Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, August 22, 2007

Callejeros.

Realmente não dá para entender como a gente acaba gostando de certas bandas. Não se trata das bandas boas que tem aquele je ne se quois (chique, hein?) que te seduz, te encanta e/ou te envolve, mas sim de bandas ruins. Ruins não no sentido trash da coisa, mas no aspecto “mal-feito” mesmo. Músicos ruins, soluções nada criativas, texto pobre, clichês assomados, e ainda assim, você gosta, e muito.
É o caso dos Callejeros. Hoje de manhã me sentei para corrigir umas redações de uns alunos e deixei uma coletânea que fiz deles soar pelas caixas enquanto executava minhas obrigações. Estão lá os elementos que sempre fizeram parte de sua música: as guitarras que se revezam entre clichês stoneanos e os momentos mais pastéis dos datados Creedence e Los Redondos, as letras cheias de reflexões pós-juvenis (cuja poesia segue métrica e estrutura idem), o saxofone quase onipresente com timbres adulterados... E ainda se trata da banda que meteu mais gente que podia numa casa noturna (quase 4.000 pessoas num local onde só cabiam 2.800) e acabou sendo co-autora da maior tragédia do rock mundial: o incêndio de Cromañon. E que depois tentou se eximir da culpa, arrogando-se a imunidade de autoproclamados mártires roqueiros vitimados pela crueldade da opinião pública...
Só que tem algo na música desses faloperos que me prende. Não sei se são as letras impregnadas de misticismo cristão anti-religioso, já que saí da igreja mas não consegui tirá-la de dentro de mim; ou se é a voz e a interpretação poderosas de Patrício Fontanet, que empresta emoção e autenticidade até a uma bobagem constrangedora como “Imposible” (desgraçadamente, uma das minhas preferidas). Ou talvez seja a tal inquietação de eterna indecisão juvenil dessas crianças que não crescem, mas pegam os piores vícios dos adultos, como a mentira, o cinismo e a apatia; de quem sabe que isso é uma merda mas não consegue ter um comportamento diferente, e acaba agindo como quem mais acha que pensa e mais crê que faz.
Sim, eles traduzem isso com precisão avassaladora (no sentido de formarem vassalos). Sim, eles são vazios, mas cheios de pose e disfarçada alegria, mais ou menos como eu sou. E sim, eles têm culpa no cartório e não assumem, preferem ficar com um discurso arrogante que lhes poupa o direito de se autocriticar – como eu fiz por muito tempo.
Talvez chegue o tempo em que os Callejeros me soarão como uma daquelas bandas que você escuta quando moleque mas que depois não consegue “revisitar” nem como nostalgia. Porém, uma audição desprevenida deles ainda me pega, ainda me comove. E ainda me espelha.

“Sólo como um pájaro que vuela em la noche livre de vos
Pero no de mi
Vacio como um sueño de un amor ralleno de nada
Sin saber dónde ir
Duro como un muerto sin tumba
Que murió de medo por el valor de vivir”.

(“Una Nueva Noche Fría”, canção do clip acima).

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