Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, September 11, 2007

Acústicos e Valvulados

Julho passado, entrevisto os Acústicos & Valvulados durante sua mais recente turnê. Faço um texto para o Crase, outro para o Gordurama, e os dois sites entram em recesso. Acontece. Os dois voltarão, em breve. Mas enquanto não voltam, os textos ganham vida nesse blogue. Primeiro, o do Cràse: uma entrevista simpática, didática e bem-feitinha. Depois, a resenha do show, para o Gordurama. Didática, a resenha até é, mas simpática... Bem, você conhece o Gordurama, né? Não? Pô, então tá fazendo o que nesse blogue?

Aos textos:

ENTREVISTA: Acústicos & Valvulados


Os Acústicos e Valvulados são a banda que eu mais vezes entrevistei, e o que conta nesse fato é que eles sempre têm algo a dizer. Mais uma vez, como fazem desde seu primeiro disco, estão caindo na estrada para divulgar o mais recente, Acústico, Ao Vivo e a Cores, naquele já tradicional combo “CD e DVD” (vendidos separadamente). Não, esse não tem o selo da MTV (como aquele nojento “Acústico Bandas Gaúchas”, pau-de-sebo* versão crise comercial dos anos 00). Tem outro selinho, o da Atlântida FM.
E aqui já cabem duas considerações: se você lê o Cràse, provavelmente é paulista e deve achar que todos aqueles hypes que fazem de bandas do sul não correspondem à realidade. Fato: bandas indies (aquelas sobre as quais você sempre encontra uma materinha) suam para tocar para mais de vinte pessoas, maaas há uma parcela de bandas, muitas com apoio de gravadoras grandes, que são REALMENTE populares do Paraná pra baixo. Dessas, em termos de popularidade, há um “primeiro escalão” (Nenhum de Nós, Papas da Língua, até a Cachorro Grande, de certa forma) e um “segundo” (Tequila Baby, Acústicos & Valvulados, Comunidade Ninjitsu, Ultramen, Chimarruts), bandas que tocam no rádio, têm suas músicas conhecidas por mamães e filhinhas bem dispostas a “groupiar” por aí, revistas de cifras trazem transcrições de suas canções, etc. E principalmente, fazem muitos shows (em lugares “pop” e espaçosos, não em inferninhos semi-vazios), sempre cheios. De modo que o “cair na estrada” não é mero clichê no caso dessas bandas, Acústicos & Valvulados incluídos. E foi antes de um desses shows, em Foz do Iguaçu (PR), que eu sentei para tomar um vinho e charlar com o baterista e compositor principal da banda, Paulo James.
Isso nos leva à segunda consideração: pode não ter sido a Atlântida (popularíssima no RS, tanto que organiza anualmente um disputadíssimo festival), mas foi pelo canal das rádios que eles percorreram a estrada que liga o Paraná à terra de Bento Gonçalves – graças à sua presença massiva no dial da Itaipu FM, estação que abrange do extremo oeste do Paraná até seus países vizinhos (Paraguai e Argentina). Desde que eu cheguei a essa cidade há dois anos, ouço Acústicos & Valvulados sendo executados diariamente nas rádios, canções novas e velhas. Pode não ser essa necessariamente uma medida de qualidade (e concordo que não seja), mas certamente dá a medida da popularidade.
Isso posto, eu pergunto a Mr. James qual é a cara do público de sua banda. “Cara, isso é um lance muito curioso. Porque o Acústicos e Valvulados (A&V) não é uma ‘banda de camiseta’. Tequila Baby é uma banda de camiseta! Nós vamos tocar num festival como o [Planeta] Atlântida, e vemos camisetas do Tequila Baby, Fresno... não tem ninguém com camiseta do A&V, mas todo mundo sabe cantar as músicas”.
- É – corto a frase no meio – Da primeira vez que vi show de vocês aqui (em 2006), perguntei pro pessoal do meu trabalho “quem vai?”, e eles responderam “que músicas eles tocam?” (N. frase clássica de quem tem a música como mero acessório). Foi só eu começar a rolar a primeira faixa para todo mundo começar a cantarolar!
“Pois é, é bem esse tipo de coisa. Claro que tem o piá ou a guria que sabe todas as músicas, conhece os discos todos, é fã e tal, mas quer ver uma coisa? Esses dias eu digitei ‘Acústicos & Valvulados’ no eMule para ver o que ia aparecer. Pó, tinha um monte, véio! Mas aí eu olho e vejo uma canção chamada ‘Olha Só’. Pensei comigo: ‘será que alguém tem um som nosso que nem a gente conhece?’ (risos) Ou então tem essa coisa de colocar outro nome na música, né? Aí eu baixei o som para ver qual era e... começou uma música do Papas da Língua! (mais risos) É uma música que tem a caixa da bateria ‘virada’, uma batida que é 100% característica nossa, uma pá de músicas nossas tem essa batidinha... E tava lá, como nossa!” (mais umas risadas).
Se o público da banda é esse, não é de surpreender que esse lançamento seja um acústico. Numa época em que um artista lança um DVD quase simultaneamente à sua primeira gravação, é até justo que os A&V estejam lançando CD e DVD ao vivo depois de cinco discos de estúdio (todos independentes). E é o sonho de toda banda de estrada lançar um disco ao vivo. Mas por que acústico, hein? Deixemos de lado toda a conversa de releases que diz que “estava na hora de fazer mais jus a essa primeira parte do nome”. O quanto isso tem de vontade pessoal, e o quanto tem de jogada de vendas?
Perguntas cretinas merecem respostas idem. Afinal, quem não tem vontade de vender seu trabalho? Mas Paulo James é educado e dá toda a linha: “cara, toda banda de rock quer ter um disco ao vivo, principalmente com um vídeo junto, mas sem ter uma estrutura por trás disso é muito difícil, é financeiramente inviável. Quando rolou esse convite de nos juntarmos a esse projeto da Atlântida, não teve nem muito o que pensar! E foi um repertório de hits mesmo, porque funciona também como uma coletânea. Tem as [quatro] músicas novas, mas quando você vai tocar, o pessoal quer ouvir ‘Remédio’. Não tem como escapar. Nem tem porque. Só acho que a gente marcou de voltar para [o selo] Antídoto. Acho que devíamos nós mesmos ter encampado a coisa da divulgação e distribuição, porque hoje em dia...” (reticências inconformadas)
A distribuição é precária mesmo, e não é só as independentes. Me lembro que na época do Creme Dental Rock’n’Roll (2003), “Se Você For Assim” e “Cinco Frases” foram megahits por aqui e ninguém achava o disco para comprar. E ele tinha sido lançado pela [hoje falida] Sum!
“Pois é, foi complicado isso. O único disco que teve distribuição legal foi o de 1999 (Acústicos & Valvulados), que era da parceria Antídoto/Abril”.
E até um lance engraçado: quando os Autoramas vieram fazer um show aqui na fronteira com a Argentina, usaram “Se Você For Assim” como vinheta de divulgação do show deles!
“Bá... “ (risos)
E ainda nessa de popularidade: no que a projeção semi-estelar que o Rafael [Malenotti, vocalista] tem como o Beduíno Albino do MTV Rockgol ajuda a banda?
“Cara, é legal ver o Rafael no Rockgol, aquilo é uma vitrine legal. Claro que o ideal seria as pessoas chegarem em nós pela música, mas assim também é bom. E aqueles caras [Marco Bianchi e Paulo Bonfá, apresentadores do programa] são uma troça só, cê dá muita risada com eles”.
Como não se vive só de amenidades, aproveito para desengavetar uma pergunta antiga: por que o baixista (e membro fundador) Beto Abreu saiu da banda?
“Porque com essa coisa de banda, chega uma hora que não dá mais. (pausa) Teve hora que pensamos até em falar: ‘bá, cada um pro seu lado, vamos acabar com isso’. Mas precisamos chegar e falar pra ele que tava na hora de sair. E foi isso”.
E hoje, com Diego Lopes no baixo (e nos teclados também) e Daniel Mossman na segunda guitarra (deixando Rafael só com o microfone), a banda, completada pelo guitarrista Alexandre Móica, segue numa linha mais “melodia setentista” que nunca. Esse caminho vai continuar sendo trilhado?
“Olha, cara, nenhum disco funciona muito de caso pensado, não. É meio que na hora que a gente decide. Mas se for pra te dizer, eu te diria que o próximo disco de estúdio do A&V vai numa linha mais Esse Som Me Faz Tão Bem (2005) que na linha do Creme Dental... Esse foi um disco muito porrada, até as baladas são porrada! (risos) Era uma coisa que a gente queria na época, mas acho até que rolou uma forçada no som para chegar nesse caminho, sabe? Acho que Esse Som... é próximo ao nosso disco de 1999, e acho que é nesse caminho que vamos continuar”.
E já que estamos nessa conversa, dá para você dizer qual disco dos A&V você considera teu preferido, um realmente afudê?
“Ah, eu diria o de 2001 (N. também chamado Acústicos & Valvulados), com certeza”.
Mais umas bobagens e faz-se o tempo do vinho acabar e da banda subir ao palco. Eu me muno de umas cervejas e fico no backstage, pensando que o formato acústico funciona que é uma beleza com eles. Penso ainda que Alexandre Móica funciona como melhor cantor que Rafael Malenotti, que as novas canções têm uma cara entre o country e o bittersweet, que o arranjo para “Milésima Canção de Amor” ficou muito massa, que a platéia tá cheia de gurias lindas e cantantes... Enfim, que eu estou numa festa com uma banda cheia de carisma e boas canções, e tenho mais que aproveitar.
Mas antes, um minuto antes do show começar, eu tinha perguntado pro Paulo quanto tempo ele ainda se via fazendo isso. O show já responderia minha indagação, mas ele respondeu assim mesmo.
“Ah, é o que a gente gosta, né meu? Você vê um cara como o Paul McCartney, que ainda tá aí, e tá botando pra fuder, ou um Elvis Costello... Enquanto der, vamos estar aí”.

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1 Comments:

Blogger Túlio said...

taí uma banda que nunca brilhou no "eixo" mas que sempre teve um público no sul. Nenhum de Nós é outro exemplo... os caras vivem só dos seus shows no RS e SC.

2:02 PM

 

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