Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Wednesday, June 27, 2007

A pirainha

A mocinha se apronta para ir à igreja.
E o pai, ateu:
- Vai, vai logo... Sua pirainha de Jesus!

(Dalton Trevisan, em Arara Bêbada).

O melhor livro de Dalton Trevisan que li até agora. Quanto menos palavras ele escreve, melhor ele é.

Tuesday, June 26, 2007

We walk the line

A quem estranha o sumiço das vias convencionais (e-mail, etc), eis a razão: trabalho. Do melhor tipo, tanto no "oficial" como no "extra-oficial". E com mais afinco ainda, o Boi (Fernando Lalli) está trabalhando para tornar o Cràse aquilo que ele sempre se propôs a ser: um espço para bater papo sobre "rock'n'roll e outras amendidades", sem ficar brincando de jornalistas frustrados pedindo um trampo num grande veículo. Não se trata de "papo de excluídos", e sim de conversa entre amigos.
Pode gelar mais cerveja que a conversa está ficando cada vez melhor: textos novos sobre Bruce Springsteen (do Boi), a discografia comentada dos Ramones, uma dissertaçãozinhas sobre o Black Love, do Afghan Whigs, e outra sobre nada de mais (o termo "novo rock"). Tudo aqui:
Em breve, com entrevista do Folhetim Urbano, matérias sobre quadrinhos e mais! Abraço!

Monday, June 25, 2007

Aqui a ôia é pesada, mano!

Cinco jovens bem-nascidos agrediram uma mulher num ponto de ônibus no Rio de Janeiro. What’s new? Renato Russo, em entrevista de 1987 (vinte anos atrás), já falava que isso acontecia constantemente em Brasília. Crônicas policiais trazem relatos semelhantes desde os anos 50, a única diferença é que então eram “as turmas do rock” que escapavam pra delinqüência, e hoje são os bombados da Barra.
O Rio é um templo de culto ao corpo. Mais do que qualquer outro lugar no Brasil, lá quem tem pança é pária e mulher com celulite fica à margem de tudo. Se além de feio, for pobre, aí já era. Entre meus alunos há um carioca de seus dezenove anos que diz sentir muita falta da terra natal, um lugar lindo (que só não é mais bonito por causa daquela negrada e daqueles paraíba que mora lá”, nas palavras dele, erros de concordância ipsis letteris. Desse cenário para a formação gangues de marombeiros ricos que “se divertem” surrando transeuntes, é até um processo óbvio. Afinal, esses garotos não podem passar o dia todo na academia nem na internet, tem que sair para menosprezar os mais fracos graças ao benefício da imunidade que vem da opulência e do tédio que vem do vazio da suas próprias existências.
A alegação que deram – três dos mancebos foram localizados e detidos, todos proeminentes universitários de cursos inócuos (Administração e etecéteras) – foi a de que “pensaram que a mulher fosse uma prostituta”. Claro – bater numa trabalhadora é uma coisa, numa puta... ora, quem se importa? Capaz de ganharem absolvição e até aplausos. O mais severo que deverão ouvir provavelmente será algo do tipo: “vejam se da próxima vez acertam uma puta de verdade, pô!” É o Grupo de Extermínio de Aberrações, aumentando suas fileiras dia após dia!
Nessa última vez que estive em Taubaté, soube que as putas da avenida Charles Schneider e imediações foram corridas de seus “pontos” graças à eficiente repressão policial, que não tem marginal para prender e precisa zelar pela ordem moral da família brasileira, prendendo essas diabas sexuais que tentam cidadãos dignos a se tornarem maridos adúlteros, manipulando a inocência desses homens de bem. A tal repressão incluiu táticas sabidamente eficazes, como espancamentos e estupros, aplicados sistematicamente à qualquer “profissional do mal” que estivesse por lá. Espancamentos e estupros. Danificando a mercadoria não há como vender, não é mesmo? Geniais, esses policiais.
Aqui em Foz, o fogo cruzado do acerto de contas no comércio de drogas pega traficantes e usuários, inocentes e envolvidos. Mas tudo rola na periferia – Três Lagoas, Porto Meira, Jardim Jupira, bairros distantes e superpopulosos, onde a população se amontoa em ocupações desordenadas para ganhar terras loteadas pelo município e depois repassar essas terras em contratos ilegais de locação (maniqueísmo não cabe aqui, I’m sorry). O que se diz pela cidade, mesmo com a média oficial de 1 homicídio por dia, é que “morre quem tem que morrer”, mesmo que seja uma criança de cinco anos que deu o azar de estar no local errado na pior hora. Mas também, quem mandou morar no Três Lagoas? Ele que arrumasse emprego e saísse de lá (e como aqui é cheio de guris e gurias de seis anos trabalhando, inclusive para a máfia paraguaia, ninguém iria estranhar um piá de cinco na labuta, né não?).
Somos o país cordial, o povo da Ordem e Progresso, o maior país católico do mundo. Todo mundo deveria se orgulhar de morar num lugar assim! Vocês não?

Fortes razões para parar de beber

Escrevi o texto abaixo bebaço, no começo da madrugada de sábado pra domingo. Ainda salvei o arquivo com o título “nhé”. Tá vendo porque dizem que o álcool também é droga?


Que saco, isso! Toda vez que eu tento me desvencilhar do tal do “rock” vem alguém e me vira do avesso. Dessa vez é o Folhetim Urbano – OK, vocês já leram sobre eles aquie e talvez o “dessa vez” seja um dejá vu. Mas é que eu eu acabei de entrevistar os caras. E o que me deixa de cara é que o Carlão Zubek é um cara da minha idade, o Renato é mais novo que eu e esses dois têm uma história que eu vou demorar anos para acumular algo semelhante, supondo que eu logre algo assim. Acho que a vida anda me coçando a alma para fazer algo que preste, e ler a entrevista que esses senhores me deram (a ser publicada em breve) só me instiga mais a alma.
Deixa só eu me (tentar) fazer entender: são meia-noite e vinte e quatro. Eu tô bêbado. Só não fumei porque ninguém tinha uma parada. Se tivessem me dado ácido ou cogumelo eu teria pego – trocando em miúdos, estava deprê. Sempre foi complicado para mim o fato de “curtir e pronto”. Hoje meio que saí para fazer isso, curtir e pronto. Meio que não deu – namorada grilada com umas coisas sérias. Aí vim passar a madrugada tentando entender o mundo, ou pelo menos, aperfeiçoar o estilo.

Saturday, June 23, 2007

Midnight Oil - Put Down that Weapon

Grande canção, grande banda, mas o visual "80s" é de matar! Do coletinho do vocalista Peter Garrett aos mullets do baixista Peter Gifford e do guitarrista Martin Rotsey, uma provade que mesmo grandes bandas queimam seu filme quando ouvem diretores de videoclipe.
Detalhe especial para a cara de "galã" do baterista Rob Hirst (que quase sempre tocava de regata justa...).

Laerte é foda!

Clique para ampliar.

Carne de preguiçoso

Lembra daquele post sobre receitas dias atrás? Foi sério. Então, vamos à primeira:

Na falta de outro nome, batizei esse prato de “carne de preguiçoso”, dada a falta de esforço que envolve seu preparo. Ideal para quando você quer comer uma carne com molho sem muita frescura. Os ingredientes:

  • Uma peça de maminha fresca e sem muita gordura (de 600g a 1kg, mas convém ficar na faixa de 600g a 800g);
  • Uma lata de cerveja escura (Caracu, preferencialmente);
  • A mesma medida (uma lata) de água;
  • Uma lata de Pomarola ou similar, do tradicional;
  • Um pacote de creme de cebola;
  • Molho inglês à vontade.
Escolha uma boca pequena do fogão e deixe em fogo médio. Numa panela de pressão, despeje o conteúdo das latas de cerveja e massa de tomate. Encha a mesma latinha de cerveja com água e mande para dentro também. Esvazie o envelope de creme de cebola no meio do molho e mexa um pouco com uma colher de pau durante uns poucos minutos. Jogue a peça de maminha inteira, tampe a panela e deixe-a cozinhando em fogo alto por 40 minutos.


Passado esse tempo, abra a panela (cuidado para não fazer a cagadinha protocolar e explodir a dita cuja), a peça de maminha e corte-a ao meio, no sentido da sua escolha (horizontal ou verticalmente). Devolva as duas metades ao molho e leve de volta ao fogo alto, dessa vez numa boca maior do fogão. De 20 minutos a meia hora, dependendo do seu gás e do seu aparelho, a carne já estará macia, com toda a gordura depositada no fundo. Não é preciso óleo em nenhuma etapa do processo.

Vai bem com pão ou arroz. E não precisa de mais nada. Dá fácil para três pessoas, e é legal uma Xingu bem gelada para acompanhar.

Benzadeus

Eu: Desculpa, mas faz tempo que eu quero lhe perguntar isso. De onde vem teu nome?
Ela: Ah, sabe o que é? É que na igreja da minha mãe eles incentivam o pessoal a batizar os filhos com nomes diferentes, para mostrar que eles são pessoas diferentes também. Aí minha mãe rezou e meditou procurando inspiração e veio esse nome.


O nome da guria é Chilcinielly. É isso aí: Chil-ci-ni-el-ly. Pronuncia-se “chilcinielly” mesmo.
Deus devia estar num humor especialmente sacana então.

Wednesday, June 20, 2007

Mano Negra - La Rançon Du Succès -Video Clip

Vídeo de alucinada animação dessa que é uma das grandes bandas de minha vida. Punk chanson française para alegrar meus dias!

Tuesday, June 19, 2007

Let the Romeo weep

Os ônibus vão rangendo seus freios do lado de fora. Do lado de dentro, minha namorada dorme no quarto “do casal”. Eu não vou pra cama hoje. Enquanto meus olhos puderem manter minhas pálpebras separadas, esses meus dedos correrão sobre o teclado e eu vou escrever aqui tudo o que eu deixei escapar. Não me espere, Lidi. Hoje eu não vou pra cama cedo.

***

Ela foi embora numa ambulância depois do que era, cremos eu e outros, um ataque de fobia. Ela só tem dezesseis anos, alguma inocência e uma dose apenas saudável de malícia. Ei, me desculpe, nem todos nós nascemos para ser sórdidos. Já há sujeira demais à volta, e eu vejo a sujeira minando e matando sua saúde. Ela é ingênua, eu sei. Eu também fui assim. E não o sou mais porque quase me resigno como estou. Quase.

Ainda há esperança.

Refrão nenhum toca em minha cabeça enquanto vou pro carro e não vejo veículo nenhum pegar a estrada. Tem horas em que estamos confortavelmente sozinhos. Outras horas, a solidão é só desconcerto.

Solidão é ir pra casa sabendo que você não vai se encontrar lá.

Solidão é um copo vazio na pilha de pratos da pia, um copo que você usa repetidas vezes sem lavar.

Mas ainda há esperança.

***

Ginsberg viu os expoentes de sua geração nus, com fome e frio. Minha geração não tem expoentes. Minha geração não viveu nem um “ismo” que fosse, nem mesmo o individualismo. Os expoentes da minha geração ou foram cobertos pelo pó dos dias de trabalho ou foram fazer MBA e se lembram de que pertencem à uma geração na hora de recapitular desenhos animados.
Uma geração de fracassados, e quem quer seja o líder, não está nem aí.
E nós nem precisamos de líder, é claro. Nós precisamos de um refrigerador Prosdócimo em doze vezes sem juros e, quem sabe, umas Alpargatas novas.
Outros só precisam de um Nike Shox.
Eu preciso de mim mesmo, mas eu me cansei de mim e fui dar uma volta. Me encontrei ali, nos olhos estrábicos de quem acredita no mundo e algumas outras coisas boas. Dessa vez não fiquei com medo nem melancólico.
Eu fui logo ali, e encontrei um vazio do caramba, e o vazio de um bolsão de opiniões taxativas, confusas e furadas. Uma infinita repetição de vocábulos e mágoa, sem qualquer sentimento original.
Eu fui deixar Romeu chorar e ver o que Julieta faria. Mas eu sabia que Julieta cumpriria seu papel, conquanto ela soubesse que ambos morreriam no final. Ela não admitiria nunca que ele fosse feliz sem ela – coisa que ele teria grandes chances de ser. Ela não conseguiria manter o relacionamento em vida. A morte mútua comprova a reciprocidade de sentimentos entre os veronenses, e por fim lega a posteridade.
Eu não quero passar aos pósteros. Só quero estar distante de todas as guerras. Claro que não vou conseguir, porque eu não tenho guerra nenhuma. Travo um combate apenas, do qual eu não conhecerei nem um décimo de todo seu estrategema graças a essa bruxa que me varre os pensamentos.

Eu tenho sono, desânimo e alguns trocados no banco. Nenhum deles me serve de nada.

Eu tenho um monte de coisas com as quais me ocupar, mas nenhuma delas me diz nada.

Eu tenho várias cidades à minha disposição e uma passagem marcada para o outro lado do mundo. Até para o outro lado da lua, se eu quiser.

Mas eu durmo de lado porque não consigo encarar minha mulher.

O homem no espelho

Chega uma hora que você descobre que você não é quem você imaginava ser. Clichê, mas verdade. E às vezes, é nessas horas que você descobre não ser quem gostaria, e quem sempre pensou que fosse. É quando você vê que você não passa de um classe média reles como qualquer outro, com seus preconceitos morais, raciais e eséticos. É quando você vê que só pára na frente do espelho para observar seus belos traços e não olha mais nos seus olhos porque sabe que o que vai encontrar lá é uma imagem distorcida por profundas navalhadas que você aceitou deliberadamente receber, aquelas navalhadas que vêm da criação que você diligientemente aceitou, e que discursivamente você dizia renegar.
Lembra daquela tira do Laerte, que mostrava o Capitão Douglas e seu soldado Anspeçada conversando? Era mais o menos assim:

Capitão Douglas: Vejo que a guerra não o empolga, soldado.
Anspeçada: Morre Muita gente, capitão.
Capitão Douglas: Exagero. Depois... morre a baianada.
Anspeçada: O senhor se refere a civis inocentes?
Capitão Douglas: Tanto faz.

É assim. Você já não é mais o Anspeçada, você é o Capitão Douglas. Se pudesse, você moraria num condomínio fechado olhando a baianada se foder enquanto tomava seu Bailey's com café selecionado. Você só não apoiaria financeiramente o Grupo de Extermínio de Aberrações porque seria de mau tom. Mas que você adoraria vê-los agindo juntamente com o retorno do Esquadrão da Morte, ah gostaria!

Monday, June 11, 2007

Ele, o Super-Herói

(Fábio Cascadura)

Certos dias o tornam melhor
Ele é um herói
Sempre tem muito há fazer

É o mais veloz
Bem mais que nós
E onde lhe dói
Ninguém poderá saber

E a vida que ele leva não, não é, não
A que ele quer
Não, não é, não
Esconde nas trevas o que lhe dá prazer
Enquanto o mundo está a dormir

Sem mocinha
Eis nosso herói
Só solta a voz
Pra fingir que nunca perdeu

E a vida que ele leva não, não é, não
A que ele quer
Não, não é, não
Esconde nas trevas o que lhe dá prazer
Enquanto o mundo está a dormir

Quem o vê voar não o vê deprimido
Quando ele está derrotado sob as cobertas
E se ele revelar o quanto é sensível:
“O que é que os outros vão dizer?”



Absurdo como algumas músicas conseguem traduzir com exatidão o estado de espírito de um momento. Essa do Cascadura me recalcitra o insconsciente.

Friday, June 08, 2007

Os Fugitivos



Filme que começa como uma homenagem ao cinema noir e se desenvolve em clima absolutamente tenso e seco, deixando um impacto que persiste por horas, ou mesmo dias, além de seu final.
O filme usa a história (verídica) da dupla de policiais cinquentões Buster e Charlie que investigou os crimes do casal Ray Fernandez e Martha Beck, conhecidos como “Lonely Heart Killers”. Desde a primeira cena sabemos que eles serão presos e executados, o que torna o filme angustiante – ou melhor, impactante (perdoem a repetição) – são os próprios personagens.
Fernandez e Beck eram do pior tipo de demônios, o tipo que não tem chifres e caudas pontiagudas, mas é feito de carne e osso e sente e pensa como os demais seres humanos. Na sua aparente normalidade e na intensidade doentia de suas paixões e seus ciúmes estavam “provas de amor” que desencadearam crimes cada vez mais mal-elaborados e violentos, deixando uma trilha de mortes e de vidas destroçadas. O que incomoda em Ray e Martha é a crueldade sem rodeios, a maldade que nasce de suas próprias paixões e volúpias, sejam imediatas ou de longo prazo. Antes mesmo de começar a seqüência de assassinatos descuidados que os levou à cadeira elétrica, já estamos tomados pela repulsa de sua manipulação de emoções e de necessidades emocionais de pessoas reconhecidamente frágeis. Eles sabem que manipulam as esperanças alheias para depois arruinar-lhes a vida – e não se importam nem um pouco, contato que sua estabilidade não seja abalada.
Caracterizados pelas ótimas atuações de Jared Leto (o junkie iludido de Réquiem para Um sonho) e de Salma hayek (sombria como nunca), Ray e Martha são mostrados sem piedade ou condenação, mas mesmo assim você não consegue impedir a revirada no estômago quando os vê juntos – porque eles sabem o quão frágil ou o quão filho-da-puta alguém pode ser – e não estão nem aí. John Travolta e James Gandolfini, como os policiais que os perseguiram, também vão além do clichê de “policiais solitários e durões” que o gênero costuma trazer. O Buster de Travolta é duro, é verdade, tão duro que ainda não conseguiu lidar com o suicídio da esposa, que pôs uma bala a atravessar-lhe o crânio em pleno aniversário de casamento. E essa dureza não faz dele um herói. Na verdade, nem a captura dos facínoras faz dele ou de seu amigo Charlie heróis – eles conseguem ver que há algo mais além da lei, algo no funcionamento do mundo – ou na própria natureza humana, talvez – que não está certo, e que não vai mudar nem com o trabalho de todos os policiais bem-intencionados do mundo. Há muita solidão entre os homens de bem, muito companheirismo entre os assassinos e vítimas, e nem mesmo os homens de bem são santos nem os assassinos não amam. Nada vai se resolver com uma investigação policial, mas os dois tiras sabem que alguma coisa tem que ser feita, assim como Ray sabe que seus sonhos ficaram para trás no dia em que escolheu dividi-los – e a espiral de vilania para onde se arrastou lhe permite antever que o fim está próximo e que a esperança – aquela mesma que ele destruía sem remorso – lhe faz uma falta imensa quando arrancada dele à força.
É difícil falar mais do filme sem entregar as sensações que são cruciais para fazer desta obra o que ela é. Mas essa pérola, escrita e dirigida pelo desconhecido Todd Robinson, estava perdida na locadora e foi trazida para minha casa num golpe de sorte e intuição da minha namorada. As informações da caixa do DVD não ajudam em nada, e o nome de Travolta sempre nos deixa com um pé atrás. Mas não espere um desconhecido lhe indicar esse filme na locadora – vá atrás mas não assista antes da hora de dormir. O sono pode vir difícil.

Tuesday, June 05, 2007

Comida!

A culinária tem me estimulado mais que a música. Acho que vou começar a postar receitas aqui. Aceito sugestões de pratos simples e baratos também. É esse blogue entrando na fase "Manual da Miséria Auto-Sustentável".

Monday, June 04, 2007

My borther, the cow*

Rever a família nem sempre é das tarefas mais prosaicas, principalmente quando você está envolvido em uma situação que não agrada muito a eles. Gostaria de poder dizer que não me preocupo em correspinder às expectativas dos meus pais, mas infelizmente estaria sendo desonesto. Ainda não me livrei dessa sombra que persegue todos os filhos que, de uma maneira ou de outra, foram superprotegidos - e embora eu não tenha sido exatamente um momma's boy paparicado, tive minha cota de carinhos.
O melhor desse período taubateano recente foi voltar ao Mercado Municipal em companhia dos meus pais. De quando eu era criança até o começo da adolescência, eu costumava acordar lá pelas 06h15 de cada sábado e seguir com meu pai pelo "mercadão", carregando pesadas sacolas de frutas e produtos alimentícios suficentes para alimentar uma família de sete - que era exatamente o número da nossa. O passeio sempre terminava na banca do já falecido "seu" Morgado para a compra e troca de gibs usados. Esse hábito parou quando eu comecei a trabalhar ou a encontrar ocupações mais individuais para as noites de sexta, mas permanece como a melhor lembrança da minha infância - às vezes, parece ser a única lembrança boa daquela época (o fato de eu ter tido carinho não quer dizer que não tive problemas). Andar por aquelas barracas na companhia dos velhos - e ver o orgulho deles - me deu uma alegria e entusiasmo sutis, do tipo que não aprece em manifestações explosivas de êxtase, mas sim numa tranquilidade que permite agüentar rojões de grosso calibre.
Esses vieram, como em 99% dos casos, da parte do meu irmão. Meu irmão foi quem me ensinou a ler através de leituras de libros de história e HQs, e era quem me acolhia na sua cama em noites que eu tinah medo. Mas isso foi até uns seis ou sete anos de idade, e depois disso já se vão mais de vinte anos de brigas, humilhações e indignidades.
Não sou do tipo que transfere aos outros a culpa pelas minhas ações, e se sou quem sou, é por minha causa, e de ninguém mais. Meu irmão certamente contribuiu para cortar os maiores traços de auto-estima que eu poderia ter, prolongou minha insegurança por mais tempo que o recomendável e me serviu como um modelo do tipo de adulto que eu jamais gostaria de ser. Ainda assim, eu permiti que ele o fizesse. O desprezo e o desconforto que ele causa são compartilhados por vários outros de minha família, mas eu sou o único que deixou que isso se alastrasse e se manifestasse num nível que se aproxima do indelével. Então, a culpa realmente pode não ser dele, mas está claro para mim que não há qualquer motivos que me obriguem a gostar dele ou mesmo respeitá-lo.
Não usarei este espaço para resolver questões familiares que devem ser resolvidas cara-a-cara, de homem para rato. Mas me permito colocar aqui a reflexão da obrigatoriedade de afetividade familiar, algo que não concordo em absoluto, como se laços de parentesco nos obrigassem a ter uma atitude que não corresponde em nada às próprias crenças. Mesmo o tal do "honrar pai e mãe" é questionável, dependendo dos genitores que você pode vir a ter. Nada a ver com a rebeldia sem causa dos adolescentes permissivos, mas acho difícil que uma garota respeite, por exemplo, o pai que dela abusou, ou que um garoto tenha veneração pela mãe que quando não o humilahava, o ignorava. Conheço pessoas que passaram por isso e perdoaram seus parentes, o que só aumenta minha admiração por elas. Porém, essa admiração ainda não tem força o suficiente para me fazer adotar postura parecida com meu irmão. Posso até perdoá-lo, mas daí a querer gostar dele é pedir muito.

"My brother, the cow" é uma música do Mudhoney, aqui citada sem nenhuma razão que não fosse a aleatoriedade da minha mente.