Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Friday, January 26, 2007

Jornalismo musical - de novo e sempre

"O rock nacional está esperando faz tempo por uma banda como o Terminal Guadalupe. Adaptado ao tempo presente, Jon Landau talvez se sentisse orgulhoso se soubesse que sua famosa frase "eu vi o futuro do rock'n'roll" ainda pode definir um artista popular, que busca espaço na mídia enquanto compõe grandes canções no anonimato independente. A espera, no entanto, está chegando ao fim. E o futuro está cada vez mais próximo. "A Marcha dos Invisíveis", do Terminal Guadalupe, é o álbum certo na hora certa."

Que porra, cara! O Marcelo Costa é meu amigo e eu gosto dele tanto quanto o respeito. Mas não consegui ler esse texto, apesar de ser fão do TG e estar escrutinando cada mínima nota na imprensa e em blogs sobre o disco vindouro. Por que eu não consegui? Por causa desse papo de "futuro do rock".

Esse vaticínio de críticos sempre me incomodou. Quando eu era mais guri, caí muito nesse papo - e gastei muito dinheiro com discos que não passavam de engodos. Depois de um tempo, quando comecei a freqüentar o "meio" (do qual nunca fiz parte), pude perceber que essa falácia se repete, basicamente, por três motivos: 1) pela necessidade de tentar criar impacto em algo que perdeu o poder impactante, socialmnete falando, há tempos: a música; 2) pela camaradagem que há entre bandas e jornalistas, que muitas vezes vai na base do "eu frequento seus shows, você vai nos meus churrascos e me põe de graça, e quem sabe eu como alguma indie gordinha que sobrar dos seus shows"; e 3) pela preguiça textual, já que muita gente repete o mesmo modelo de escrita desde sempre, imitado de textos semi-lidos de Lester Bangs, dicas do "Quase Famosos" e - horror - fac-símiles da fase final da Bizz.

Se eu estivesse em São Paulo, conversaria com o Marcelo sobre isso. Não quero que pareça que estou acusando-o ou depreciando-o, só tem a ver com um maneirismo que ele escreveu (algo do qual poucos de nós, que nos metemos a escrever, estamos livres) e que me fez pensar sobre o estado enlameado do que costuma ser referido como "jornalismo cultural". Até acho que a empolgação, por ser ele também grande fã e entusiasta da banda, levou-o a se referir ao TG como "o futuro do rock". Mas o rock vem há anos vivendo de passado. Pixies, Sonic Youth, e outras bandas dos anos 80 tidas como "revolucionárias" nada mais fizeram que reciclar o formato duas guitarras-baixo-bateria. O Radiohead e seu OK Computer trazia um Can mais palatável. Tudo coisa de valor indiscutível, mas não apontaram exatamente um “futuro”. Até porque quando falamos em mudar os rumos da música, falamos da música que atinge as massas. E as massas estão com Beyoncé, Fall Out Boy e a trilha sonora do High School Musical da Disney, além de várias reedições dos artistas de sempre. Cadê o “futuro” que esses caras trariam?
O TG é uma grande banda. Só não vou dizer “maior do Brasil” (coisa que já disse) porque numa terra onde há La Carne, Cascadura, OAEOZ, Íris e The Vain, é injusto indicar só uma banda. Acredito na qualidade e no poder do trabalho deles, mas o “futuro” que eles trarão será para o ouvinte que se empolgar com A Marcha dos Invisíveis, se empolgar talvez até ao ponto de formar uma banda. Mas o futuro da música como um todo parece estar sendo encaminhado para a entropia. Por culpa de músicos e de ouvintes também, que fique claro.

Mas para a música sempre haverá esperança. Agora, para os textos que versam sobre ela (que costumavam ser legais), seria preciso uma coisa meio “destruir para reconstruir”. Mais ou menos o que o Gordurama faz. Os demais estão preocupados com o mercado (a frase desabonadora adequada aos tempos modernos seria “os críticos de rock são administradores e analistas de mercado frustrados”), com a vocação para Mãe Dinah, com as bocas livres em camarins, com a repetição de padrões textuais e com o culto ao próprio nome.

E o futuro do rock brasileiro é reflexo do passado. E o passado é Jota Quest e Charlie Brown Jr., equação que resultou no NX Zero.

Wednesday, January 17, 2007

Franquias de salvação

Dizem que o ser humano inventou as suas próprias formas de fé. Acredito. Como também acredito que existe um deus, mas o nome, a forma e tudo o mais ligado a ele (ou ela?) não pertencem a nenhuma “franquia” religiosa, e que ninguém tem concessões do serviço de Deus ou relação mais íntima com ele só por causa de determinada afiliação. E tenho uma sensação reconfortante quando converso com pessoas que também crêem nesse deus “apolítico” e sem filiação institucional, mas respeito quase tranqüilamente quem não pensa assim. Mas a “pluralidade” está passando dos limites. De quaisquer limites.

Uns meses atrás, o Márcio Américo listou em seu blog umas igrejas pinçadas da Lista Telefônica da Cidade de São Paulo. O idôneo jornalista Georges Bourdoukan listou outras mais, tiradas da mesma fonte. Quem duvidar, consulte a lista.

Assembléia de Deus Batista A Cobrinha de Moisés (Que Engole as Outras)

Assembléia de Deus Fonte Santa em Biscoitão

Congregação Anti-Blasfêmias

"Igreija" Evangélica Muçulmana Javé é Pai

Igreja Abre-te-Sésamo

Igreja Assembléia de Deus Adventista Romaria do Povo de Deus

Igreja Bailarinas da Valsa Divina

Igreja Batista Floresta Encantada

Igreja da Bênção Mundial Pegando Fogo do Poder

Igreja Dekanthalalabassyí

Igreja do Louvre

Igreja ETQB, Eu Também Quero a Bênção

Igreja Evangélica Batalha dos Deuses

Igreja Evangélica do Pastor Paulo Andrade, O Homem que Vive sem Pecados.

Igreja Evangélica Idolatria ao Deus Maior

Igreja MTV, Manto da Ternura em Vida

Igreja Pentecostal Marilyn Monroe

Igreja Quadrangular O Mundo É Redondo

Ministério da Advertência de Jesus na Terra da Igreja do Cavalo Branco do Apocalipse, com o Missionário JFP, o Supremo Rei a Serviço do Senhor Jesus.

Templo Evangélico Chafariz de Aparições

Os comentários eu deixo para quem quiser fazê-los.

Saturday, January 13, 2007

Resolvendo algumas coisas

Como (quase) todo mundo, aderi ao orkut já faz um tempo e reconheço as qualidades dele (limitadas, mas existem e valem a pena). Só que também já faz um tempo que seus dados irritantes (nada limitados) me cansam e aborrecem, então, aproveitando uma noite de insônia (excitação pré-viagem), sentei-me frente ao micro e comecei a apagar os contatos que não me interessavam mais.

Podia simplesmente apagar minha conta e parar de usar a coisa. Seria mais prático, mas ainda desfruto de algumas das tais vantagens. Então, aproveitei-me de uma noite de insônia (excitação pré-viagem) e comecei a apagar pessoas que não me interessavam mais, gente cuja cara não quero mais ver, gente que se revelou interesseira, gente que eu aceitei só para fazer um social, gente que eu não conheço ou, simplesmente, gente que me dá nos nervos. Se você não está mais lá, é um desses casos, pode saber. Mas duvido que os "eliminados" sequer saibam que eu tenho um blogue.

Nesses tempos internéticos, é quase tão comovente e catártico como rasgar uma foto. É deixar claro para si - e para os outros - que você não está mais aí para eles. Uma atitude que pode ser facilmente vista como "agressiva", justamente porque é. É infantil também. Mas se o tal do orkut é uma maneira de tornar nossa vida algo público, que então eu pelo menos mostre o que eu quero mostrar. Ou melhor dizendo, A QUEM eu quero mostrar.

Já não divulgo o endereço do meu blogue no Scream&Yell porque não quero ver desconhecidos fingindo familiaridade comigo. Também não quero a baitolagem blasé vindo com suas opiniõezinhas elitizadas e irrefletidas vindo para cima de mim. Também não o coloco no perfil do citado "site de relacionamentos" para não correr o risco de ter algum boca-aberta vindo cair aqui. O blog existe e continua existindo por causa da minha vontade de escrever (terapia para alguns, narcisismo para outros, vocação para outros ainda; acho que os três valem para mim) e por causa dos bons amigos, que sentam e compartilham idéias. Em uma dessas aulinhas com moral de história que você tem na catequese, me disseram que quem divide fica com algo incompleto, e quem compartilha, dá ao outro em igual quantidade o que tem. É por aí, e perdoem o lugar-comum.

Portanto, quem estiver nessa intenção de compartilhar umas idéias, será sempre muito bem-recebido (ainda que com o tradicional atraso na resposta). O resto, fora. Você não perde o seu tempo e eu não perco a minha paciência.

E quem teve a "foto rasgada", teve. Não é vergonha de passado nenhum. É só um querer de não fazer mais parte do presente.

Wednesday, January 10, 2007

Abrindo os trabalhos

O ano começou bem, com duas matérias já há muito feitas, que finalmente foram ao ar no Scream&Yell: entrevistas com os argentinos do Árbol e com o dramaturgo e escritor Mário Bortolotto.

O Árbol foi uma grata descoberta que eu tive graças à Rolling Stone argentina (às vezes, eles dão umas dentro), uma banda com um senso melódico único e um humor insuspeito. No som adolescente de Árbol (1999) e Chapusongs (2002) já havia mais inventividade musical do que poderiam sugerir os versos óbvios, com charanga, flauta, trombone e violino apontando caminhos mais ousados e criativos. O ápice chegou com Guau! (2004), o primeiro que eu tive a oportunidade de ouvir e não canso de escutá-lo até hoje. Desse álbum consta "El Fantasma", canção cujo clipe eu já postei aqui, mas o disco todo é uma coleção de power pop de primeira.

Detalhe: Edu Schmidt, o multihomem da banda, saiu em carreira solo dois meses após a realização da entrevista. Isso não defasa em nada as declarações, e o tal papo de "tentar manter a banda unida" já mostra que o discurso polido e profissional das bandas é o mesmo em qualquer idioma...

Já Mario Bortolotto dispensa apresentações (mas por via das dúvidas, o texto tem uma, para quem quiser saber). É uma influência enorme para mim, e não nego certa vergonha em admiti-lo. Vergonha não porque seja um problema ser influenciado por Bortolotto, mas sim porque muitas vezes me vi tentando copiá-lo textualmente (e até discursivamente), como um adolescente que se fascina com uma escrita apaixonante e direta. E foi bem isso que aconteceu após eu ler Bagana na Chuva, já resenhado no Gordurama. Mas o tempo passa e a gente se liberta dos fantasmas, restando o prazer da leitura e algum tanto de sentimento e aprendizado.

Quer ler as entrevistas? Vai lá no Scream&Yell.

Entrevista com Mário Bortolotto.
Entrevista com Edu Schmidt, (agora ex-)Árbol.

It's back...


... porque, se até os Pixies retornaram, qual seria a razão para este blog não retornar também?

E feliz 2007 pra todo mundo! Vai ser um ano foda. Pode acreditar!