Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, October 31, 2006

Zapeando pela internet

Tudo tem a ver com sexo, para dizer bem a verdade. Tudo tem a ver com as imagens que são expostas dia após dia, com as vontades não satisfeitas de ter ou não ter, a necessidade que a sociedade moderna criou de dar razão a Freud.

Todo e qualquer estímulo parece ser voltado a gerar uma necessidade de prazer além daquelas que já temos. E esse prazer é uma espécie de consumo onanista digital, onde todos os vídeos, todas as fotos e todos os sons parecem confluir numa espécie de paródia de sexo, digno de figurar nos videos da série Emmanuelle.

Dos quadris sacolejantes e tóraxes anabolizados dos vídeos de hip hop às capas das revistas de fofoca, o corpo transformado em goma de mascar é o maior bem a ser cobiçado hoje em dia. Dinheiro, poder e respeito não são mais que consequências disso. Conseqüências naturais até, diriam os fiéis dessa nova religião, onde "academia" não representa necessariamente uma área de estudo.

Hiper-prazer, como uma espécie de versão parodizada e pasteurizada do admirável mundo novo de Huxley, só que levado a sério demais. Geração de micro-biscates deformando o corpo com calças que favorecem a gangrena e a libido de pedófilos não-assumidos. Masculinidade caricata, tão natural e espontânea quanto um anúncio de perfume. O prazer na auto-flagelação de buscar um corpo falsamente saudável a custa de sacrifícios. Assespsia transformada em prazer, prazer transformado em plástico. Banal.

A prole futura...

Aterciopelados - Maligno


Não posso dizer se essa é a "maior banda de rock colombiano", já que não conheço muito do tema. Mas a banda de Andrea Echverry teve momentos poderosos.
Em seu último disco, o fraquinho Caribe Atómico, tinha essa pérola aqui. Mas para quem quiser, recomendo El Dorado ou La Pipa de La Paz, os dois melhores resolvidos e sem eletroniquices for export.

Sobre a "nossa" MTV

Muito recentemente, andei zapeando pela MTV. Nem tenho TV em casa, mas na casa da namorada, que nem TV a cabo tem, pega. E...
Uns dias atrás, o
André escreveu que a MTV nunca se propôs a ser um veículo alternativo, como faziam sugerir seus dois primeiros anos no Brasil. Ela é, desde seu início, um veículo que se propõe a ser massivo. Seu público alvo nunca foi o indie empedernido ou a pessoa ávida por boa música. Ela é uma vitrine de coisas populares, no meio das quais, com alguma paciência, podem ser encontradas coisas boas. Tampouco ela é um canal musical, apesar do nome. Ela é voltada ao público jovem, e para esse público, a música pop (que dizer o rock’n’roll) é apenas um acessório a ser consumido em seus microcomputadores, ou no caso dos mais abastados, iPods. Uma entidade sem muita importância que fornece letras insossas para serem citadas nos perfis e álbuns de fotos do orkut dessa juventude “impessoalizada”.
Ainda assim, todas essas premissas não desobrigam a emissora de ter o básico: apresentadores bem preparados, que conheçam parte da matéria-prima original do canal (a música pop, oras) e que sejam mínimamente competentes, além de uma certa coerência em sua programação.
Pois bem. Eis que estou assistindo um programinha qualquer na hora do almoço, cujo nome nçao me recordo, apresentado por uma VJ tão bonitinha quanto insossa, uma certa Luisa (eles continuam com aversão a sobrenomes, pelo visto). Ela entrevistava o anedótico Martin Algar, vulgo Olga, vocalista e guitarrista dos lendários Toy Dolls. Foi uma grata surpresa: eu não sabia que os Dolls ainda existiam, menos ainda que estavam tocando no Brasil. Assim como foi surpreendente ver o quanto Olga continua jovial, apesar dos anos de turnês intermináveis, bebedeira e cheiração. Porém foi decepcionante ver que a apresentadora não tinha a menor noção de quem ele era. E quando ele citou o Cólera em resposta à original pergunta “quais bandas brasileiras você conhece” (tá, até eu já perguntei isso a uns artistas. Mea culpa), deu para perceber que ela sequer desconfia que banda é essa. Pô, é sobre música a entrevista! E a menina não conhecia Toy Dolls e Cólera. Ainda fosse, sei lá, Eddie And The Hot Rods e Pupilas Dilatadas, vai lá. Mas as bandas em questão são mínimos denominadores comuns do punk. Os Dolls foram tão fundamentais para a adolescência de alguns brazucas quanto os Ramones. E a banda de Redson é sinônimo de punk brasileiro na Europa. Luisa, perdidaça na entrevista, só conseguia pôr o Olga para jogar um joguinho on-line inútil e parecia querer forçar um conhecimento de causa que francamente não existia.
Outro dia desses, estava vendo o tal Lab, que passa logo de manhã (07h30, acho), e vem uma seqüência com Caetano Veloso, Dave Matthews Band e REM, para o bloco seguinte trazer Negra Li. Tudo bem, a proposta do programa é não ter um estilo musical fixo. Mas seqüência conta alguma coisa em música. Não dá para você ouvir Anthrax e, logo em seguida, Curtis Mayfield, mesmo que os dois sejam muito legais. O ouvinte não migrou seu estado de espírito de uma coisa para outra. Como ir em um festival e ver o show da Tati Quebra-Barraco antes do New Order (o que vai acontecer no Personal Fest, agora em novembro na Argentina). É inviável. Mas não no Lab, é claro. Pode até ser que role exatamente isso no programa.
Só que a MTV não é causa de nada. É sintoma. Vejo que, a cada ano, a música passa a representar mais um item fashion do que uma forma de expressão artística e emocional para os adolescentes. E a adolescência é a fase onde música costuma ser tudo: diversão, religião, fé, paixão, ódio, distração, razão de viver. Hoje em dia, mal parece ser distração. É algo que está no ar e pronto. Passa com a velocidade das conexões banda larga e desaparece como um arquivo velho deletado. Tem tanta importância quanto o último filme do Adam Sandler. Claro que isso não deveria me assustar num mundo onde Armandinho é ídolo maior e incontestável. Mas assusta.

Sunday, October 29, 2006

Insomnica

Um dia desses encontrei uma foto preto e branco sua
no meio de um caderno de canções


Seus olhos azuis sorriem:

- Cadê a foto preto e branco minha?
- Na carteira. Eu não tenho caderno de canções.

Lembrar de certas manhãs
em que a vida, você e eu
ficávamos leves


Friday, October 27, 2006

Eu não sei quem elas são, Bob. E tenho certeza que não quero saber.

Só conheço a peça Num Dia Comum de ouvir falar, através de citações não tão esparsas nos textos do Mário Bortolotto (sempre ele). Mas compreendi perfeitamente um certo trecho da obra ontem. Sentado à mesa de uma choperia classe média de Foz do Iguaçu, uma mulher (feia) alardeava em altíssima voz para as amigas (igualmente feias, igualmente “produzidas”, todas muito insípidas) sua veemente opinião:

- Eu odeio piscina morna! Odeiooooo! Odeio mesmo! Piscina tem que ser gelada! GELADA!

Aí que eu lembrei:

“- Quem são essas pessoas, Jack?”

Azrael

Israel
O sangue de seus filhos encherá os cálices de falsos cristãos
Pois também em seu seio não há judeus verdadeiros
Ou haverá?
Em seu passado fundado em sangue e traições, há a linhagem do genocida Davi
Assassino, adúltero e prepotente
Que assassinou covardemente a Golias
E justificou sua vilania com o nome de Javé
Hipócritas!
Não pronunciam o nome do Senhor, mas o caluniam e difamam com a vida dos inocentes
Continuam venerando a Mammon e a ele oferecem sacrifícios cheios de glória odiosa
Sei de seu orgulho ao ver escolas destruídas e hospitais arrasados
Sei do prazer perverso que as mutilações lhes proporcionam
Sei dos estupros e da libido irrefreável de sua prole de demônios
Sei de Sabra e Chatilla, sei do Vale do Bekka, sei de seu passado e seu presente
E de seu aliança com o Grande Satã americano, seu irmão espiritual
Povo carregado de crimes!
Quantas mortes serão necessárias para saciar sua ganância?
Quanta destruição será necessária para satisfazer seu ódio?
Sua crueldade não conhece limites? Sua cobiça não conhece fim?
Seu coração, Isarael, é negro
E melhor seria se houvessem lhe batizado de Azrael



Até acredito em alguma espécie de santidade. Mas acredito também que há crueldade que brota da crueldade em si. Maldade pelo prazer de ser mal. E Israel parece ter orgulho de comprovar isso. Sob infinitas camadas de pretensas santidade e retidão, claro.

Escrevi isso no sexto dia dos ataques ao Líbano que ocorreram esse ano.

Tuesday, October 24, 2006

Lo-Fi

Friday, October 20, 2006

Sobre a Música e o que Ela se tornou

Essa eu encontrei no blog De Inverno, mantido pelo Ivan Santos e pela Adri Perin, grandes pessoas lá de Curitiba. O Ivan, aliás, faz parte do OAEOZ, ótima banda (a essas alturas você já ouviu, né ZP?) que sucedeu o Dusty, que tinha ele, Igor Ribeiro e Rubens K (benzadeus!!), caras sobre quem pretendo esccrever em breve. Mas primeiro, leiam o que o Ivan tem a dizer.

A MÚSICA ACABOU
O título acima pode parecer exagerado e incongruente pra alguém que toca em uma banda, tem um selo independente, produz um festival e respira música mesmo quando não a está ouvindo ou fazendo. Mas é exatamente assim que eu tenho me sentido ultimamente às vezes em relação a essa coisa que a princípio eu não dava a menor importância, mas que a partir de um momento invadiu a minha vida de tal forma que ocupou praticamente todos os espaços vazios. Mas o fato é que o excesso banalizou a música de tal maneira que hoje eu as vezes me sinto enfastiado dela, e não consigo mais ter aquela relação de êxtase que antes tinha com essa coisa tão importante e tão presente no meu dia a dia. É aquele lance, hoje em dia as vezes você só quer ir num boteco sentar pra tomar uma e conversar com os amigos. Mas os caras não querem saber, tem que colocar alguma música, de preferência num volume bem alto e em um aparelho de som horrível que deixa tudo estridente e inaudível.Além disso, esse lance de internet e mp3 e tal agravou ainda mais esse processo. É claro que por um lado isso é ótimo, pois hoje você tem acesso a coisas que de outra forma difícilmente alcançaria ou porque custaria os olhos da cara ou porque simplesmente jamais chegaria até você. Mas por outro lado, parece que nunca a gente teve acesso a tanta coisa, e nunca houve tanta desinformação e indiferença. É claro que eu também me deslumbrei e sai baixando um monte de coisa que eu queria e outras que eu nem conhecia e tal. Mas a verdade é que ninguém (ou será que sou só eu) consegue absorver tanta informação direito. Sinto saudade daquele tempo em que você ficava esperando um ou dois anos pra tua banda preferida lançar um disco novo, tinha que esperar mais um tempo praquele disco chegar nas lojas da tua cidade, economizar uma grana e ir lá pegar aquele bolachão em vinil, com aquela capa grandona e quando colocava aquilo na vitrola e a agulha começava a girar, putz, era como se um novo mundo se abrisse na tua vida. Hoje, eu tenho um monte de cds e dvds com mp3s em casa, mas na maioria das vezes quando eu realmente quero ouvir alguma coisa que eu gosto, acabo voltando nas mesmas músicas e bandas. Sim, tem muita coisa nova legal, e eu gosto de descobrir coisas novas, mas é cada vez mais raro que elas me despertem aquele sentimento forte que eu tinha e ainda tenho com determinadas coisas.


Eu passei por isso também. No curto período em que tive banda larga (nem micro em casa eu tenho mais), entrava numas de baixar tudo que sempre tive a mínima curiosidade de ouvir. Tudo que me parecia remotamente interessante. E gravei vários CDs com essas coisas. A maioria deles tá encostado hoje em dia. Por quê? Porque, mesmo que sejam bons, não tive o devido tempo de escutá-los de fato. Aquela coisa de ouvir com calma, puxar o encarte da caixinha e ler ficha técnica e letras, sacar qual música te engana e qual te pega pra valer. E depois de um tempo, o excesso me cansou. Todo mundo parecia ter virado expert em música, mas a verdade é que a enorme maioria só arquivava MP3s e empilhava CD-Rs, sem qualquer ligação emocional ou mesmo artística com o que está dentro deles. Até ditos “críticos de música”, dessa nova geração de jornalistas de Bizz, internet e correlatos, fazem parte desse rol.
Na música, existe um sentimento de afinidade entre ouvinte e a música em si que não pode ser barateado. Não que a música tenha que ser de difícil acesso pra valer a pena. Mas aquela expectativa do disco sair, correr atrás de quem comprou primeiro para ouvir na casa do cara, passear pelas lojas “namorando” álbuns que vão virar amigos queridos ou objetos de ódio e arrependimento, isso tudo faz parte de uma experiência artística, sentimental e, acima de tudo, pessoal, que não pode ser barateada como o ato de tirar água da torneira. Penso que isso vale para qualquer arte, dos quadrinhos ao teatro, com as devidas adaptações pertinentes às características de cada um. Mas é por aí. Eu jamais me adaptaria a ler um gibi on-line.
Diz um certo senso comum entre fãs de rock dados ao anedotário que Mick Jagger e outros caras do mesmo naipe caíram na viadagem porque o “acesso” às mulheres tornou-se tão fácil e desprovido de sentido, que acabou por tirar toda a graça e o prazer da coisa. Esses “compartilhadores” estão fazendo exatamente isso.

Thursday, October 19, 2006

Scatterbrain - Don't Call Me Dude

Eu adorava esse vídeo. Vendo hoje, eu o acho tosco e exagerado. Ou seja, ainda adoro!
André: o diretor é o George Seminara, da Troma, que também dirigu uns vídeos dos Ramones.

Wednesday, October 18, 2006

Ainda sou um professor, mesmo que eu seja o primeiro a negar

Dia 15 de outubro foi Dia dos Professores. Eu sou professor. Gostaria de poder dizer que não me importo com a data, gostaria mesmo, mas seria mentira. Ainda que não mais como antes, ainda sou cioso do meu trabalho. São quase onze anos dando aula. Começou como um acidente, virou uma paixão, uma dedicação, e hoje é uma canseira. Quase o mesmo processo de um casamento, enfim. Mas eu ainda preservo algo além de mero respeito pela profissão. Levo-a sério, e faço isso levando-a sempre ao extremo do escracho. Para alguma coisa um pateta que se posta à frente de um grupo de pessoas tem que servir.
Nunca acreditei no papo do professor que “passa conhecimento”. Eu só passo aquilo do que quero me livrar, e acho que conhecimento, até tenho, só sabedoria é que não. Nunca terei nenhum dos dois o suficiente, e não vou me alongar na dissertação porque você já entendeu o que penso a respeito e eu não quero gastar clichês, ainda que sinceros.
Só que dessa vez o dia 15 passou meio batido. A namorada lembrou, dois ou três alunos lembraram, uns dois colegas de profissão também. E só. Tá certo que era um domingo, mas nem a escola que me emprega lembrou.
E eu já ando cansado desse trabalho, como eu disse. Muito cansado. Principalmente de lecionar inglês. Talvez se eu mudar de matéria (já lecionei disciplinas óbvias e também umas menos suspeitas em diferentes tipos de cursos), eu encontre o estímulo que vive me escapando hoje em dia. É que antes havia uma troca entre eu e os alunos. Eu me sentia alimentado por aquela molecada (ainda que tenha trabalhado mais com adultos ao longo da carreira) cheia de vontade de botar pra fuder com alguma coisa que eles não sabiam bem o que era. Aquela moçada dentro do espírito perfeitamente descrito pelo André Forastieri em sua resenha do “Rocket To Rússia” para a Discografia Básica da velha Bizz. Aquele espírito “púbere-que-se-foda”.
Só que esse espírito anda sumido. O processo de mediocrização social e cultural hoje começa cedo, e o que temos são mini-zumbis consumistas repetindo padrões, opiniões e status televisivos, enquanto seus pais medíocres os encorajam e aplaudem, ou suportam com falsamente pesada resignação. E quando chega a adolescência, temos esses monstrinhos que pensam que Charlie Brown Jr. prega a rebeldia, que Racionais MCs são mensageiros da paz e que Jota Quest lida com emoções. Pequenos monstrinhos que acham que rebeldia está em piercings e outros adereços que todos usam, que a roupa determina o caráter e que as posses dizem mais que qualquer outra coisa. Gente que chama “atitude” mandar os pais tomar no cu. Gente que acha o D2 um “contestador”. Gente que se exibe como carne pendurada em açougue nos orkuts, myspaces e fotologs da vida, mas não notou que as moscas já estão pousando em sua carne precocemente apodrecida, conservada jovem graças ao seu obsessivo culto ao corpo.
Essa “galerinha” me roubou o tesão de dar aula, o prazer de “compartilhar” até mesmo pequenas bobeiras. Em dias mais propensos ao drama, me roubou até a vontade de envelhecer dignamente, antevendo o mar de lama fashion que isso aqui vai se tornar quando eles adultescerem.
E aí deu que hoje eu parei com uma turma na qual conservo um pouco de esperança e fui ler uns trechos do Atire no Dramaturgo, livro novo do Mário Bortolotto, para eles. Já falara disso na aula anterior e eles hoje – surpresa! – me cobraram a respeito. Eu sei, dou aulas de inglês e o livro é em glorioso português bebum, mas – pórra! – eu tenho que fazer algo mais para merecer o ar que eu respiro do que somente explicar pontos gramaticais relativos e empurrar vocabulário descontextualizado.
Li para eles “Onze Anos Não Voltam Jamais” e “Quem Não Enquadra, Sai de Cena”, dois textos dos quais gosto muito e pelos quais sinto uma identificação fodida, pelo sentimento de perda que se sente ao ver essa garotada jogando a adolescência mo lixo, vivendo algumas coisas precocemente, outras pela metade e várias na mediocridade.
Pois é, apesar de um ou dois terem apagado de canto (até porque duas horas da tarde no calor infernal de Foz do Iguaçu é de matar habitante de savana), a maioria parou pra ouvir e pensar. Sim, putaqueopariumente surpreendente, pararam pra pensar! No meio de uma geração que “não reflete nem uma mecha de cabelo pintado”, como já disse o Pepe Escobar sobre a minha geração, a gurizada parou, ouviu, perguntou e... bem, melhor deixar o ufanismo professoral de lado. Vamos aos fatos.
Mal comecei a leitura, uma guria me perguntou sorrindo: “mas o cara escreve assim mesmo?” (se referindo aos “merdas”, “porras” e outros jabs verbais que aparecem nos textos). Sim, escreve, eu não to acrescentando nada. Peraí que tem mais. E tinha, e eu seguia lendo, e eles sabiam do que estava sendo dito. Vi um deles engolir em seco, dois talvez. Uma fã da Avril Lavigne tentou livrar a cara da “ídala”, citada de maneira curta e cruelmente desoladora, mas não negou a razão do texto. Não demorou para alguém perguntar qual era o preço do livro e onde comprar. Claro que eu informei tudo isso. Informei também o endereço do blog do Bortolotto e, numa prova de que ainda acho que sirvo pra alguma coisa (pra querer trocar idéias com quem tem uma cabeça cheia de tesçao pela vida e confusão, principalmente), dei esse endereço aqui. Não sou o Bortolotto, nem o Rubens K, nem Jack London ou mesmo o Luis Fernando Veríssimo. Mas dei esse meu endereço. Para manter os amigos por perto.
Sei lá se esse troço todo não vai repercutir de um jeito chato (para começar, a escola é particular, conservadora e cristã-pentecostal), mas não estou preocupado com isso. Só quero saber qual deles vai ler Mário Bortolotto primeiro. Qual deles vai achar o cara um bosta, um gênio ou um escritor que vale a pena ser lido. Pensar qual deles pode vir a ter um disco do Grant Lee Phillips ou um livro do London na sua coleção. Qual deles vai abandonar a caligrafia eme-esse-ênica e começar a por seus próprios medos, preconceitos, incertezas e delírios no papel (ou na tela do micro), Esperar pra ver isso e mais.
Dia 15 passou, porra. Mas eu me sinto mais que recompensado.

Arrependimentos

Penso não estar enganado sobre isso (minha memória me trai às vezes), mas acho que foi o Jorge Cardoso quem escreveu algo assim (aspas imprecisas):
“Acho curioso aquelas pessoas que falam que não guardam nenhum arrependimento e, se pudessem viver a própria vida novamente, fariam tudo de novo. Porra, eu tenho arrependimentos pra caralho! Me arrependo de muitas coisas que fiz, brigas que entrei, relacionamentos que tive, coisas que não fiz, lugares que não fui” e seguia enumerando e esclarecendo algumas coisas, nesse mesmo espírito.
Eu também não seria tolo, nem teria vontade, de viver toda minha vida novamente. Pularia vários capítulos, mudaria outros, faria tudo diferente. Teria arrumado mais brigas, teria saído de muitos lugares e muitas situações antes de ouvir muita besteira que só me deformou, teria mandado um número considerável de pessoas tomar no cu, teria evitado de xingar ou ofender pessoas que queria bem por motivos puramente egoístas e/ou impetuosos. Teria bebido menos em algumas noites, mais em outras, experimentado drogas antes, largado certos vícios, passeado um tanto mais. Teria feito um monte de coisas “antes”, outro tanto “depois” e outras simplesmente não teria feito, em resumo.
Só que isso não volta mais. E ninguém vai me dar essa chance. Mas – cacete! – me arrependo também de muitas coisas que faço. De coisas que digo e continuo dizendo, sobre as quais deveria ter ficado de boca fechada; de mentiras convenientes, que mantenho ou invento para evitar encrenca; de pessoas que mantenho por perto e outras que deixo à distância. Caramba, até de algumas coisas que eu como constantemente eu me arrependo, e não estou falando de neuroses dietéticas aqui!
Porque eu não mudo isso é assunto meu e não está aberto à discussão. Mas somos feitos de erros, ao que parece. Na nossa cultura do “loser”, do “segundo lugar”, o erro parece nos definir com mais precisão que o acerto. Tanto que eu vivia olhando para eles antes. Só para eles. E isso me levava a essa “revisão constante” que eu descrevo lá no terceiro parágrafo. Talvez deva olhar mais pros acertos, não pelo lado “Lair Ribeiro” da coisa, é lógico. É só para ver se eu mando os erros de sempre pra puta que o pariu.

Sunday, October 15, 2006

Reprocessando

Não tem a ver com a quantidade de álcool que eu ingiro ou com drogas que eu consumo (coisa que há muito tempo não faço, diga-se). Nem mesmo com o tesão que lateja no sul desse país já habitualmente Baixo, segundo a moral vigente, até porque se eu escrevesse um texto decente a cada ereção, eu já teria material para umas quinze edições de capa dura (trocadilho infame involuntário).
Tem a ver com os lugares que eu freqüento, com as coisas que eu leio, com as músicas que ouço, com as pessoas que eu falo e – principalmente – com o que eu faço a partir de tudo isso. Porque é aí que eu começo a pensar, sentir e vivenciar coisas diferentes. Arriscar mesmo, saca? Sair da mesmice do fim-de-semana em casa, do trabalho mediocrizante, da vaidade burguesa incômoda. Ver que não morri, que algo ainda pulsa nessas veias que não apenas a pressão arterial.
Sentia falta disso. Muita falta. Só que não conseguia achar minimamente decente nada que eu escrevia. Não achava valor em nada do que eu fazia. Sempre fui dessas fases, mas felizmente elas chegam ao fim. Aí vêm os momentos em que eu produzo, e infelizmente eles também chegam ao fim. Sei lá se um dia eu vou equilibrar esse yin-yang da vida literária-real. Só sei que eu gosto de tentar. De arriscar e ver algo sendo criado. Rascunhar, tentar alguma coisa. Porra, eu não sou um gênio, preciso rabiscar, trabalhar, apagar, fazer muita coisa para poder criar algo. Não sei bem porque, mas arriscaria dizer que é porque gosto de escrever. Porque quero ser escritor. Porque é uma coisa que me dá um puta gás, um grande motivo para viver.
Sei que tem gente que vive por outros motivos, outros mais nobres, outros menos. Mas eu não me comparo com os outros. Me comparo comigo mesmo. E ultimamente, estou com uma vontade de escrever muito maior que antes. E estou muito mais feliz por causa disso.
No
Ficção Autobiográfica, escrevia o que queria, mas representando um certo período que já foi, e querendo, de certa forma, que desconhecidos viessem e lessem o que tinha a escrever. Hoje, sento em frente ao micro para escrever para mim mesmo e para os amigos. Parece ser mais prazeroso, proveitoso e desencanado. Narcisismo de cu é rôla.
Eu ia batizar esse blog de “Sangre Roja”, devido ao lado meio “latino” que eu contraí vivendo na Tríplice Fronteira (e também por causa de uma música dos argentinos Intoxicados), mas desisti, porque o sangue de todo mundo é vermelho, não importa em qual idioma isso seja dito. Então decidi batizar com meu nome mesmo. Porque é um blog temporário, como temporário é tudo que eu faço.
Atualizações erráticas, muitos erros, muito rascunho e uma certa força de vontade. Um monte de idéias, nem todas boas ou bem resolvidas. Mas tinha que começar de algum lugar. Vamos ver aonde vai.
Se alguém tiver algum problema postando comentários, me escreva em
lvinhas1@yahoo.com.br que eu dou um jeito de realocar isso aqui. O importante é ter os amigos por perto.
Abraço,