Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, December 20, 2006

Dia 6 - ¿Para que numerar os dias?

YO NO ME SENTARÍA EN TU MESA
Los Fabulosos Cadillacs

Por más que quieran sacarnos de nuestro lugar
y pienses que sólo somos un puñado de idiotas
no no podrás quitarnos lo que hicimos ya
ahora somos más hermanos que antes
ya no podrás mirarnos a los ojos más
nosotros somos amigos, vos que sòlo estás
por más que quieras tapar toda nuestra voz
nunca podrás callar esta canción

Y si después no crees lo que te estoy diciendo
mirá mis pies bailando al son de este ritmo
voy a vestirme de traje aunque me vea mal
voy a saltar toda la noche sin parar de silvar
está lloviendo pero yo no me voy a mojar
mis amigos me cubren cuando voy a llorar
por más que quieras tapar toda nuestra voz
nunca podrás callar esta canción


Ingênuo? Pode ser, mas quando você está a 2000 km dos teus chapas, no meio de uma puta lluvia, com vinho nas idéias em pleno aniversário, depois de ter visto dos lugares mais pirantes à miséria mais desconcertante, essa cançao adquire um puta sentido. Pode crer que sim.

E com isso,saio de férias desse blog. Dificilmente vou acessá'lo nas pròximas três semanas. Mas depois... depois a gente vê.

E por ora, a gente se vê aí na estrada.

Valeu, Cafayate! Valeu, Salta, Jujuy, Purmamarca, Tilcara, San António de Los Cobres e demais lugares! E acima de tudo, valeu a TODOS os que estao aí na área. Vocês sabem quem sao. Abraçao!

Tuesday, December 19, 2006

Interlúdio - Veinte y ocho años

Queria dizer que completar 28 anos nao significa nada, mas desculpa aí, significa. Para mim, significa muito. Nao pela cifra em si (28 nao é diferente de 18, que nao é diferente de 31 e assim vai=, mas pelo fato de estar passando, pela primeira vez em 28 anos, o aniversário sozinho. OK, admito: uma vez, na tenra infancia, com meu já falecido irmao Ricardo no hospital com hepatite, passei sozinho também, mas era criança e isso nao conta muito. Ou nao? Ah, foda-se.

O que conta é que a ¨pessoa importante¨, conforme descrita no texto abaixo, a pessoa importante que está mais próxima, está a uuns 1300 km de distância. Estou no princípio da Cordilheira dos Andes, com dois caras muito massa que saíram de seus compromissos (sono atrasado, vôo muito cedo) para me dar parabéns regado a cerveja Salta, "una basura", como diria meu camarada chaqueano Miguel. Depois, o mesmo Miguel me daria um "porrón" (garrafa litro) de Heineken como presente de aniversário, em frente a Praça 9 de Julho de Salta.

A noite em Salta é muito iluminada e inspiradora, e eu estava formulando um texto genial - ou pensava que o estava fazendo - enquanto caminhava por elas sozinho nessa madrugada de 20 de dezembro. Ruas limpas e bem iluminadas, cuja maioria dos bares estao fechados, e as calçadas cheios de prestativos mas nem sempre gentis homens da lei. Mas esse texto se foi enquanto eu conversava com o Raul, um garoto interessadíssimo nas garotas de Minas Gerais (un pibe muy sagaz, a decir) e tomava umas Heinekens mais. Claro que eu estava bêbado, assim como é claro que a bebedeira quase passou por completo, graças à caminhada no clima árido (mas agradável) e ao delicioso mate cozido preparado pela tiazinha do albergue, e a tal "genilaidade" me escapou e o texto dança em algum lugar da minha memória.

Sei que comemorei meu aniversário entre desconhecidos, sem a melancolia do ano passado e a emotividade do retrasado. Mas o abraço pra lá de sincero do Raul antes de eu ir embora deixando a Heineken vazia fez a coisa toda ter sentido.

Faz vinte e oito anos que eu nasci. Pode ser algo de alguma insignificância, talvez de toda a insignificância do mundo. Mas para mim nao está sendo. Sao vinte e oito anos carregando essa carcaça, agora cheia do pó dos Andes e resíduos de folha de coca. Eses venenos naturais vao passar, a memória nao. E eu tenho memórias muito divertidas, intensas e equivocadas desses 28 anos. Memórias que variam do vazio ao preenchido pelo poder da ilusao momentanea. Memórias que eu deixo de lado agora para desfrutar o momento.

O momento. Nao os vinte e oito anos, mas esses vinte e oito segundos onde esses vinte e oito anos começam a fazer sentido.

Dia 5 - "Hay una grieta en mi corazón"...

Engraçado. Passei boa parte do ano sonhando em visitar o Pucará de Tilcara (o tal clip do Soda Stereo que está uns posts abaixo), sair pela Quebrada de Humahuaca em Salta e Jujuy meio sem rumo. Ao chegar aqui, descobri que nao dá para ser tao sem rumo assim porque as distâncias sao grandes, e para visitar tudo como se deve, tem que ter mais paciência, grana e tempo. O primeiro eu tenho de sobra (para certas coisas, nao para tudo e todos, claro), o segundo nao e o terceiro... Aí é que está: até tenho, mas... pra que?

Enquanto viajava nas nada confortáveis poltronas da viaçao Andesmar, pensava que ao mirar a vasta paisagem árida que compoem as Salinas Grandes e, principalmente, o panorama a partir do Pucará, encontraria umas respostas pessoais que me faltam. As duas visoes foram impressionantes, por certo (e ainda que nao tenha passado todo o tempo que gostaria em Tilcara, é certo que aquele cenário vai me acompanhar por uma boa parte da vida, senao toda), mas a tal resposta veio de outra forma. Nao estava em fortalezas pré-incas ou em paisagens desérticas, mas sim em algo que sempre levo comigo: meus amigos.

Sem qualquer medo da pieguice ou do constrangimento, mas faz meses que eu sinto que preciso de um repouso - repouso do trabalho, da correria, das responsabilidades da casa, do calor de Foz do Iguaçu e até da própria cidade de Foz - e sabia que uma viagem me cairia bem, como essa caiu. Mas a necessidade maior nao estava em percorrer rotas longas ou conhecer coisas diferentes; estav a, sim, em encontrar quem me importa. Porque uma viagem dessa seria muito melhor se depois eu me sentasse com uns camaradas para tomar uma cerveja ou pudesse abraçar minha namorada quando bate um vento frio no alto dos Vales Calchaquíes. Mas podia ser o bom, velho e belo Vale do Paraíba mesmo. Ou a Medianeira (PR) dos fins de semana de chimarrao, churrasco e conversa. O importante estava em dividir as coisas com quem realmente me importa.

Claro que eu nao sabia de nada disso antes de fazer essa viagem. Eu sempre estou de olhos fechados para o óbvio. Aliás, só os aspirantes a chefe-de-um-escritório-qualquer enxergam o óbvio. E claro que eu encontrei gente com quem sentar e tomar uma cerva, fosse um cozinheiro gordinho e careta de Buenos Aires, um nerd italiano magricela e de mente aberta, um casal de tiozinhos figuraças e uma australiana sardenta com cara de melhor amiga da adolescência. Todos divertidos e, até certo ponto, gente de conversa interessante (também encontrei os de conversa desinteressante, mas desses já falei no post anterior). Mas amigos de conveniência, com quem nao vou ter nenhum contato depois que formos embora daqui - e eu estou indo amanha, para depois subir em direçao a Taubaté.

Os meus amigos estao em alguns lugares bem específicos. Claro que vou conhecer outros que terao um papel tao fudidamente querido em minha vida, outros poucos, mas bons outros. Só que esses estao muito a frente. Agora estao aqueles de quem sinto falta e nao vejo a hora de estar perto de novo. Claro que, depois disso, vamos nos afastar novamente. Mas a gente se encontra. A gente sempre se encontra. Nem que um de nós esteja nos Andes e o outro, na puta-que-o-pariu.

Monday, December 18, 2006

Dia 4 - "Sólo paquetes de turismo son"

Já ficou feliz quando o carro em que você está quebra? Hoje eu fiquei. "Vamos a tener que parar porque estamos sin pastillas de freno", disse o motorista rocker (Argentinean style, claro) e eu segui uma boa parte do caminho a pé. Só que esse caminho era a Costa de Lipán, perto da fronteira com a Bolívia, a 4100 metros de altitude. Os morros de cores diferentes ganham tonalidades distintas conforme o sol se poe e em algum lugar e momento, eu berrei de alegria. O resto do tempo, só fiquei caminhando e olhando, caminhando e olhando. O resto era desnecessário.

Também percorri a maior parte da área conhecida como La Puna, uma regiao árida (mas nao quente), cheia de plantas autóctonas (cactos e similares) e altiplanos, um dos quais é um deserto de sal de 500 km de extensao, onde as pessoas que lá trabalham recolhendo sal, o fazem para ganhar quinze pesos (cerca de R$ 12,00) a cada tonelada recolhida. Demora dois dias inteiros para juntar essa quantidade.

Passei também pelo povoado empoeirado de San António de Los Cobres, e assim como nas Salinas, gente miserável, se sujeitando a oferecer-se para uma foto frente a camera dos eurobabacas, em troca de uma moeda.

É emputecedor ver como a gente do assim chamado primeiro mundo vê a nós, latino-americanos (e acredito que o mesmo se passe aos africanos e asiáticos), como exóticos, dignos de figurar em nossas fotos como os pais fazem com os filhos, colocando-os ao lado de animais enjaulados num zôo. A única difreneça na atitude desse tipo de gringo, é que no zoológico você vê a jaula. Aqui o problema é mais tênue na percepçao e mais afrontador na essência.

Existe algo de estranho nesse turismo de consumo de recursos humanos que roda por aqui. E é também estranho que esse pessoal chegue às ruas pedindo para ir a lugares "nao-turísticosª... Como se isso se descobrisse perguntando aos recepcionistas de hotel. Uma cidade você conhece com tênis de sola firme e muita disposiçao, malaquice e, acima de tudo, humildade. Falta de sobra a essa galera aí.

Ah, sim, claro que os recepcionistas de hotel e atendentes de albergue mandam todo esse povo para os lugares disfarçados de "nao-turísticos", mas que só existem para tomar os euros desses otários. Vai ver se você encontra um saltenho lá!

E essa coisa toda do salar... Quinzao por dois dias... Nao consegui nem me indignar. Só fui tomado por uma tristeza, aquela que você prefere deixar de lado e esquecer, mas nao consegue tao facilmente assim...

Amanha, ou a Tilcara, ou pelas ruas de Salta.

Saturday, December 16, 2006

Dia 2 - Ainda em Salta... e por mais tempo!

Certas coisas você só consegue fazer na Argentina. Por exemplo, depois de tomar generosas doses de mate com coca (legalizado e comprado no supermercado), saí para encarar um frango com molho de alho e vinho branco a um preço ridiculamente baixo (R$ 9,00 um prato que dá fácil para duas pessoas). Claro que o nosso câmbio nos favorece. Mas isso - com licença, Mario Bortolotto - é algo que eu chamo de ascensao social. Há pouco mais de um ano, eu mal tinha grana pra comer algo que nao fosse pao com mortadela e comida por quilo barata; cerveja, só filando dos outros. Fico muito feliz e realizado que as coisas nao sejam mais assim.

Depois disso, e de contemplar umas igrejas cuidadosamente restauradas, fui desfrutar da paisagem e dos ventos que adornam o Cerro San Bernardo, o monte que define geograficamente Salta. Nao vou me arriscar a muita pieguice, mas toda essa coisa de morros, pássaros e vales verdes me lembrou meu querido berço, o Vale do Paraíba, sem nem levar em conta o sotaque castelhano.

E é aí que você pára pra pensar em certas idéias de "diferenças"... Os argentinos daqui (noroeste) odeiam os bolivianos com um preconceito cego que é igualzinho ao preconceito que alguns muitos paulistanos nutrem em relaçao aos nordestinos (e alguns taubateanos aos mineiros, só para citar um exemplo menos óbvio). Você topa com o tipo "gringo-mochileiro-cuzao" que veio só para farrear na taba dos índios, e topa com o estrangeiro que viaja com respeito e genuíno interesse. Topa comn garçons tristemente servis e outros alegremente amigáveis. Somando isso, e colocando na balança, é capaz que você chegue a lugar nenhum. Foi onde eu cheguei.

É que existe a emoçao de estar aqui. Realmente eu estou muito feliz e emocionado por ter feito essa viagem, e estou contando os dias para ir a Purmamarca (segunda) e Humahuaca (terça). É capaz que eu nao escreva nada sobre essas viagens. Já estou achando tudo isso "diarinho" demais e meu deslumbramento nao está ajudando a manutençao de uma boa imagem. Mas quer saber? Estou feliz pacas, e quis dividir isso com os amigos.

Amanha é dia de correr pelos canyons de Cafayate, e o "temblor" está sob controle. Mas vai aumentar. E licença aí, que agora tem um churrascao!

Dia 3 - Cafayate

Nao escrevi nada sobre Cafayate, né? Agora já foi.

Friday, December 15, 2006

Dia 1 e 1/2 - Salta

27 horas de onibus e muitas províncias depois, cheguei a Salta, peníltima provincia argentina antes da Bolívia. Uma paisagem monótono, pobre e suja acompanhou'me pela maior parte do trajeto, até que as coisas comecassem a mudar em Tucumán. Pequenos morros comecam a aparecer e a vegetacao comeca a ficar mais bonita.
No trajeto, uma perita forense argentina (e missionária evangélica gente boa, mas meio cegueta de percepcoes) e uma estudante de medicina australiana )de poucas palavras, mas cordial e simpática) me fizeram companhia, e junto com alguns pensamentos de fé e outros da mais deslavada putaria fetichista, tornaram a odisséia menos cansativa.
Salta parece uma Sao Bento do Sapucaí vitaminada; um milhao de habitantes numa cidade rodeada de morros. Museus e muitos bares, avenidas largas e pessoas com cara de índio dao a cidade uma aparencia distinta e mais singular. Mas aqui ainda nao é meu foco, é só um ponto de parada. Amanha vou dar uma banda pela cidade, ver qual é, e preparar meu trajeto a Jujuy. Aguardemos.

Thursday, December 14, 2006

Cuando Pase El Temblor

Pucará de Tílcara, província de Jujuy, extremo noroeste da Argentina. Hoje entro num ônibus e encaro trinta horas a caminho desse lugar. O "temblor" está grande, e só vai passar quando eu chegar lá. Até lá, fé em Deus, o amor da namorada e alembrança dos amigos.
Até mais, moçada! Fui!

Wednesday, December 13, 2006

Mal bicho


Pinochet morreu. Tudo que ele representou, não. A crueldade segue, sem ditaduras "estabelecidas", mas presente em várias outras, tão mais obscuras como cruéis.

Esse clipe tem mais de dez anos e foi censurado no Chile. Até hoje.

Os Cadillacs no auge, a tortura também.

"La canción que es valiente es canción para siempre". Será?

Los Fabulosos Cadillacs - La parte de adelante


Los Fabulosos Cadillacs foi uma das minhas melhores descobertas musicais desde que vim morar aqui na fronteira. Na verdade, minha amiga Márcia já era fã dos caras, mas nunca tinha tido a oportunidade de ouvir com calma. Era uma rara combinação de vários talentos, destacando o baixista "Señor" Flavio Ciancirulo e o vocalista Gabriel Fernandez Capello, vulgo Vicentico, dono de uma voz carismática, aguerrida e melódica ao mesmo tempo.
Como o Police, eles nunca "acabaram", só saíram de cena e foram cada qual cuidar da própria vida. E esse ano, se reuniram para gravar uma única faixa no tributo duplo a Andrés Calamaro, lenda viva do rock argento. O disco é picareta, mas a gravação deles é uma das melhores canções desse ano. Está tudo lá: os arranjos cuidados de metais, as linhas de baixo que são quase solos, os toasts esporádicos e Vicentico cantando bem como sempre, tudo sem perder a bela melodia da original.
Mas o que me emociona mesmo é o clipe: esse bando de tiozinhos com suas cuias de mate e suas boinas, sem qualquer pose e sem a preocupação de esconder as panças e os cabelos brancos, os que ainda os têm. O que interessa ali é a música e - perdoe a ingenuidade - a amizade. Há algo de muito forte na expressão vincada e feliz desses camaradas, que, sabiamente, fizeram o clipe todo no estúdio onde gravaram a canção. Vão voltar? Não sei, mas seguem mostrando - como já cantaram uma vez - que ser velho não significa ser decadente.

Monday, December 11, 2006

Em nome de Deus

"Em nome de Deus católicos criaram a Inquisição;
Em nome de Deus anglicanos criaram o Colonialismo;
Em nome de Deus judeus criaram o Sionismo;
Em nome de Deus luteranos criaram o Nazismo.
Em nome de Deus batistas criaram o Imperialismo
Juntos louvam a Yankeesição batizada de globalização;
Que acusam muçulmanos de fanatismo;
Tudo em nome de Deus!
Pobre diabo...
Pobre humanidade..."

Isso é do Georges Bourdoukan, jornalista e escritor. Ele tem um blog agora, esse aqui. Vale.

Saturday, December 09, 2006

Leituras recentes

Nunca li tanto quanto esse ano, e várias razões, do desânimo com o trabalho ao prazer da leitura, contribuíram para isso. O fato de eu ter ido morar sozinho, i.e. sem amigos ou namorada, ajudou também. Listar o que eu li esse ano seria arroto de erudição inútil, mas recentemente me caíram esses na mão:


ZERO - Ignácio de Loyola Brandão

Fazia uma cara que eu tinha vontade de ler esse livro, mas sempre deixava para depois. Encontrei-o baratinho (R$ 5,00) num sebo em Londrina e o levei. Como "Não Verás País Nenhum", é um livro apocalíptico, que começa devagar, tem um desenvolvimento poderoso e um final cansado e cansativo. Parece que Loyola desenvolvia a idéia, se entregava a ela como um junkie obcecado, escrevendo nu (ele de fato o fazia) sob inspiração subconsicente e febril, deixando tudo que vinha à mente tomar forma no papel, mas depois se cansava e lhe faltava pique para manter o envolvimento no final. De qualquer forma, a alegoria nada sutil às ditaduras da "América Latíndia" e as seqüências de sexo com fezes e espancamento devem ter incomodado os editores, que rejeitaram a obra por 06 anos, publicaram em 1975 e capitularam à censura do governo militar pouco depois. Ainda hoje, a falta de pudor e a crueza política impressionam, e a lua-de-mel de José com Rosa é para ser relida à exaustão - ódio, nojo, paixão e despudoramento explodindo em sons e palavras, o gozo de transar apaixonadamente com raiva, "amo Rosa porque é gorda, vou encher essa gorda de porradas, olha o umbigo de Rachael Welch, como é gostosa minha mulher, porraaaaaaaa". Mas o final, com toda a coisa macumbeira e messiânica, é anti-climático. De qualquer forma, se eu tivesse lido com 16, estaria nam inha lista de melhores de todos os tempos.


O CLUBE DOS ANJOS - Luis Fernando Veríssimo

Sou fã assumido do Veríssimo cronista, mas nunca tinha lido seus romances. Encontrei esse a R$ 15,00 no mesmo sebo londrinense e o levei para casa. Críticos da VEJA e afins reclamavam do fato de ele ter a "classe média alta decadente" como personagens-fetiche de seu mundo. Besteira da grossa. Fico imaginando quem dá trela a esse tipo de resenha. O livro segue o mesmo estilo ágil, crítico e algo metalingüístico de Veríssimo, que não tem obrigação de falar dos desdentados do Nordeste para se disfarçar de literário. A história é tão inverossímil quanto engraçada, dez filhinhos de papai meio velhos e muito decadentes morrendo pela própria gula, narrada por um gordinho metido a escritor e vazio como a maioria deles. Li quase numa "sentada" só, e voltei pra casa ligeiro depois do trampo para terminar o que faltava. Divertidíssimo.

A MESA VOADORA - Luis Fernando Veríssimo

Dessas coletâneas de crônicas do LFV que a Editora Objetiva vem editando, essa é a mais pitoresca. O gaúcho destila memórias gustativas e associações culinárias em textos curtos que, ainda que às vezes são um pouco pessoais, divertem como uma boa cervejada num fim do dia. Muitas abobrinhas (não no sentido físico) dignas de serem conversadas numa mesa de bar, mas sem erudição xarope. Veríssimo, ele mesmo assume, não é um gourmet, só um comilão. E consegue divertir até quando fala de um canard qualquer coisa, um prato impenetrável ao mundo dos simples assalariados. Bobinho em uns poucos momentos, divertidíssimo e outros.

ATÉ MAIS, E OBRIGADO PELOS PEIXES - Douglas Adams

O último volume da "trilogia de quatro livros" iniciada pelo ótimo Guia do Mochileiro das Galáxias é infinitamente superior ao terceiro tomo, A Vida, O Universo e Tudo Mais, e quase tão bom quanto o insuperável O Restaurante no Fim do Universo. A saga de Arthur Dent é encerrada de uma maneira, ahn, feliz (não necessariamente), sem perder o cinismo e a acidez que tanto seduzem na obra de Adams. Na verdade, ele não cai na tentação fácil da tragédia, assim como não se capitula a um finalzinho tolo para agradar fãs chorões. Adams termina sua saga como a começou: com um monte de interrogações pertinentemente absurdas, muito humor e o romance mais desajeitado de todos os tempos, não deixando de contemplar jornalistas aduladores, camelôs interplanetários e até um insuspeito deus adorado pela chuva - você leu certo, não é o cara que adora a chuva, mas exatamente o contrário. Virando vários de seus conceitos ao avesso, e mantendo portanto sua lógica desconcertante, Adams sacaneia até o leitor que foi suficientemente estúpido para acreditar que Arthur e Trillian teriam algum romance, ou suficientemente "fanboy" para esperar que a série repetisse sua própria mitologia. Dica: faça uma trilogia de fato, pule o número três, compre os demais e tenha a melhor saga literária dos últimos tantos anos.

Uma pequena bobagem sobre "identidades culturais"

Nasci em Taubaté, interior de São Paulo, “berço do rock brasileiro”, como costumo dizer, já que a Celly Campello era de lá. Morei em Campos do Jordão e passei um tempo na capital paulista. Hoje moro em Foz do Iguaçu, Tríplice Fronteira entre Brasil, Paraguai e Argentina, países que visito com freqüência semanal.
Apesar – ou talvez por causa – disso, não me sinto taubateano, jordanense ou paulistano. Talvez me sinta um pouco “brasileiro”, mas as idas constantes aos países vizinhos me fazem ver que não somos tããão diferentes assim, ainda que não vá me considerar “argentino” porque como empanadas cordobesas bebendo Quilmes e ouvindo rock argento, nem paraguaio porque tenho uma cuia de tererê à mão.
Na verdade, o que eu não entendo é essa necessidade que as pessoas têm de “pertencer” a um lugar, a precisar se identificar com algo que faça referência à geografia onde estão. É claro que isso influencia. Ter nascido no meio de montanhas e rios faz com que muita coisa em mim seja diferente de quem nasceu entre prédios de apartamentos e shoppings. Mas nem por isso vou ter meu caráter definido a partir daí.
Vejo dois discursos retos e planificados tomando dimensões cada vez maiores: o blábláblá insuportável da “globalização” e da “identidade global”, que já se provou inverossímil e mesmo assim encontra perpetuadores; e a insistente afirmação de uma identidade regional ( que é “ser paulistano”, “ser carioca”, “ser curitibano”, etc?). Não consigo compreender a retórica de nenhum dos dois. E não sei me apresentar segundo eles.
Na verdade, isso não tem importância nenhuma e eu raramente penso sobre o assunto. É que, desde que deixei o Estado de São Paulo, percebo o quanto as pessoas – principalmente as ligadas ao “meio cultural” – tem essa coisa de achar São Paulo a quintessência do urbanismo. São Paulo, pra mim, é um caos que pode te trazer muito em termos de vivência pessoal, mas culturalmente, é um reprodutor/pasteurizador de padrões alheios. Salvo raras exceções (a maioria delas fora do grande circuito), São Paulo “vomita” cultura como desfila seus preconceitos: em grande quantidade e sem conteúdo. E as pessoas parecem se orgulhar disso e querer defendê-lo veementemente. Para mim, isso soa muito estranho.

Thursday, December 07, 2006

Sozinho

Conheci o André ZP através da banda dele, o McQuade. Eles cometiam um cowpunk bem legal, mas muito mal gravado. Ainda assim, o disquinho "Meu Mundo Perfeito" era altamente curtível, e a faixa-título, "Dia de Casar" e "Hippies Let's Go!" ficaram na minha cabeça um tempão.
Antes disso, na verdade, já havíamos conversado muito por e-mail sobre Nick Cave And The Bad Seeds, Carl Barks e outros assuntos, por conta de uns textos que eu havia escrito para o Scream&Yell, quando ele ainda não era uma bíblia indie, e mais um "segredo mal guardado" da net. Mas eu cito a banda porque através dela pude conhecer o cara, e não digo apenas vê-lo cara-a-cara. Eu estava organizando um show beneficente na lendária Posso! Skate Bar, em Caçapava, com a ajuda do pessoal do GAPA (Grupo de Apoio e Prevenção à AIDS) e o inestimável suporte do Felipe "Vara", dono do bar, e mais um piá cujo nome não me recordo. Como era um festival beneficente, a verba era curta, muito curta. Ainda assim, propus para o pessoal do selo deles, S2 Discos, trazer a banda através das várias centenas de quilômetros que separam São Carlos do Vale do Paraíba. Eles toparam - de graça. Mais ainda, pagaram para tocar (pagaram a viagem do próprio bolso, com a ajuda de amigos). Tudo isso para divulgar a banda, claro, mas mais porque o evento era beneficente.
E lá conversei muito com o André. Rolou aquela afinidade imediata e insuspeita. Eu dei a ele uma cópia do meu livro "As Pérolas Que Enriquecem os Porcos", e ele me deu o vinilzinho do McQuade e uma cópia em VHS de seu média-metragem, "Crônicas de um Zumbi Adolescente", hilário e bem-sacado.
A amizade que existe entre eu e ele beira (ou supera) as raias do "irmanamento", é um cara que, ainda que nos vejamos pouquíssimas vezes no ano (esse ano não nos vimos), está sempre ao meu lado numa estrada de opiniões, sentimentos e sonhos envelhecidos que teimam em não ir embora, assim como nós não teimamos em largá-los.
Ele tem esse curta aqui, "Sozinho", menção honrosa do Fucking Fabulous Film Festival de Seattle, e uma fonte de repulsa constante para minhas ex-namoradas (a atual surtou quando viu) e amigos. Tá, pessoas pouco afeitas ao não-convencional tremem ao pensar na combinação "podolatria + escatologia". Mas eu, que não sou exatamente podólatra ou fã de gore, adorei. E a música ainda é "Bulawayo", do Hurtmold.
COnsidero esse curta tão sombrio quanto imperdível!

Saturday, December 02, 2006

Ausência - OAEOZ

Muito trabalho e pouco acesso a computadores estão atrasando a atualização desse blog, mas a vida não tem faltado com as fontes de inspiração.

Então fica uma lembrança de um dos melhores shows que eu presenciei.