Jornalismo musical - de novo e sempre
"O rock nacional está esperando faz tempo por uma banda como o Terminal Guadalupe. Adaptado ao tempo presente, Jon Landau talvez se sentisse orgulhoso se soubesse que sua famosa frase "eu vi o futuro do rock'n'roll" ainda pode definir um artista popular, que busca espaço na mídia enquanto compõe grandes canções no anonimato independente. A espera, no entanto, está chegando ao fim. E o futuro está cada vez mais próximo. "A Marcha dos Invisíveis", do Terminal Guadalupe, é o álbum certo na hora certa."
Que porra, cara! O Marcelo Costa é meu amigo e eu gosto dele tanto quanto o respeito. Mas não consegui ler esse texto, apesar de ser fão do TG e estar escrutinando cada mínima nota na imprensa e em blogs sobre o disco vindouro. Por que eu não consegui? Por causa desse papo de "futuro do rock".
Esse vaticínio de críticos sempre me incomodou. Quando eu era mais guri, caí muito nesse papo - e gastei muito dinheiro com discos que não passavam de engodos. Depois de um tempo, quando comecei a freqüentar o "meio" (do qual nunca fiz parte), pude perceber que essa falácia se repete, basicamente, por três motivos: 1) pela necessidade de tentar criar impacto em algo que perdeu o poder impactante, socialmnete falando, há tempos: a música; 2) pela camaradagem que há entre bandas e jornalistas, que muitas vezes vai na base do "eu frequento seus shows, você vai nos meus churrascos e me põe de graça, e quem sabe eu como alguma indie gordinha que sobrar dos seus shows"; e 3) pela preguiça textual, já que muita gente repete o mesmo modelo de escrita desde sempre, imitado de textos semi-lidos de Lester Bangs, dicas do "Quase Famosos" e - horror - fac-símiles da fase final da Bizz.
Se eu estivesse em São Paulo, conversaria com o Marcelo sobre isso. Não quero que pareça que estou acusando-o ou depreciando-o, só tem a ver com um maneirismo que ele escreveu (algo do qual poucos de nós, que nos metemos a escrever, estamos livres) e que me fez pensar sobre o estado enlameado do que costuma ser referido como "jornalismo cultural". Até acho que a empolgação, por ser ele também grande fã e entusiasta da banda, levou-o a se referir ao TG como "o futuro do rock". Mas o rock vem há anos vivendo de passado. Pixies, Sonic Youth, e outras bandas dos anos 80 tidas como "revolucionárias" nada mais fizeram que reciclar o formato duas guitarras-baixo-bateria. O Radiohead e seu OK Computer trazia um Can mais palatável. Tudo coisa de valor indiscutível, mas não apontaram exatamente um “futuro”. Até porque quando falamos em mudar os rumos da música, falamos da música que atinge as massas. E as massas estão com Beyoncé, Fall Out Boy e a trilha sonora do High School Musical da Disney, além de várias reedições dos artistas de sempre. Cadê o “futuro” que esses caras trariam?
O TG é uma grande banda. Só não vou dizer “maior do Brasil” (coisa que já disse) porque numa terra onde há La Carne, Cascadura, OAEOZ, Íris e The Vain, é injusto indicar só uma banda. Acredito na qualidade e no poder do trabalho deles, mas o “futuro” que eles trarão será para o ouvinte que se empolgar com A Marcha dos Invisíveis, se empolgar talvez até ao ponto de formar uma banda. Mas o futuro da música como um todo parece estar sendo encaminhado para a entropia. Por culpa de músicos e de ouvintes também, que fique claro.
Mas para a música sempre haverá esperança. Agora, para os textos que versam sobre ela (que costumavam ser legais), seria preciso uma coisa meio “destruir para reconstruir”. Mais ou menos o que o Gordurama faz. Os demais estão preocupados com o mercado (a frase desabonadora adequada aos tempos modernos seria “os críticos de rock são administradores e analistas de mercado frustrados”), com a vocação para Mãe Dinah, com as bocas livres em camarins, com a repetição de padrões textuais e com o culto ao próprio nome.
E o futuro do rock brasileiro é reflexo do passado. E o passado é Jota Quest e Charlie Brown Jr., equação que resultou no NX Zero.