Sobre antagonismos e a tal "lei da ação-e-reação"
“Quando eu era mais novo, eu era tolo e só pensava
(Harvey Pekar)
Essa coisa toda do “nós” contra “eles” parece tomar o coração das pessoas. Sempre há um “nós” ou um “eu”, fora disso, apenas o resto. “Quem não está por nós, está contra nós”, disse Jesus Cristo (disse mesmo?), num militarismo de fazer inveja ao Bush ou (para ficar no território nacional) ao Médici.
É como se precisássemos do inimigo. Tem que haver alguém contra quem lutar, senão não há pelo que vivier, não é?. O grande lance é que às vezes “o inimigo” está dentro de nós mesmos. Só temos que combater aqueles demoniozinhos que parecem uma legião, ou que aquele um tem um porte de derrubar o Gigante Adamastor.
É fácil achar inimigos externos. É fácil polarizar. É fácil ver tudo como um jogo onde é um time “versus” o outro. E “versus”, convém lembrar, significa “em oposição”. Mas às vezes, os únicos obstáculos reais são aqueles que a gente criou. O outro, em algumas ocasiões, nem é “inimigo”. Só está ali, tentando garantir a dele, exatamente como nós estamos fazendo. Ele pode ser um pulha, não resta dúvida. Mas nós também podemos ser boçais, canalhas ou incômodos. E aí?
Brigar é atravessar a rua para acertar o cara que ia te bater. É tirar o seu da reta, colocando o do outro. Há momentos em que isso dá certo, e outros onde isso cobra um preço.
Eu sempre estive disposto a brigar, não necessariamente (embora também) no sentido braçal. Ultimamente tenho fugido, e isso vinha me fazendo alguma falta. Muita falta, me corrijo. Aliás, hoje me permiti brigar. Mas me dei conta que o “inimigo” não é um monstro demoníaco com dezoito chifres e quatorze olhos, um dos quais sofrendo de catarata. Ele é um bípde como eu, que come, sofre, trepa, broxa e paga as contas (as tais “funções vitais”, revistas e ampliadas para os tempos atuais). Só quer garantir o dele, assim como eu quero garantir o que é meu. Ele pode ser um canalha tentnado chegar a isso. Mas eu tenho minhas defesas, nem sempre intransponíveis, pero las tengo.
Entretanto– e isso já desde muito tempo – julgo que não vale brincar de rolo compressor e pegar o meu usando dos meios que estão à disposição. Existe mais que alimentar animosidades e buscar discrepâncias. Tá me parecendo mais lógico – mais óbvio, mais gozoso – fazer o que é de minha índole e meu estilo. Garantir a preservação do meu eu, mesmo que eu perca a “briga”. Aliás, eu não vou brigar. Eu só vou fazer como os monges budistas da parábola: vou terminar o jogo. Eu não largo uma partida no meio. Uma hora as coisas têm que terminar, e meu tempo aqui (“aqui” significando Foz do Iguaçu, o mundo, essa vida – não necessariamente nessa ordem) não é exceção. E quando acabar, eu terei feito o meu trabalho. Eu entendo que há limites. E entendo que é justamente por causa do último limite que eu tenho que relevar alguns dos anteriores. Para isso, eu não preciso transformar ninguém
Não somos “nós” contra “eles”. É só contra nós mesmos. Se "eles" não estivessem, outros estariam. E outros sempre vão estar. Mas “nós” vamos embora. Eu quero ir “em grande estilo”. As pompas e circunstâncias eu dispenso. Mas fico com o cinturão de quem ganhou a batalha contra o adversário mais cruel: eu mesmo.
Labels: versus
1 Comments:
Simplesmente absurdo...muito boa a forma como foi escrita...adorei esse texto...
10:01 PM
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