo é casa ou só mais um lar.

Indian Runner (o porquê do título se perde nas legendas podres) é o filme mais perturbador que assisti em muito tempo. Não é tocante como O Labirinto do Fauno (filme que me deixou de cara há poucas semanas), está mais para O Lenhador, no qual Kevin Bacon mostrava que dentro de todo monstro tem um ser humano. Esse Runner corre em terreno semelhante, mas para um outro lado, o lado que reza conforme aquele velho aforismo: nem o mais alto dos muros consegue nos proteger de nós mesmos.

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4 Comments:

Anonymous Anonymous said...

véio, esse é o meu filme predileto. vi com o Bortolotto. muito foda isso. abraço.

8:50 AM

 
Blogger André said...

acho que vai gostar disso http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u323683.shtml

4:41 AM

 
Anonymous Anonymous said...

Good words.

3:00 PM

 
Anonymous Felipe said...

A única coisa boa nesse filme é o Viggo Mortensen peladão!

9:50 AM

 

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