Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Thursday, November 29, 2007

Sobre mortes

Coloquei um dos meus CDs mais pesados, musicalmente falando, quando ia ao trabalho. Não adiantou: não era pesado o suficiente para abafar a cacofonia que me desviava de qualquer coisa que não ela própria. Ao voltar para casa, o fiz em silêncio. Nenhum som além dos produzidos pelo próprio veículo, só a música da minha alma, uma que eu não queria ter composto.
Alguém foi morto hoje. Mesmo que sobreviva, estará morto. Foi golpeado por mãos, pés e uma pá. Foi atingido na cabeça com um machado. Essas não são metáforas nem a descrição de um filme. Aconteceu hoje, aqui em Foz. Com um amigo.
Não cabe dizer amigo, nossa relação era tão efêmera que não entra naquilo que se chama de amizade. Uns churrascos compartilhados na casa de sua acolhedora família, não mais que isso. Mas ele era professor, assim como eu. Quando você ama uma profissão, ou nutre a ilusão desse amor, você meio que se encanta com outros que o fazem com o mesmo ardor que você. É uma tolice, eu sei, um laivo de ingenuidade que nos permitimos manter para tornar mais suportável a vida nesse ambiente de competição canibal que vivemos, de pressões auto-infligidas. Mas enfim, esse era, portanto, alguém com quem encontrava ressonância no trabalho.
Ele dava aulas no CIAADI, instituição “correcional” para menores infratores de Foz do Iguaçu (uma Febem com outro nome, digamos). Foi morto por dois de seus alunos durante uma rebelião. Seu corpo ainda está na UTI, pode até ser que ele se recupere apesar da gravidade dos ferimentos. Mas ele morreu.
Porque nós, que acreditamos que fazemos um pouco mais que dar aulas, valorizamos demais essa condição de entrar numa sala e tentar compartilhar algo com alguém. Você sabe, aquela história de que as coisas só mudam com a educação, nós acreditamos nisso. E não entramos nesse recinto para desfilar a vaidade de nosso suposto conhecimento, é uma crença, estúpida como a maioria das crenças, de que compartilhar algo que você adquiriu de bom pode mudar o mundo – ou pelo menos, o mundinho onde você habita, vai à feira, compra pão, esse mundinho. Claro, nos arrogamos uma certa pretensão de achar que o que temos a compartilhar é bom, porque a nós tanto bem fez. E vamos para as escolas ou similares em busca disso.
E aí você encontra indiferença abandono, descaso, tudo aquilo que você sabe que a comunidade concentra de pior. Parece ser isso a única coisa que muitos – alunos, os familiares desses alunos, muitos colegas de trabalho – têm a compartilhar conosco. E você morre um pouco.
A violência, a crueldade, leva essa morte até à aquela coisa que chamamos de alma. Seu espírito se vai, quando se vê invadido pela brutalidade que não se justifica nem numa lógica absurda: que a dirigissem a um carcereiro que abusava de seu poder era “lógico”, dentro de um distorcido senso de retaliação, mas a um educador? O que ele poderia ter feito para administrar um ódio tão exacerbado, tão movido à uma hiperviolência que não encontra paralelo nem com os piores exemplos fílmicos da barbárie.
Aqui haverá aqueles que, acertadamente, ponderarão que a barbárie sempre existiu, se desde Caim e Abel ou desde o primeiro primata que desceu da árvore não importa, mas sempre esteve aqui. E é onde eu me pergunto: somos, então, tão cheios dessa substância que chamam de maldade? Gostamos mesmo, temos tanto prazer na dor, em nos mostrar superiores, em ver o sangue da presa jorrar? E me pergunto também: o que estava na cabeça desses garotos? Eu não vou usar de recursos literários, não vou perguntar o que eles tinham no coração, foram seus cérebros que responderam a estímulos que estiveram sempre lá, certamente a explosão irracional da rebelião os levou a buscar no meio de suas entranhas essa realidade satânica. Mas o que estava, portanto, dentro deles? O mais velho tinha 14 anos. QUATORZE ANOS, PORRA! Dá tempo de fazer muita coisa nesses 14 anos, eu sei, mas me desculpe aí, Jack London, sei o que você diz da brutalidade que molda os homens em bestas-feras, sabe deus o que rolou nesses 14 anos. Mas é muito pouco tempo para criar essa maldade, ela já vem no sêmen, no abandono desses pais & mães que não conseguem lidar com os atos de seus pênis e vaginas, vem num monte de coisas.
E elas vêm para matar quem acordou para sonhar e pagar as contas.
A casa continua em silêncio. Eu continuo em silêncio. Não muito longe daqui, a violência grita. E essa ninguém consegue calar.


PS: escrevi esse texto na noite de quarta. Hoje (quinta) soube que ele saiu da UTI e vai se recuperar. Soube, também, que é a segunda vez que ele leva bordoada numa tentativa de fuga. Os dois guris lograram fugir. Nenhuma mídia noticiou o fato. Eles dizem que o CIAADI daqui é "modelo".

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Tuesday, November 27, 2007

Me rendendo à música digital

OK, sempre vou preferir os discos originais, etc. Mas descobri um site que está me fazendo passar mal. No blog Gustavoeo (nome esquisito, eu sei), um gajo coloca toda a discografia, com direito a vários piratinhas, de muitos artistas mui respeitáveis.

Pense você que, de Pearl Jam (com todos aqueles ao vivo) às bandas mais inusitadas do rock latino, tem tudo, mas tudo mesmo, lá.

Acho que eu tô passando mal, até...

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Sobre Deus e sua relação com o amor

O amor é como Deus, uma coisa que todos desejam sentir e o experimentam só quando se induzem a tanto,e ainda assim, sempre julgam fazê-lo em parte.

Deus é “grande demais para que se possa conhecer”, mas há milhares, milhões talvez, que o dizem conhecer melhor que os outros e cobram ingresso para as portas de acesso a Ele que só eles detém. Como fazem alguns que dizem amar.

O amor é tão invisível quanto Deus, mas já se tentou dar inúmeras formas a ele. Todas, é claro, fracassaram.

Deus enviou seu suposto filho “a morrer por nós”, e só nos encontramos plenamente com Deus quando morremos. As grandes histórias de amor são tragédias, o amor se faz grande quando uma de suas partes já não mais está para poder continuar amando. Deus e o amor parecem depender da perda da vida para ter sua importância engrandecida.

Deus e o amor parecem impossíveis de serem reconhecidos em vida.

A Deus e ao amor nos queremos nos dedicar com grande intensidade em certos momentos, mas quando nossa relação com eles nos frustram, dizemos que o tempo foi perdido.

Para se desfrutar do amor de Deus, há que estar com ele integralmente, e professar esse amor todo esse tempo e de forma exclusiva. Aqueles que afirmam nos amar também tem por hábito e crença exigir essa mesma dedicação.

Deus fala ao coração dos homens e a Ele só o coração importa; do amor se diz que está nos corações. Mas o coração não fala e o cérebro muitas vezes renega aos dois, a Deus e ao amor. É o jeito do cérebro “se enganar” para permitir que Deus e o amor existam fora da razão, pois eles não são racionais.

Tanto Deus como o amor libertam, isso se diz deles. Mas muitos vivem escravos do que dizem amar, escravidão essa voluntária ou imposta.

Deus e o amor não podem ser integralmente compreendidos, mas já se gastaram mais palavras escrevendo sobre eles do que sobre qualquer outro coisa.

Diz-se que Deus está dentro de nós, mas não podemos encontrá-lo, e muitos passam a vida buscando por Ele em outros lugares. Nunca olham para dentro de si, assim como muitos são incapazes de amar a si próprios.

Os axiomas religiosos afirmar que não se conhece Deus sem amar a si próprio, mas deve-se amar a Deus mais que tudo e todos.

Toda a literatura tanto sobre Deus quanto sobre o amor dizem que você precisa abandonar a si próprio para conhecê-los, isto é, Deus e amor aceitam e acolhem a todos, desde que eles deixem de ser eles mesmos.

Deus está em todo o lugar, também o amor; Mas muitos brigam pela volúpia da exclusividade.

Aqueles que afirmam conhecer a Deus ou ao amor são violentos em sua crença e desprezam os que não o puderam conhecer, excluindo-se assim da caridade do primeiro e do desprendimento do segundo. O que só prova que, quanto mais ferrenho o “conhecedor”, mais falso seu conhecimento.

Tanto de Deus como do amor nasce vida, mas ambos se arrependem dela mais cedo ou mais tarde, como os que se enganaram no amor e o Senhor no dilúvio.

Aliás, tanto Deus como o amor são senhores dos que vivem por eles, algo no mínimo contraditório para coisas que se propõem libertadoras.

O encontro com Deus ou com o amor pode salvar uma vida, mas é certo que a busca por eles pode bem destruí-la..

Todos os sentimentos, por mais abstratos e abrangentes que sejam, encontram definição parcial mais que satisfatória em inúmeros idiomas. Sobre Deus e o amor pode se escrever tudo, pois deles não se definiu nada.

Longe do fim, mas encerrando por ora: de Deus e do amor fala-se tudo, mas a única coisa comum a quase todos é que ninguém é certo de que eles existem.

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Monday, November 26, 2007

Sábado

Às vezes, você abre a porta de casa e um amigo entra ali.

É clichê, você vai dizer, e eu rebaterei que não, que a gente abre a porta da casa para fiscais do Centro de Zoonoses fiscalizando focos de dengue, para velhinhos simpáticos que sabem fazer excelentes casinhas de cachorro e péssimos suportes para quadro branco, para falsos amigos, para malucos, para pessoas que nem sempre deveriam entrar em nossas vidas e para pessoas que nunca deveriam ter entrado. Ou às vezes nem abrimos a porta, ficamos sorvendo a nossa própria solidão em goles prazerosos ou em momentos desprovidos de esperança, tudo depende de quanto cada um gosta de sua própria companhia.

Só que às vezes, você abre a porta e entra ali alguém que vai compartilhar uma cacetada de alegrias e prazeres com você, e tire os pensamentos sujos da cabeça, seu xarope monotemático. É só que entrou alguém que ri pra caralho com as bobeiras que eu mostro, que fecha os olhos escutando pela primeira vez “3h30”, do OAEOZ, que enlouquece com Gogol Bordello e Terminal Guadalupe, que se mata de rir com os textos do Adolar Gangorra e a essas tantas já estamos celebrando a vida e nem nos damos conta disso.

Mais atípico é ainda – mais desconcertante, talvez fosse a palavra certa – você pensar que antes de que essa porta fosse aberta, estávamos num gramado qualquer, sentados lavando a série de pequenos ou grandes infortúnios que parece ter caído sobre nossas vidas nesse ano, e que parece ter-se ido (no meu caso) ou desvanecido-se no caso de uma fibra mais resistente do que a que eu tenho por revestimento (no caso dela). Doenças, acidentes automobilísticos, pequenas (ou grandes) intervenções cirúrgicas, projéteis encontrando a carne e abrindo as portas da morte (isso não é metáfora, infelizmente), fanatismo religioso, umas coisas assim. Coisas que ficaram para trás mas que certamente levaremos dentro do nosso repertório emocional, mesmo que como uma canção para ser tocada muito raramente. Enfim, coisas que passaram e que foram ruins quando rolaram, e que parecem não estar mais aqui para incomodar. Ou estão e queremos deixar para lá.

Acho que não estão. Porque – veja bem – ela, essa amiga, sempre me traz aquilo que eu não consigo ter, que é uma capacidade absurda de se encontrar e se manter no meio de qualquer vendaval que venha ou ameace vir, alguém que não pensa duas vezes antes de chorar mas que parece – “parece”, essa imprecisão minha não procede, é só o medo de idealizar alguém – não derramar uma única lágrima dentro de si. Acho que o que estou procurando dizer é que essa guria nunca conheceu um sentimento chamado auto-piedade, essa merda nociva que nada tem a ver com o perdão ou com uma alma dignamente piedosa, é traiçoeira a língua portuguesa, me refiro ao sentimento que nos permite – e até nos encoraja – a ter pena de nós mesmos, a olhar os outros de cima para pedir-lhes de joelhos sua atenção. É um sentimento porco, que muitos de nós carregamos.

E não essa guria, eu já mencionei que ela tem dezesseis anos? Essa guria fala, e eu ouço. É estranho, eu falo demais, muito do que digo não deveria ter sido verbalizado, mas com ela reconheço meu patetismo diante de certas situações, vejo nela o auto-conhecimento que não consegui obter com hedonismo, religiosidade ou contemplação, nem com os três atuando junto (essa “proeza” eu consegui). Eu só ouço, e se me arrisco a mover os lábios, é para mostrar que o adolescente sou eu, as frases empolgadas e de vocabulário pobre saindo da minha boca só para prolongar a conversa, para manter aquela mulher falando.

Hm, eu quis fazer uma grande distinção aqui, mas não cabe. Ainda a vejo como uma guria sim, uma guria que, no mundo em que existe na minha cabeça, não deveria passar por coisas que passou e passa – para os de boa memória, já escrevi sobre ela aqui, quando seu pai fora baleado no presídio. Ele se recuperou para sair de lá e encontrar outras duas balas, as quais cumpriram a função para quais haviam sido designadas, que é a de antecipar o fim de um porque outro se arrogou o direito divino de tirar a vida. Isso é uma das coisas que vieram golpeando o coração dessa guria, e aí estava ela, feliz em me ver, tantas eram as saudades em que estávamos. E não falávamos em dor, embora todas essas coisas doessem. Riamos muito, o riso que o têm os amigos, os irmãos que não compartilham do mesmo sangue, os que querem viver porque essa porra dessa vida é fudidamente maravilhosa, mesmo que nos dêem evidências para crer o contrário.

E o fato de ela não ser uma mulher ainda (porque, na verdade, nenhuma menina de 16 anos deveria sê-lo) não muda o fato que ela é mais firme, bela e cativante que a maioria das mulheres que eu conheço.

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Friday, November 23, 2007

Cuelho de Alice - "Um trago com Deus"

Só porque eu mencionei abaixo, vai aí a canção.
Clipe dirigido por Mário Bortolotto, com participação da fauna noturna paulistana, incluindo um desolado e cativante vira-lata.

Retrospectiva - Downloads

Continuo nas listas - o calor de 40ºC de Foz do Iguaçu não favorece um brilhantismo intelectual ou a originalidade. Mas sempre é bom fazer uma retrospectiva, mesmo que não se saiba para quê.

Hm... tá.

Foi um ano com muito mais discos baixados que o habitual, principalmente para um sujeito que não tem internet em casa. Mas graças à uma comunidade do Orkut (“Discografias”) e ao blog Stay Free (e mais uns outros esporádicos), deu para coletar umas coisinhas. Uma boa parte foi pro lixo, mas aqui vai um resumo dos mortos, feridos e vitoriosos.

Radiodread, Easy Star All Stars.
Como afirmou Fernando “Boi” Lalli: melhor que Dub Side of The Moon! Os alquimistas dub do ESAS chamaram um time de vocalistas de prima e deixou os graves cuidarem do que um dia foi OK Computer, mantendo as melodias e renovando todo o resto. Uma obra de versões que independe da original.


Mirando Caer La Lluvia, Mimi Maura.
Mimi é uma cantora porto-riquenha radicada na argentina que divide a cama, as contas e a paixão por dub, ska, calipso e reggae com o marido Sergio Rotman, ex-Fabulosos Cadillacs e ex-Cienfuegos. Esse seu disco é, segundo me dizem, mais sofisticado que os anteriores, que eram mais pop. No campo das generalizações: um belo disco de música latino-jamaicana feito por uma grande cantora que dá um pequeno espaço para o espírito roqueiro de seu marido. Não é o ovo de Colombo, mas é bem bom, mesmo perdendo fôlego no final.


Invisível DJ, Ira!
É um disco que não precisaria existir, mas cuja existência não compromete a trajetória da banda. De chamar a atenção mesmo, só a regravação de “Culto de Amor”, aqui mais bluesy e mais sentida que na também ótima gravação que consta no primeiro disco-solo de Edgard Scandurra, Amigos Invisíveis (seria coincidência tanta “invisibilidade”?). O resto consiste em roquinhos corretos, uma balada radiofônica horrível (“Eu Vou Tentar”) e uma versão anêmica da paulada “Feito Gente”, do Walter Franco. Funciona no rádio – o que é o melhor que se pode dizer de um disco produzido pelo Rick Bonadio.



Santorini Blues, Herbert Vianna.
Tivera várias vezes a chance de ter comprado esse disco por R$ 10,00 ou até menos, mas não o fiz – era um desses pós-adolescentes indies não-assumidos e cheio de pretensa adrenalina e não conseguia me entusiasmar com a proposta desse segundo disco-solo do líder dos Paralamas. Tudo bobagem da minha cabeça, pois esse Santorini Blues é comovente de tão belo. Traz já na capa ares mediterrâneos que se estendem pelas notas que deslizam de seus violões e guitarras – praticamente os únicos instrumentos usados (um piano aparece em “Uns Dias” e “A Palavra Certa” ostenta cordas orgulhosas). Esse vai me acompanhar por dias, meses, anos, amores e solidões.

Fino Coletivo, Fino Coletivo.
As resenhas sobre esse disco foram muito exageradas, mas é um pop carioca rebolativo e bastante aprazível. Agrada às mulheres e tem muitos méritos. Mas que parece que o Wado gravou seus vocais em espírito galhofeiro, ah parece! Ele bem que poderia ter poupado a regravação de “Uma Raiz, Uma Flor”. Georges Bourdoukan (que cedeu os versos à canção, mas nunca recebeu o CD) não merecia essa, nem nós.


Broken Flowers, vários artistas.
Já havia comentado aqui nesse blog, mas fica o registro: soul, rock e jazz etíope (geniais composições de Mulatu Astatke) garantem uma das cinco melhores trilhas sonoras de todos os tempos, independentemente de quais forem as outras quatro. Uma trilha que compõe o filme e a viagem que ele retrata, revelando detalhes mínimos e ao mesmo tempo escancarando possibilidades de devaneios. Deus abençoe Jim Jarmusch!


Lo-Fi Dreams e Black Barn Music.
Gian Ruffato e meu brother André Pagnossim sentaram à frente de seus respectivos micros para gravar em esquema caseiro suas composições muito pessoais. O Black Barn mistura Flaming Lips com Daniel Johnston e Renato Teixeira, soando derivativo em umas faixas (principalmente quando o André usa o falsete ou as traquitanas tecladeiras) e pessoal em outras, agradabilíssimo em todas. Já o Lo-Fi Dreams é o “menino errado” Gian Ruffato gravando as mais pungentes combinações de verso e melodia dos últimos tempos. “Hey Deus, agora sei como fazer você me ouvir...” Palavras e sons que invadiram essa casa.



Quelqu’un M’A Dit, Carla Bruni.
Admito que só fui atrás porque era uma moça gostosinha cantando em francês (todos podemos ser rasteiros e putanhentos vez ou outra), mas o disco é um folkzinho simpático (ainda que meio estilizado), e a garota realmente tem uma bela voz. No geral, é um “disco de hora do almoço”, mas numa escutada mais calma (as quais quase não fiz), dá para ver que há umas três canções que se sobressaem. O disco original deve ser um objeto mais cobiçável se houver umas fotos do naipe da capa.

Indubitavelmente, uma artista que se expõe



MTV Unplugged, R.E.M. / Midnight Oil.
O do R.E.M. veio com esse título, mas nem sei se é mesmo da emissora norte-americana, já que traz majoritariamente faixas de Up e Reveal. É bonito, mas não empolga nem envolve, mesmo com o resgate de “Cuyahoga”, “Country Feedback” e “Find The River”. O do Oil também perde em intensidade e criatividade para as versões que constam no pirata Blue Sky, Red Earth, mas é o Midnight Oil com “Warakurna”, “My Country” e outras belezas. Quer dizer, não dá para ser muito ranzinza.

Futból, Drogas y Rocanrol / O Sole Mio, vários artistas
O pessoal do Stay Free às vezes disponbiliza umas compilações feitas por seus amigos. A primeira é a junção “rock + futebol” e tem de cumbia uruguaia à punk escocês, resultando numa seleção bem divertida. O Sole Mio traz canções que tenham “sol” no título (não importa em que idioma) e mantém um ar praieiro (calma, xaropão, não tem Jack Johnson, mas ele seria bem-vindo), com predominância de canções violeiras nas mãos & vozes de Velvet Underground, Babasónicos, Intoxicados, Bob Marley, Stevie Wonder e, claro, Beatles. Editando um pouquinho, fica jóia.


Samba Russo, Cuelho de Alice.
Estou longe do que pode se chamar de “admirador” das Velhas Virgens, e em termos de letras, essa banda paralela do vocalista Paulo de Carvalho não ajuda muito a mudar o quadro: para cada boa sacada, vem coisas como “eu sou da turma da madrugada / e tô na night pra qualquer parada”. Coisa pra classe média que se produz pra pegar piranhas oxigenas e escovadas. Mas o som – um rock básico, pesado e com uns apliques percussivos – tá num nível respeitoso. E tem “Um Trago Com Deus”, a melhor faixa de 2007, incontestavelmente, um blues-rock invocado que abriga um puta poema (“Deus tá com olheiras e cansado / Deus, pode beber que eu pago / Deuses, homens, bichos e insetos / todo mundo quer o amor por perto”).


Bares y Fondas, Los Fabulosos Cadillacs.
O primeiro disco dos argentinos é o mais ska de todos, fazendo a ponte entre a geração sessentista do gênero, o two-tone e o Clash. Mesmo sendo de 1986, não traz timbres datados e traz a riqueza musical e a energia contagiante que desde a estréia seriam as marcas registradas da banda. Para fãs de ska, rock, jazz ou simplesmente de boa música.


Curto e grosso:


La Radiolina, Manu Chao. A repetição como conceito musical. Três ou quatro bases que se repetem o disco todo e logo enchem o saco. Bah!
One Step Beyond, Madness. Não ouvi com a devida calma ainda, mas tem uma versão de Lago dos Cisnes (“Swan Lake”) que é uma delícia.
Boys Don’t Cry, The Cure. O primeiro da banda, quando o termo “pós-punk” fazia sentido e indicava rock urgente, efêmero, algo intelectualizado e muito bom.
Dilema, Malhechores. Roquinho argentino de boteco. Nada de mais. Entretém.
Curtains, John Frusciante. Um dos melhores do homem. Isso não é pouco.
Hormonal, Hilda Lizarazu. Ela era do Manta Ray, e isso diz muito, né não Rubens e Igor? É mais pop que a lendária banda da qual ela fazia parte, mas isso não é defeito. Digamos que parece uma Tanya Donnely melhorada. Ainda não consegui enjoar.
Su Majestad, Rosal. Banda meio indie, meio artê, com algo de MPA (Música Popular Argentina) no meio. Pareceu um pouco “delicado” demais, mas tem seu apelo, e não só por causa da vocalista bonita.
Look At All The Love We Found, vários. Tributo ao Sublime, com Jack Johnson, Fishbone, G-Love e uma turma que gosta de sol&mar mas desconhece Detonautas. Na pior das hipóteses, rende uma marola.

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Tuesday, November 20, 2007

Andrés Calamaro

Embora eu tenha tentado bastante nesse blogue e nos meus últimos tempos do Scream&Yell, sei que é difícil para quem não está nessas áreas (i.e., Tríplice Fronteira) entender a instituição que é o rock argentino, mas o fato é que o rock – ou alguma coisa muito parecida com isso – é muito popular por lá.
Eu não vou negar que eu só tenho acesso à porção mainstream (para não dizer popularzona), e que o choque cultural me garante o benefício do prazer. Quer dizer: em termos de popularidade, Babasónicos é equivalente ao Jota Quest, mas o fato de eu ser um estrangeiro já torna o Dárgelos muito mais palatável que o Rogério Flausino. Fiz uma comparação propositadamente equivocada (a distância da proposta musical desses portenhos em relação ao grupo mineiro é maior que a geográfica), mas acho que você entendeu o ponto.
E talvez seja justamente isso que explique o fato de eu conseguir ouvir – e gostar – de parte do trabalho de Andrés Calamaro. O Túlio já o definiu como o “Bob Dylan argentino”, mas eu sempre vi o sujeito como um cruzamento junkie do Lulu Santos com o Guilherme Arantes, com um toque de Wando. Essa relação profana entre modelos já de início meio rotos tem sua explicação: Lulu alterna boas canções de pop fácil com hits irritantes e faixas auto-indulgentes, abusando da prepotência injusificada em entrevistas e aparições públicas; Arantes é um compositor talentoso (e pianista, como o argentino em questão) cujas canções são muitas vezes sacrificadas pelos arranjos bregas, exagerados ou simplesmente equivocados. E Wando é o Wando.
Calamaro concentra bem essas características desses três, com o “adicional” de ter a voz de uma araponga de cu quadrado (que infelizmente parece ter virado referência para oito entre dez bandas de uns anos pra cá – Intoxicados, Estelares e Los Tipitos, com seus vocalistas de lamentos anasalados que o digam!). Ainda assim, esse gêmeo de corpo e alma (e amigo íntimo) do Maradona tem uma qunatia respeitável de canções que ficam ali, prestando assistência à minha retórica introspectiva. “La Parte de Adelante”, um caso raro de combinação acertada entre letra, música e arranjo, fica orbitando minha cabeça com sua seqüência de definições à Wando: “soy el soldado de tu lado más malvado / y el arquitecto de tus lados incorrectos / soy propietario de tu lado más caliente / soy dirigente de tu parte más urgente / soy artesano de tu lado más humano / y el comandante de tu parte de adelante”.
“Donde Manda Marinero” é outra que acerta em cima, com uma leveza melódica que – perdoem o clichê – qualquer um pode ouvir, mas pouquíssimos podem fazer. Outras tanta, como “Te Quiero Igual”, “Cuando te Conocí” e “Buena Suerte y Hasta Luego”, são estragadas pela voz de pata prenha (essas definições podem ser infinitas) e pela instrumentação de banda de parquinho de diversões – o que não impediu que o Wander Wildner surrupiasse os arranjos e as bases na cara dura para fazer seu “Paraquedas do Coração”. Há umas – como “No Se Puede Vivir del Amor” – em que a moldura musical enfeia o quadro lírico. Outras parecem refugo textual do Cazuza com melhor resolução musical – é o caso de “Cartas Sin Marcar” e “Alta Suciedad”. A lista poderia seguir até o cansaço – nem falei de sua versão constrangedora para “I Will Survive” – afinal, se trata de um cara que teve ego e cacife suficiente para lançar um disco quíntuplo (!!!) em 1999, El Salmón, para depois cair no limbo cocaínômano (batizou seu estúdio e apartamento de Deep Camboja e se enfurnou lá até que tivesse cheirado metade da produção da Colômbia) e mais tarde emergir como herói nacional e rockstar redivivo... lançando um disco de covers de tango!
Pois é, o rock argentino tem dessas coisas. E como eu ainda fico ouvindo isso, nem eu sei - bom, me poupei do disco de tango, mas não consegui escapar de sua versão tecnobrega de "I Will Survive". De qualquer maneira, fica registrado o momento, para minha futura referência, diversão ou vergonha.

Galã.

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Wednesday, November 07, 2007

Dez piores discos nacionais

“Vamos começar pelos piores. É mais divertido”. (Mike Patton)
Não havia planejado, mas a sugestão do André me incentivou a fazer uma lista do que considero os 10 piores discos nacionais de todos os tempos. Adotei critérios semelhantes aos que usei para selecionar os melhores: não basta ser ruim, tem que ter me irritado ou incomodado de uma forma especial, ser aquele disco ruim de dar raiva. São discos que passaram pela minha mão, seja porque ganhei, peguei emprestado ou – pior – comprei, e desejei nunca tê-los conhecido. Por isso não estão aqui discos como Você Não Precisa Entender, do Capital Inicial, Kavookavala, dos Raimundos, ou Aqui, Lá, Em Todo Lugar, da Rita Lee, discos que, mesmo medonhos, não passaram pelos meus ouvidos mais que uma vez, e em situações em que não envolviam minha casa. Da mesma forma, deixei de lado discos que constavam do critério dessa compilação feita pelo Scream&Yell em 2005.

Coisas como axé, “pagode paulista”, cantoras ecléticas, Roupa Nova, breganejo, sertanojo, participantes de reality shows e umas outras coisas não entram porque são café-com-leite.

Com a mira já assustada, vamos começar:

1. Eletro-cidade, Astronautas.
Bah! Eu já falei mais do que devia sobre esses caras. Aliás, quem são eles? Alguém se lembra?

2. Cowboys Espirituais, Cowboys Espirituais.
Esse “supergrupo” (quiá, quiá, quiá) gaúcho é o maior engodo já feito nessas terras. Foi vendido como “um projeto country de três músicos consagrados”, porém mais parece um bando de peões de Barretos adolescentes tendo crise de identidade sexual. Músicos consagrados? Frank Jorge, Marcio Petrarcco, Julio Reny – consagrados por quem, cara-pálida? Por meia-dúzia de “bróders” que freqüentam os botecos que aceitam shows deles?
História interessante: na época (1999), a Trama estava entre contratar esse trio e uma agremiação chulézinha do Rio de Janeiro, uns tais Los Hermanos. O sr. Carlos Eduardo Miranda (gaúcho, ex-umas-tantas-bandas-inexpressivas, o cara que popularizou a “brodagem”) optou pelos primeiros e perdeu o estouro da Anna Julia. E hoje esse cara é um dos “avalizadores de sucesso” do programa Ídolos. Sintomático.

3. Os Invisíveis, Ultraje a Rigor.
Roger já foi brilhante, aqui é apenas triste. Das rimas medonhas (“todo dia essa mesma labuta / eu trabalho feito um filho-da-puta”) ao instrumental pobrecore, tudo soa triste. A única faixa menos horrível, “Miss Simpatia”, nem dele é, é da autoria de Gabriel Thomaz, dos Autoramas. Triste, triste, triste... Principalmente porque a formação da banda (Mingau, Baça e Serginho) é a melhor que o Ultraje já teve.

4. As Dez Mais, Titãs.
Discos de versões já não costumam ser grande coisa, agora, o que dizer de um disco onde originais pífios ganham versões frouxas? Masoquistas têm aqui um passatempo divertido: escolher a pior de todas as faixas. Será a versão “power ballad” (tipo “Skid Row encontra NX Zero”) de “Pelados em Santos”? Talvez os violões “estou-estudando-música-com-livrinhos” de “Um Certo Alguém”? Ou... Ah, são muitas opções. Dez, para ser exato. E nem sucesso fez.

5. Armandinho Ao Vivo, Armandinho.
Uma sala de aula em Foz do Iguaçu, ano de 2006.
Aluno 1: Professor, o senhor vai no show do Armandinho?”
Professor: É claro que não.
Aluno 2: Ô, loco, ‘fessor, por quê?
Professor: Puta música de pau mole!

6. Puro Êxtase, Barão Vermelho.
“Por Você” já garantiria a presença eterna da banda no inferno das composições pop, mas calma, ainda tinha a faixa-título, uma “Pense e Dance” para os anos 00. Lembra? “Pensiiiiiiiiiiiii... pensi i danci”.... Atualizado e revisado, para provar que a capacidade de se renovar do ser humano não se limita às suas qualidades.

7. Acústico MTV, Ira!.
Quando você acha que uma banda já fez seu pior (Música Calma para Pessoas Nervosas), eis que ela se permite cair ainda mais e estragar aquilo que ela levou anos consagrados. Esse, infelizmente, deu certo, e deixou os bolsos do Ira! cheios o suficiente para reinflar seus egos e dar nessa embrulho que estamos vendo nos jornais e sites de notícias. Pianos pessimamente tocados não bastavam, eles tinham que fazer uma canção do Clash (“Clampdown”) escorrer de seus retos, chamar a Pitty para enfeiar uma canção que já nascera errada (“Eu Quero Sempre Mais”) e, em plenos 40 anos de idade, gravar uma canção chamada “Flerte Fatal”. Amado Batista versão mod.
E tocou muito, essa porcaria.

8. Isopor, Pato Fu.
Os quatro primeiros discos do Pato Fu poderiam vir numa caixa chamada “Escorregador”, já que eles começaram num ponto interessante, com um álbum bem inventivo e divertido, e foram escorregando até o anódino Televisão de Cachorro. Ultrapassando o fundo do poço com Isopor: musiquinha em japonês, sucessinho (“Depois”) com clipezinho fofinho, guitarrinhas – tudo bonitinho, fofinho, gostosinho. E ruinzinho.

9. Se Sexo É O Que Importa..., Bidê ou Balde.
Um mérito esses gaúchos têm: o de ter um nome mais ridículo do que os que foram consagrados nos anos 80, como Abóboras Selvagens, Biquíni Cavadão e Herva Doce. E só esse. De resto, eles têm o vocalista mais insuportável do “rock” nacional, letras acéfalas que se pretendem “transgressoras” (“Sr. Promotor”, “Gerson”, “E Por Que Não?”) e a amizade (perdão, “brodagem”) de vários jornalistas do meio musical, o que me obrigou a ouvir e ler muito sobre eles quando eu mexia com a coisa. Bleargh!

10. Esse Lugar, Gugle’s.
Eu é que não ia deixar minha terra de lado! Taubaté deu ao mundo Mazzarópi, Renato Teixeira, Cely e Tony Campello, Cid Moreira, o grande Juarez Soares... Mas também viu nascer Hebe Camargo e essa nojeira, uma banda que tocava em todos os bares da cidade com um repertório de covers e composições próprias que pareciam uma mistura do pior do Barão Vermelho com refugos descartados pelo LS Jack. Eram popularíssimos na cidade, tinham fã-clube e foram hit no Programa Raul Gil, sendo que suas apresentações neste eram exibidas em telões durante seus shows. Acho que já deu para entender...

Faltou O Circo Está Armado, da Relespública, e (muitos) outros. Mas bater em indie nem tem graça...


Apêndice: Momentos constrangedores

Nem sempre você precisa fazer um álbum inteiro para queimar o filme. Às vezes, uma canção basta.

“Eu Emo Você”, Jaked.
Estava eu em um festival de hardcore em Cascavel (PR) para ver os Street Bulldogs e Garage Fuzz quando sobe ao palco uma banda local, o tal Jaked. Uns moleques de uns dezesseis anos, tocando aquele sonzinho furreca que moleques de dezesseis anos com a cabeça cheia de Blink 182 e Pennywise costumam fazer. Só estava ruim, nada mais. Só que foram encerrar o show com seu “hit” local, “Eu Emo Você”. Olha o refrão: “preciso de você / não posso te esquecer / no seu fotolog eu vou te ver / eu emo você”. E era a sério! De chorar.

O retorno do Gueto
Gueto era uma boa banda dos anos 80 que não deu em nada. Voltaram como Guetho, e ninguém notou, algo pelo qual todos devem ser gratos. O retorno deles foi uma alucinação, não existiu, foi uma bad trip, um sonho ruim, não, não, não...

"Tele Fome”, Jota Quest.
Um rascunho de “Só Hoje” (a nojeira mais asquerosa gravada em nosso idioma, também hors concours nessa lista), feita num meio-termo entre Roupa Nova, Fabio Junior e The Calling, com cara de jingle de campanha da Globo. Era uma das preferidas do mulherio nos meus tempos de faculdade, então era difícil fugir dela, assim como não dava para escapar daquelas “quero-homem-mas-não-agùento-rôla” que saíam para a “balada” com a versão da Cássia Eller para “Malandragem” tocando bem alto no carro que o papai lhes deu.

Andréas Kisser e Junior Lima ao vivo.
Nem vi isso ao vivo, mas o ex-Sepultura conseguiu queimar o pouco de credibilidade que lhe restava ao chamar o irmão da Sandy para dividir o palco assassinando Jimi Hendrix.

Lobão na MTV
Seja com o disco acústico (que nem com jabá emplacou nas rádios) ou com o MTV Debate, o senhor João Luis vem conseguindo provar que seus dias ficaram para trás. Bem para trás.

"Vinhas, eu vou te buscar, tá sabendo?"


Especial MTV Estúdio Coca-Cola
Acho que esse é o nome do projeto que uniu NX Zero e Armandinho no mesmo palco para fazer versão ridiculocore de “Ursinho de Dormir” e juntou as nulidades Pitty e Negra Li para mostrar que nenhuma delas tem talento. No caso do combo Babado Novo/ CPM 22, dá para livrar a cara da Claudia Leite, que tem alguma “substância” (se é que me entendem). Só isso.



“Proibida Pra Mim”, com Zeca Baleiro.
Baleiro tem coisas muito interessantes, e eu gosto bastante de Vô Imbolá, seu segundo disco, porém seu terceiro CD, Líricas, é menos que apreciável. Há palavras menos adequadas e mais apropriadas para comentar esse cover, mas não vou usá-las sob pena de ter minha conta do Blogger suspensa. Eu sei, não há censura, mas eu teria que ser tão mal-educado e escroto para tentar definir o horror que é essa gravação, que o site seria obrigado a redefinir suas normas.



“Sozinho” na versão do Caetano Veloso
Não vou depreciar o trabalho do tal Peninha porque não o conheço, nem quero conhecer, e não compartilho da bronca generalizada com o Caetano porque simplesmente não o levo a sério. Mas essa gravação – juntamente com “Te Devoro”, do Djavan – ocupou durante anos o som ambiente de bares freqüentados por mulheres de trinta anos que moram sozinhas e se sentem independentes e se dizem “baladeiras”, mas no fundo ainda sonham com um príncipe encantado e ficam balançando a cabeça e suspirando ao som dessa canção. E se você gosta desse tipo de mulher, o problema é seu.
E se você é esse tipo de mulher, então nem passe na minha frente, por favor.

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Saturday, November 03, 2007

"Guns of Brixton" - Los Fabulosos Cadillacs (1994)

Los Fabulosos Cadillacs são, de longe, a maior banda argentina de todos os tempos (Soda Stereo o *#$@!), e eu ando numa fase de "aguante, Cadillacs", como diriam nuestros hermanos. Aí achei esse vídeo, uma versão raggamuffin' roqueira de "Guns of Brixton", aquela do Clash.

O baixista Flavio Ciancirulo, anabolizado na época (hoje úm vovozinho gordo e careca), assume os vocais, deixando as quatro cordas para o vocalista Vicentico, que assume muito bem o posto. O saxofonista Sergio Rotman improvisa uns toasts, injetando fúria na mistura, mas o grande "tchan" dessa versão está no arranjo de metais, principalmente no solo de Fernando "Tromboninho" Albareda.

Para quem não conhece: os Cadillacs começaram ska, incorporaram dub, ritmos latinos, caribenhos e, por fim, o jazz, no seu último e melhor disco de estúdio (La Marcha del Golazo Solitario, 1999). Estão num volta-não-volta para o ano que vem, mas quer saber? Tomara que não voltem. Para que fuçar no passado?

Ainda mais que os a vida pós-Cadillacs rendeu boas coisas: Rotman montou uma banda de fuleiragem roqueira (Cienfuegos) e fui produzir a esposa, a canotra Mimi Maura, que faz uns boleros-dubs de primeira; Vicentico transita numa ponte entre Ricky Martin e Kevin Johansen, consegue ser cult e popular ao mesmo tempo em sua carreira solo. Ciancirulo tem trocentos projetos parelelos despretensios, desde rockabilly (Mysterio) até dub (Flavio Mandinga). O guitarrista Ariel Minimal toca folk rock com sua banda Pez, e todo mundo segue feliz.

Já faz um ano que a banda não sai do meu case. Quem quiser se viciar também, o recado está dado.

Devo escrever muito mais sobre esses sujeitos em breve...

10 melhores discos nacionais

A Rolling Stone brasileira publicou uma lista dos 100 Melhores Discos Brasileiros de todos os tempos. Listas desse tipo – ainda mais as que surgem de votações – são sempre questionáveis (etc, etc, etc) mas todos gostamos de lê-las. Eu admito que fiquei feliz de ver Acabou Chorare como o número 1, esse excelente disco que é sempre esquecido. Acho que teve Mutantes demais, Caetano demais. Tem coisa lá que não me interessa, mas que me é perfeitamente compreensível o fato de figurarem ali. De outros, sabe Deus – Racionais, velho? Eu já nem chamo o que os caras fazem de “música”...
Mas oquëi, a brincadeira está lá e, afora uns textos chatinhos, ela está divertida. E me deu vontade de fazer uma listinha também, dos discos que soam como melhores para mim. Não se trata “os mais importantes” ou o que quer que seja, porque aí teriam que figurar vários que não marcaram minha história pessoal, apesar de serem bons discos. São apenas 10 discos que, nos tempos atuais, sinto grande prazer em ouvir. E aí estão, seguidos de pequenos comentários:

1. Revolver, Walter Franco.
Porque eu sempre tive um pé no riponguismo mesmo. Porque ele, quando é ruim, parece um Frank Zappa bom. E porque a faixa-título é do caralho.

2. África Brasil, Jorge Ben.
Porque esse “seu Jorge” merece respeito!

3. Samba Esquema Noise, mundo livre s/a.
Carnaval na Obra e Por Pouco podem até ser melhores (grandes discos, sem dúvida), esse tem aquele carinho especial de ser uma descoberta da adolescência.

4. Da Lama ao Caos, Chico Science & Nação Zumbi.
Porque me salvou de ser um nerd idiota que assiste e comenta séries de TV americanas... e me rendeu “viagens” de todos os tipos.. Todos mesmo!

5. La Carne, La Carne.
Você não lê esse blogue, né? Tá certo, então deixa eu te dar os motivos: “Viaduto do Sol”, “Demônio Triste”, “Jukebox”, “Sobre a Revolução”, “De Uma Lembrança Estranha”, “Marimbondo”...

6. Selvagem?, Paralamas do Sucesso.
Herbert Vianna é um dos melhores e mais sofisticados compositores dessa terra, e esse disco é “à prova de enjôo”. Ouço desde criança (1986) e nunca me cansei dele.

7. Manifesto da Arte Periférica, Wado.
Porque é um disco muito gostoso de ouvir. Só por isso.

8. Coisa de Louco II, Graforréia Xilarmônica.
Eu pirava nos baixos do Frank Jorge. Pena que ele ficou tão chato depois, e a banda, tão sem sal.

9. Solitude, Iris.
Uma vez, brinquei: “Igor [Ribeiro] tem dois cérebros”. Tem um só, na verdade, mas que funciona que é uma maravilha!

10. Bogary, Cascadura.
Porque é um dos poucos discos de ROCK mesmo feito nessa terra.

Tem outros, lógico, inclusive o próprio Acabou Chorare, e uns insuspeitos . Mas esses daqui estão de ótimo tamanho, não estão não?

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