Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Tuesday, December 18, 2007

Aforismo... e férias!

Tem uma hora em que você cria um mirante dentro de si próprio. Você sabe, dos mirantes você vê tudo ao redor, mas não o exato lugar onde você está. E assim me fiz, olhando para as coisas que criei e para as outras que só posso viver.

=*=

E assim encerra-se mais um ano de atividades nesse blogue, que sai de férias por tempo indeterminado. Obrigado e até!

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Friday, December 14, 2007

"El Señor", La Vela Puerca

Uruguaios que se dizem influenciados por Titãs e Los Hermanos, mas ouça essa canção e diga: há quanto tempo que Paulo Miklos e seus sócios, perdão, amigos não fazem uma canção assim?
Simples, forte e com os metais sublinhando as guitarras. Música mainstream, sim. E isso importa nesse caso?

"No Pussy Blues"

Matyn P. Casey mostrando como quatro cordas podem transpirar (e inspirar ao) sexo. Na voz, Jorge Jordão (ou seria o Nick Cave?) punindo o feminismo com sinceridade de urgência hormonal e outros demônios passeando pelo ar.

Mas só uma pergunta: quem é o Baeto Salu na guitarra?

Gracías, André!

Tuesday, December 11, 2007

Contas a acertar

"O escritor publica seus livros para se livrar deles", Jorge Luis Borges.


Chega uma hora em que você se dá conta que, se morresse agora, não faria sentido tentar acertar algumas contas – pelo menos, é o que me passa agora pela cabeça. Não teria por quê voltar atrás, recapitulando minha vida e tentando encontrar sentido no que se deu, porque o que houve pertence ao passado e ali deve ficar, e depois que eu morrer, esse passado começará a se integrar ao esquecimento até desaparecer por completo.
Somos finitos, falhos e passíveis de arrependimento, e o máximo que isso nos rende é a chance e a vontade de não cometer o mesmo erro novamente. E apenas isso. A vida não tem botão de rewind, e as lembranças são ilusões que escolhemos aceitar para tornar nossas recordações mais palatáveis à nossa índole. Mas o que faz a diferença sempre é, desculpem-me o clichê, aqui e agora. A vida não tem reprises, e nem sempre a primeira sessão foi boa. Mas continuamos indo ao cinema à espera de um bom filme.
E se tudo parasse agora, se amanhã realmente não fosse chegar, não faria sentido telefonar para parentes, amigos, tentar celebrar mais uma vez, porque se não fiz nada disso até agora, não será no último momento que vou conseguir. Também acho tola (e muito humana) essa idéia de procurar acertar animosidades no último minuto, mas se optei por manter distância de alguém, não é a iminência da morte que vai redimir esse erro. Tive a chance de me acertar com meus desafetos, e se não o fiz (e não fiz mesmo, infelizmente), a oportunidade já passou e ficou em nunca mais. Os amores também foram, e contrariando os românticos, posso dizer que não ficaram. Ficam mágoas, recordações e impressões, mas o que foi vivido, morto está.
Nós morreremos, e não gostamos de pensar nisso. Alguns até lidam bem com a idéia da própria morte, mas temem em pensar no falecimento dos outros. A idéia da eternidade, porém, é tão ou mais torturante quanto. O que ficar fazendo quando se tem todo o tempo do mundo? Felizmente, não precisaremos descobrir a resposta para essa pergunta.
Então o tempo se esgota. O meu, esgotado hoje, me deixa com a certeza que vivi de acordo com minhas convicções, o que, honestamente, não é grande coisa. Os homens-bomba, os fanáticos religiosos, os assassinos todos vivem segundo suas convicções, e eu não sou melhor que eles só porque não amarro um cinturão de explosivos em volta do corpo ou rasgo minhas pregas vocais num púlpito. Podemos ser terrivelmente cruéis ou consternadoramente doces, e frequentemente nos confundimos quanto à hora de sê-lo. Mas, de alguma maneira, morrer hoje me deixa apático. Não há o que resolver, não há nada por fazer. Acho que isso me faz bem, de uma forma insidiosa e soberba. O que mostra que até na iminência da morte preservamos nossas características mais chulas.

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O Evangelho segundo Jesus Cristo


A peremptória recomendação de meu mui comentado amigo Boi e a gentil disposição de minha amiga Lesliane fizeram com que O Evangelho segundo Jesus Cristo, de José Saramago, fosse colocado à apreciação do meu parco entendimento. Desde então, os dias têm sido outros.
Saramago é detalhista para aquilo que é humano. Ele não gasta muito com descrições de paragens, embora o faça bem, mas é minucioso quanto a odores, sensações táteis, sons, visões, detalhes físicos, a tudo que os homens podem perceber. A partir daí, ele especula e constrói sobre o que os homens podem inferir baseados nisso. Essa construção já tinha me encantado, enternecido e também me assustado em Ensaio sobre a cegueira, onde a privação de um sentido leva a humanidade à extirpação de muitas de suas virtudes e valores, uma vez que a enorme maioria destes são baseados nas aparências. Foi uma leitura que me preparou o espírito (ironia involuntária, mas bem-vinda) para este Evangelho. Aqui, Saramago faz o mesmo processo, só que seus personagens são conhecidos nossos: a Sagrada Família. Talvez não tão conhecida assim, já que aqui Jesus tem, de fato, irmãos, conforme atestam os demais evangelhos sinóticos (para não falar dos apócrifos) e cuja existência sempre foi justificada por clérigos como “erro de tradução”.
Entretanto, erra feio quem julga (como eu julgava há uns dez anos atrás) que Saramago brinca de jogar pedras na cruz, apelando para o choque fácil ao mexer com símbolos sagrados. O que eu tenho lido até aqui (recém concluí a primeira metade de suas 448 páginas) traz um exercício de imaginação sobre o que teriam experimentado em seus íntimos os protagonistas de tão famosa história. Isso somado a um grande esforço de historiador, que reconstitui meios e métodos da época para contar a história sem deixar que nossa memória nos bombardeie com todas as relíquias imagéticas que formamos ao longo dos anos. Pensamos que José e Maria se punham aos carinhos e amores, mas fato é que naquele tempo às mulheres não se permitia sequer sentar-se à mesa em companhia do marido, quanto mais trocar arroubos afetuosos. Como essas, outras desconstruções se seguem, criando um Jesus tão homem quanto qualquer outro, tão egoísta quando adolescente quanto os adolescentes o são, tão apaixonado quanto os jovens costumam ser, para o bem ou para o mal.
Lúcifer não deixa de ser aquele que nos desvia dos intentos do Senhor, porém o faz para que Ele entenda que de nós não pode cobrar aquilo que não nos dá. As incoerências da Lei Divina – e dos atos humanos a ela ligados, que atravessaram os séculos e até hoje perduram ~ são escrutinados, desvelados e colocados diante dos olhos dos que querem e não querem ver. Imagino como deva ser penosa ou afrontante a leitura deste livro para quem não cede um milímetro em suas convicções doutrinárias
Acredito que Saramago deva ter escrito o livro sem levar essas considerações (muito) a fundo. Interessa-o aqui a história, os homens que a fizeram (ou que foram inventados para fazê-la) e as bobagens que se sustentam em nome dela. Também há, em mesma ou maior proporção, a beleza que emana daquilo que transcende uma mera consciência virtuosa da cristandade e que é na verdade o ser humano crendo em sua capacidade – e na mais absoluta necessidade – de ser solidário, sem que isso venha do Céu. É algo que parte de nós mesmos, e só de nós deveríamos esperar que partisse.

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Saturday, December 08, 2007

The Police

Baura, vinho e sakê podem estar influenciando meu julgamento, mas estou diante do show do The Police e... bem, estou diante do Multishow exibindo o Police no Maracanã, mas você deve ter entendido (e se não entendeu, não estou em condições magnânimas de me importar. So lonely). Todo mundo sabe que sempre fui contra "shows de retorno", meras armações comerciais soterradas sob ares de "inspiração artística". Bandas indiealternativas voltando, em especial, me enchem de asco, mas cá estou, embasbacado diante de Sting, Copeland e Summers.

O que acontece? Acontece um power trio, três caras tocando (os poppers que me desculpem, mas estão tocando rock'n'roll - misturado com reggae pasteurizado, ritmos africanos para consumo em massa, mas sim, rock'n'roll) três caras que se dispuseram a ir além do óbvio. Tá, eles só tocaram sucessos e são coisas que poderíamos vagamente classificar como "eternas", não tem rico nenhum disso. Mas eles não precisavam estender "Roxanne" numa dub incrivelmente enfumaçada, não precisavam acelerar o andamento de "Every Breath You Take" ao ponto de virar uma coda. Poidam ter sessões de metais, teclados, backup singers e tudo o mais que tornam ridículas múmias anacrônicas como The Who, Rolling Stones e outros. Podiam bem ser um Stooges, dando o mínimo de um show business necessário para jmenter seu status de Hollywood stars. Podiam - porra - fazer um show óbvio e modorrento, mas eu, mísero e verborrágico viandante fronteiriço, estou sem palavras diante de uma banda que reinventa seus hits óbvios e, ao mesmo tempo, preserva exatamente aquilo que os fãs querem ver.

Eu tinha uma namorada indie que se surpreendia com meus discos do Living Colour, com meu hábito de ir para a praia escutando Paralamas e, principalmente, com minha discografia integral do Police. Não cabia em sua cabeça alimentada por idas à Outs e Funhouse. Compreendo a dúvida dela. E hoje, mais que antes, me apiedo dela.

What can I do? All I want is to be next to you.

Me capitulo. Valeu, Police! Pela TV e tudo, não foi emoção comprada. Foi emoção. Só.

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Friday, December 07, 2007

Amigo sexcreto

Atendendo ao pedido do Túlio (blog com atendimento ao leitor é o que há), contrariei minha disposição inicial de nem folhear a revista e fui olhar o artigo “Amigo sexcreto”, da Nova. Duas sugestões que eu encontrei lá, transcritas integralmente. Os comentários em itálico são meus.

SINO DE NATAL
Em vez de pendurá-lo no topo da árvore, você vai exibi-lo bem na sua púbis. Como? Lance mão da depilação artística (mas até isso tem “versão artística”?), tingindo os pêlos com hena natural no tom vermelho e pedindo à moça do salão que siga o molde que levar de casa (além do sino, uma caixa de presentes ou um boneco de neve também ficam originais). Se finalizar a obra com pedras de strass, o resultado deixará o seu amor extasiado

E eu tenho cara de quem quer foder árvore de Natal?

POSIÇÃO DE RENA

Enquanto os sinos badalam lá fora, que tal propor ao seu querido experimentarem a posição de rena? Requer que ele a segure pela nuca e pé (puta que o pariu! É para brincar de sanfona?), igual a um caveliro montando em pêlo, só que agarrando-se a uma rena em alta velocidade (digite no YouTube ‘rena correndo’. Quem sabe você dá sorte). Com você deitada de costas, convide-o a se ajoelhar entre as suas pernas tendo as coxas sob seu bumbum. Você dobra os joelhos para prende-lo com as suas coxas e deixa os pés próximos aos dele. Depois de penetrá-la, o rapaz (que também deve ser um contorcionista) a segura na nuca com uma das mãos, puxa seu pé ou seu tornozelo para perto com a outra e começa a investir mais e mais. Jingle bells.

E depois, você se vira em direção à Meca com a rótula apontada para onde ficava Cafarnaum enquanto ele se benze com um ramo de arruda e dois talinhos de hortelã. Você dá um mortal de costas e cai sobre os ombros dele. Alguém chama o SIATE.


Não deu para ler as outras “dicas”. Simplesmente não consegui. Pede pra alguém te mandar a revista, Tulio.

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Thursday, December 06, 2007

Planeta Terror



Tem gente que nasceu para ser pau-no-cu (oquêi, eu poderia ser mais eloqüente e menos escatológico, mas... hoje não). Lendo as críticas sobre Planeta Terror, a metade mutilada do que seria uma sessão dupla com À Prova de Morte, no combo Grindhouse, pude chegar a essa tocante e mui necessária conclusão.
Robert Rodriguez fez um filme de homem para homens, de garoto para garotos, de fetichista para fetichistas. Isso quer dizer mulheres deslumbrantes em trajes reveladoras agindo como você gostaria que sua melhor amiga agisse, um herói outsider e canastrão (e meio pançudo), coroas legais que tem vários brinquedos possantes, mais mulheres infartantes (como diriam os argentinos), muito sangue de mentira, ação desmedida, um fiapo de história, vilões "sou-mau-mesmo", amputações... Hã, eu disse "amputações"? Pois é, e depois dizem que eu sou freak – não me ocorreu nunca uma fantasia sexual com uma mulher perneta com um taco de madeira acoplado ao coto, e o filme traz isso também...
Muitos se queixaram que Rodriguez só usou clichês, e até houve quem dissesse que ele "se baseou em referências universalmente conhecidas que não de fato não conhece a fundo". Quer dizer, o tipo moleque brasileiro que acha que realmente vivenciou a época dos cines grindhouse nos EUA. Mas é bem esse tipo de cara que chama Sin City de filme noir, sendo que o noir se caracteriza, entre outras coisas, por diálogos curtos e violência sugerida, não por verborragia e mutilações explícitas. Mas enfim...
Planeta Terror é uma festa só. Há muito não desfrutava de tanto prazer numa sala de cinema – também, aquela abertura com Rose McGowan alegra até eunuco emo. Dos créditos até às "falhas nos rolos" do filme, tudo sugere uma grande diversão sensorial e sem culpa, com a diferença de não ser um lixo sádico com pretensões psicológicas como a série Jogos Mortais nem um desfile de crueldades como aquelas nojeiras do Rob Zombie. É um filme de terror para quem gosta e para quem não gosta do gênero, é uma comédia, é um filme de ação, é exercício para cinéfilos... É do caralho!
É legal ver um elenco com tantos astros de filmes que nós já gostamos muito. Michael Biehn (o soldado salvador do primeiro Exterminador do Futuro) não tinha um papel tão legal desde que fizera Johnny Ringo em Tombstone – paradoxalmente, ele é o xerife aqui. Jeff Fahey, o "passageiro do futuro", está velho, acabado e divertidíssimo como o churrasqueiro J.T. Tem ainda o Mr. Hyde Josh Brolin (o rosto dele é pra lá de esquisito) como o médico psicopata, o herói gore Tom Savini como o policial Tolo e, até Carlos Gallardo (o "mariachi" original) dizendo "oi". Fora Bruce Willis como o coronel Muldoon, se divertindo em sua canastrice vilanesca.
Mais legal é o elenco feminino: entre Rose McGowan, uma clone da Uma Thurman e a até a Fergie, sobressaem-se as "Crazy Baby Sitter Twins", dos hermanas latinas loucas, caricatas, rechonchudinhas e muito, mas muito gostosas. Parece que são parentes do diretor. Se for, mais um (ou dois?) motivo para eu querer fazer parte da família.


Como a maioria dos espectadores, eu tenho a forte impressão que se a brincadeira tivesse se mantido intacta – Planeta Terror e À Prova de Morte juntos, mais os falsos trailers – eu teria me divertido ainda mais. Por outro lado, acho que Tarantino não tem o mesmo senso de diversão juvenil de Rodriguez, e seu lado meio macabro, somado ao sinistro Thanksgiving, de Eli Roth (que eu vi no YouTube e me atormenta o sono até hoje), deixariam um ar de desconforto ao final da sessão. Quer saber? Deixa assim. Se der, vou ao cinema ver esse "primeiro movimento" mais uma vez. Tinha saído de casa emputecido por uma briga conjugal e voltei calmo, sorridente e pronto para reconhecer até erros que não cometera. Houvesse mais filmes assim e as pessoas parariam de usar drogas, a paz reinaria nas famílias e viveríamos todos gordos e felizes.
Os críticos? Bem, o Millôr Fernandes já disse que o crítico é um impotente que ganha para estragar o orgasmo alheio. O popular "empata-foda". A crítica cinematográfica começa a ficar parecida com a musical...

Yo tomaría un trago con él... y con sus hermanitas!

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Tuesday, December 04, 2007

A "Nova" mulher

Minha namorada ganhou uma assinatura da Nova, a “revista da mulher moderna” (ou essa seria a Marie Claire?), e eu, interessado que sou no universo feminino (leiam nas entrelinhas, por favor), sempre dou uma fuçada nela. A capa nunca muda, é sempre alguma celebridade de talento duvidoso tentando atender uma imagem de sofisticação, bem-estar e sensualidade simultâneos, então tento me orientar pelo conteúdo para saber de que mês é a edição. Nunca resolve, os assuntos são os mesmos: dicas “infalíveis” para fisgar um homem, novidades da moda da estação, um guia “ar-ra-as-dor” de sacanagens a dois (que de sacana têm muito pouco), recomendações para você subir um cargo na empresa, enfim... tudo para a mulher se tornar um objeto sexual masculino (nem pensar em lesbianismo!) com um mínimo de realização decorrente do sonho capitalista básico (a revista menciona professoras, operárias, enfermeiras ou qualquer outro emprego que seja não-clerical?). Enfim, tudo seguindo o modelo da Cosmopolitan americana, exportada para diversos países segundo o mesmo padrão – as mulheres devem ser todas iguais em todas as culturas, né?
Mas deixemos a patrulhinha de lado, até porque não estou escrevendo outra coisa senão o óbvio. Fiquemos com o encarte especial da edição desse mês: Guia Astrológico 2008, sugestivamente apresentado pelo texto “Uau! Quanta sorte e sucesso em seu destino!”. Claro, uma revista não venderia nada com uma chamada do tipo “você vai se ferrar esse ano”, ou “se prepare, que a bucha não vai ser fácil”. E na capa do encarte propriamente dito, vemos os tópicos abaixo descritos. Os comentários são, obviamente, meus:

“sexo – os dias que prometem abraços escaldantes”
Maravilha, uma nova versão da tabelinha, essa voltada pro desejo! Vou ter que olhar pra lua para saber quando a trepada vai render, e rezar para não ser período fértil.

“sucesso – os desafios e as decisões certas para chegar lá”
“Lá” é precisamente onde todos querem chegar, mas ninguém sabe bem onde é. Só uma coisa: vai ter cargo de chefia suficiente para todas as leitoras que seguirem à risca suas indicações?

“poder – o trunfo que destacará você das outras”
Ah, tá! Então tem um trunfo! Mas... todas vão usar o mesmo? Iiih, não vai dar certo...

“amor – o zodíaco revela se ele é para casar ou..”
Vou correndo ver o que dizem do meu signo! Se for pró-foda, vou perseguir toda mulher que eu ver com a revista nas mãos e sair gritando: “sou de Sagitário! Sou de Sagitário!”.

Enfim, a revista deixa claro sua visão das mulheres: somos todas modernas, loucas para amar e para dar, para fisgar marido, para sermos executivas bem-sucedidas... mas continuamos esperando pelo príncipe encantado, e ainda por cima dependemos dos astros para tomar nossas decisões.

Misoginia e humor rasteiro à parte, cada um acredita no que quer, inclusive nos signos, na moda ou em Papai Noel. Mas daí a afetar uma “independência” quando tu depende do marido para pagar as contas e das estrelas para poder dar uma bem dada, a coisa fica esquisita. Claro que a revista atende a uma caricatura da personagem feminina, da mesma maneira que a Vip atende a uma caricatura masculina – e se tais “desenhos” estão mais que presentes hoje em dia, a culpa é desse argumentista de quinta categoria que é o destino num “mundo globalizado” (me doem os dedos quando escrevo essa expressão). Ficamos todos padronizados, temos que querer o mesmo que todos, no mesmo prazo e do mesmo jeito. A decoração do closet pode até ser diferente, e a prateleira de discos um pouco mais ou um pouco menos cult, mas o lance é ser igual.
Claro, não há nenhum pecado (ou se há, desconheço, porque conheço mais sobre culpa que sobre pecados) em querer ser submissa a um homem de livre espontânea vontade e se sentindo livre só porque usa a maquiagem certa e diz obscenidades na hora de transar. Cada um faz o que quer. Só acho chato – e triste, e irritante – que todos queiram o mesmo. O conceito de “diversidade” hoje parece se referir apenas a penteados e roupas diferentes, já que a essência é comum a todos. E quando se persegue um sonho comprado, ele tem prazo de validade. E quando alguém se apresenta como uma caricatura, não pode reclamar de ser tratada como tal.

Ah, sim! A edição desse mês ainda traz “11 maneiras de dar sentido à sua vida”, matéria apresentada pela foto de sorridentes garotas esguias em roupas sumaríssimas, todas iguaizinhas. Não quis ler essa, nem a título de riso. Pensei em uma de imediato: sacanaear a revista.

Qual o "talento" dessa mulher mesmo? Ah, é, ela deu pro Senna antes de ele morrer...

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