Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Monday, November 27, 2006

De conversas e canções

Usei “Escola do Rock” para dar aula hoje. Podem dizer o que for, mas eu gosto pacas do filme. Acho que ele está imbuído do espírito roqueiro que – ainda que de um jeito “ingênuo” – está presente em um monte de coisas que eu faço. E quando falamos de rock aqui, lembro-me do Michael Stipe dizendo que três quartos do disco Horses, da Patti Smith, é introspectivo, mas não por isso menos punk.
Aí vem minha namorada e uma pergunta que ela me fez ontem: “você já tentou escrever sobre coisas do dia-a-dia? Algo que não fosse música?”. Porra, Lidi, claro que já. Já escrevi e escrevo sobre muita coisa que “não é música”, e esse blog já é uma evidência clara disso, basta conferir os posts precedentes. Mas música faz parte do meu dia-a-dia, meu e dos meus amigos, para quem mantenho esse blog. Ele não está aqui porque quero que alguém veja quão boa é minha escrita e me contrate para escrever em algum lugar onde não vou poder escrever do meu jeito. Minhas concessões, já as faço na escola. Aqui a coisa é outra. E é, definitivamente, musical.
Por que estou escrevendo isso? Ah, sim, acho que é porque eu ando cansado de fazer e dizer sempre as mesmas coisas, da mesma forma que me cansa encarar uma briga quixotesca pelas minhas “convicções”. Sabe a tal coisa da ideologia? Então, não acredito nela. Não tenho ideologia, nem religião, muito possivelmente nem uma filosofia de vida. Carrego um monte de incertezas, uma ou outra vontade e muitos sonhos, todos eles com alguma esperança por trás. E embora o fundador do Gordurama, Diego Fernandes, tenha escrito que “esperança é a porra de um urubu pintado de verde”, eu não acredito nisso. Não só porque ele mesmo se desacreditou depois, num texto muito pungente, mas porque, citação literária por citação literária, aqui eu me reservo o direito de ficar com Morfeus desafiando os lordes do Inferno com a esperança. Na teologia humanista de Neil Gaiman, nada mais forte que essa, a última instância de toda existência.
E a música ainda é minha fonte maior de esperança. Nesse período em que tudo muda comigo e para mim, as percepções se fortalecem enquanto as certezas esvanecem, a música está ao meu lado, não como um Deus, mas como uma dádiva Dele, uma benção dele, um anjo da guarda de acordes, riffs e harmonias, que faz com que eu não me canse tanto de mim mesmo, dos clichês desse mundinho limítrofe e cruel que esse planeta sempre foi e que agora se agrava.
Eu não nutro ilusão de tempos melhores. Eles sempre serão difíceis. Mas acredito em mais força para encará-los, em tesão para vivê-los e em humor para ignorá-los. Acredito nos momentos de refresco que te fazem atropelar a mediocridade, a própria e a alheia. Acredito na inspiração de conversas e canções. Acredito em contar isso para os amigos só para ver eles rirem da minha opinião juvenil. Ou talvez, para ver refletido no interior deles algo parecido com isso. Até porque o rock’n’roll passa pelos riscos, o maior deles sendo o risco do ridículo.

But if you wanna be the teacher’s pet
Baby, you just better forget
Rock got no reason
Rock got no rhyme
So you better get to that school on time
”.

É por aí.

Friday, November 24, 2006

Police Women

Um misto de "sexploitation" e "grrl power"? Uma gafieira apelativa dos anos 70? Sei lá. Só sei que me caguei de rir com a cafonice da coisa!

Thursday, November 23, 2006

São os dias engolindo as idéias (agora completo)

O quanto uma banda te impressiona ou influencia? O quanto uma canção é mais que uma seqüência de acordes e versos que passam pelos ouvidos e cérebro? O quanto, afinal, a música é importante para cada um?
Essa pergunta fica mais difícil de responder a cada dia, já que cada vez mais ela deixa de ser uma companheira de vida para ser um objeto decorativo acumulado em megabytes e CD-Rs, e as novas gerações vão elegendo Armandinho com trilha de fundo para suas paixões de viés de imitação televisiva. Mesmo a “minha” geração (esse pessoal de 27, 28 anos, dos quais eu não me sinto exatamente próximo) não tem essa relação com a música. Minha namorada, uma pessoa de sensibilidade ímpar, não tem isso. Outros tantos colegas também não. Mas só quem acorda precisando ouvir aquela canção sabe o que a música pode vir a ser. Não “a coisa mais importante dentre as menos importantes”, como diz um certo comentarista bisonho de futebol a respeito do esporte bretão. Nada tão tolo e rasteiro assim. Definições por definições, fico com Frank Zappa e seu “music is THE BEST!”.
Agora, se para nós, “meros” ouvintes a coisa é assim, e para quem faz a música? O que é para alguém saber que, em algum lugar, alguém está pautando uma decisão baseada naquilo que aquela canção lhe trouxe? Ou mesmo saber que as emoções, sonhos e outras coisas se desenham no imaginário e no coração de quem está ouvindo algo que você compôs e gravou junto com amigos ou até desafetos?
Cá estava eu pensando nisso a respeito do Folhetim Urbano. A banda é formada por três caras com quem eu trombei durante o Rock de Inverno VI em Curitiba: os irmãos Carlos e Renato Zubek, mais o batera Marcelo “Bora Lá” Chytchy. Todos muito camaradas e gente fina. Lá pelas tantas, o Carlão tinha me mostrado a demo de “Guerrilha”, que eles tinham gravado com o Linari (La Carne) mandando ver no vocal junto com o Carlão. Embora o som em que ele estava me mostrando aquele registro cru deixasse a música ainda mais embolada, a coisa toda me chamou atenção. Groove fortíssimo com as doses certas de peso e malandragem. Tempos depois, eles disponibilizariam essa faixa, ainda sob a nomenclatura Sabadá, no Trama Virtual. Baixei, ouvi e deixei pra lá, como acabei fazendo com quase toda música digital que gravei nos tempos em que tinha internet banda larga em casa.
Passaram-se uns meses e minha namorada pôs um gravador de CD no micro dela, e lá fui eu fuçar nos arquivos digitais que eu trouxera da outra casa. "Guerrilha" tava no meio e foi integrar uma das coletâneas "C.C." ("cem centido" (sic), de acordo com o senso de humor concretista-escatológico do meu irmão) que eu faço, junto com "Ódio Platônico", da Beijo AA Força e outras. Mas foram essas duas que dominaram o leitor do meu player e meus ouvidos, e foi a tal "Guerrilha", com seu groove sanguinolento e sua letra sarcástica, que me fizeram baixar Cativeiro na primeira oportunidade que tive.

... E estou eu um domingo na casa da mesma namorada, deixando algumas músicas tocarem enquanto outras coisas se desenrolavam, e vem um arranjo simples e envolventemente belo me seduzir os sentidos, enquanto uma voz grave mas nada imposta murmurava: "são os dias engolindo as idéias / tempestade que não passa mais / ontem eu vi alguém que se ama / isso é raro e já não me toca mais". Aquilo pegou. Pegou como "Jukebox", do La Carne, pega - ou seja, é uma apertada firme e impiedosa no âmago, uma coisa que tortura aquele farrapo bem remendado que chamamos de alma. E que, ainda assim, enternece.
Não demora muito, uns "ooh... oo-ooh" tal como um U2 rasgado vêm me chamar a atenção para uma explosão que gente bacana já definiu como ingênua: "não feche os olhos pra sonhar / não pare para descansar / a vida segue e procura o fim / sozinha". Talvez seja ingênua mesmo, mas o que os farrapos do parágrafo acima tentam esconder é a ingenuidade de quem, mesmo não sendo tocado pela visão de "alguém que se ama", ainda se permite ver o hoje com um tesão e até uma esperança que fazem com que a palavra "futuro" possa até deixar de ser figura de linguagem. Algo poderoso, involvidável, urgente, preciso. E emocionante e necessário.
Escrevo tudo isso porque volta e meia me pego lembrando daqueles dias em Curitiba, da empatia imediata com o Renatinho (que nem sei se me reconheceria se trombássemos hoje) e do clima de irmanamento que rolou entre ele, da minha alegria muda ao ver ele e a Juli juntos falando do bebê que viria (e já veio). Lembro do Rubão, Linari e "Bora Lá" contando tretas com a polícia e outras numa pizzaria não muito longe do 92º. Lembro do Rubão sideradaço comendo queijo de madrugada, carinhosamente preparado entre azeitonas e copos de Coca-Cola e cerveja pela Rosi. E no meio de todas essas lembranças (que sim, Ivan, valem alguma coisa), os sons do Rock de Inverno VI ecoando na minha mente. Do Terminal Guadalupe dedicando "Burocracia Romântica" para mim e dos moleques me acompanhando felizes no pogo. Do La Carne golfejando vida em "Desconhece o Rumo, Mas Se Vai" enquanto eu rolava pelo chão imundo de cerveja. Do Gruvox tocando uma sonzeira para uma casa vazia, dos mais sisudos curitibanos fazendo folia junto ao vocalista do Góticos 4 Fun, do respeito a uns rappeiros que estavam lá, até do show palha da Stela Campos. Lembro do que foram esses dias e do que as músicas em questão significaram.
A partir daí, penso em tantas coisas que estão equivocadas em minha vida, tanta coisa pela metade, tanta emoção carcomida pela rotina. Vejo que alguns sonhos insistem em remexer no fundo da pilha de farrapos para tentar definir à tal "alma" uma forma que não seja um cliché de classe média decadente nem de perifa comum. Penso e vejo tudo isso, e tem horas que isso me faz sentir dor. Só que nas horas de dor tem a música, que também esteve nas horas de alegria e êxtase como essas aqui citadas; a música, inabalável, inspiradora, cortante, libertadora, incômoda. A música que não abandona enquanto os dias ameaçam engolir em definitivo qualquer idéia.
E daí penso que, se fosse tomar outra cerveja hoje com o Renatinho, eu ia perguntar da Juli, ia pedir para conhecer o filho, ia querer saber um monte de coisas que nem sei se ele estaria disposto a contar. Mas iria contar todas essas coisas sobre o que o Folhetim Urbano me traz. Eu acho que ele iria ficar feliz, se sentir recompensado até. Não porque um amigo gostou da banda - como já disse, nos vimos apenas durante um festival (porém, tem amigos de estrada que valem mais que "amigos" que acompanham anos de vida). Mas porque o que eles suaram e sangraram para gravar cinco faixas chegou a um cara em Foz do Iguaçu, um cara que acaba de sair de um estado de letargia terminal e ameaça acordar de verdade. O mesmo cara que já chorou ouvindo "Jukebox", se surpreendeu ouvindo "Dizem", sonhou ao som de "As Cinco Horas da Jornada" e "Chance" e carregou a letra de "Cachorro Magro" quase como uma lápide em vida.
A música, para mim, é importante demais.

Larga essa vida, rapaz!

O tempo vai carcomendo a paciência e eu aqui, andando por umas poucas ruas de Foz do Iguaçu com um copo de café na mão e os restos de uma pamonha no bucho, escutando uma garota da beleza e arrogância de seus dezesseis anos discorrer sobre algo que não sei bem o que era, mas soava agradável e tolerante era sua expressão, então fiquei. Às vezes, temos que só continuar, e isso faz especial sentido quando você está passando por uma quinta-feira onde seu trabalho parece valer menos que seu humor escatológico e barato que você usa para apavorar os alunos à guisa de aula.
Eu ando impaciente, cansado e com os sonhos dormindo enquanto eu estou acordado. Mas como escreveu o Márcio Américo, o que contam são os intervalos, e esse programa já se prolongou por muito tempo. Eu estou esperando.

Wednesday, November 22, 2006

Babasónicos - Putita



"Ya sé / el camino de fama / no significa nada / sino una ilusión / Cual es? Hacerte muy putita / Probar tu galletita / Con toda devoción".

A banda dos anos 00. A melhor banda que passeia por esses ouvidos em tempo presente. E o clipe mais belo e sagaz. O André comentou o quanto eles têm um humor e um sarcasmo inteligente. Confiram aqui se ele não está certíssimo.

Mais uma de Márcio Américo

Fiquei um tempão pensando em qual texto do Marcio Américo colocar aqui quando anunciei a entrevista dele no Scream&Yell, e acabei colocando um trecho da dita. Mas fuçando pelo blogue dele, encontrei o texto que segue abaixo. O filho do Márcio, já nomeado Mateus, tá prestes a nascer. E o maluco escreve isso:

A VIDA É BELA?

Não vou dizer nada pro meu filho, mas acho que uma hora ou outra ele vai acabar sacando que esta vida não é um passeio, que ela não foi projetada pra felicidade, isto é uma criação das propagandas de margarina e Molico.
Antes de nascer o sujeito está nas mãos de gens, enzimas, proteínas e outras inas que se derem uma mancada podem fode-lo pro resto da vida. Depois que vem ao mundo, leva uma porção de picadas pelas pernas, bunda e braço a fim de evitar que bactérias, fungos e vírus o levem antes da hora. Claro, entre um sofrimento e outro há o prazer de nadar no liquido amniótico e as primeiras mamadas.
Depois já crescidinho, vai aprender que seu desejo é o seu algoz. Vai ouvir NÃO o dia todo e quando transgredir o “não” vai se fuder, vai levar choque, queimar o dedo, cair da cadeira, cortar-se, ralar-se, será picado por formigas, abelhas, mordido por cachorro, arranhado por gato, queimado por taturana, é tudo que o espera caso ignore o NÃO. Mas caso ele acate todos os NÃOS, sofrerá se tornando um apático sem desejo e sem porra nenhuma.
Ele vai entrar pra escola e possivelmente terá apelidos, será excluído de alguma turma, será desprezado pela garota mais bonita da escola, irá mal em determinada matéria e ele se achará um idiota por isto, ele ainda não sabe o que é talento, o que é inclinação.
Na adolescência vai ter dificuldades de relacionamento, vai achar que eu sou o pior pai do mundo, vai tentar impor suas idéias ainda que não tenha certeza delas, vai entrar em conflito, vai desejar todas as mulheres do mundo e descobrirá que só existe uma, aquela.
Um dia ele vai se casar, descobrirá o que é a vida adulta num país capitalista: filas de banco, cartões, senhas, documentos, chaves, telefones, recados, agendas, datas... seu dia ficará cada vez mais curto.
Um dia ele ficará velho e aí todas as doenças aparecerão de uma vez, se ele conseguiu chegar até lá ileso, a vida não perdoará, ela vai destruí-lo devagar.
Gostaria que ele descobrisse desde cedo que o que vale a pena mesmo são os intervalos, aqueles momentos em que a vida não tá a fim de te destruir nem de te enlouquecer, são momentos pequenos e espero que ele saiba aproveitar: uma janela aberta, soltar pipa, jogar bolinha, ter amigos, escrever o nome da garota no caderno, fazer poemas secretos, tomar um porre, reencontrar amigos, vento, atirar pedras no lago, despedidas em rodoviárias, grandes mesas de bar repleta de amigos, uma janela aberta... a lista é longa, espero que ele tenha tempo.


Márcio Américo Alves

Monday, November 20, 2006

Algumas coisas requerem culhão

Uma aluna minha andou ausente por uns tempos. Eu já me referi indiretamente a ela aqui, quando falei sobre o dia em que li trechos do "Atire no Dramaturgo" na aula. É uma garota muito bacana, simples e roqueira, com aquele inegável pendor metal que acompanha boa parte da moçada rocker na adolescência. É também uma pessoa sensível que escreve muito bem e desenha melhor ainda. E é reservada, muito reservada.

Como eu disse, ela andou sumida. Consegui saber, através dela e de alguma de suas amigas que me transmitiam recados, que seu pai estava preso numa Casa de Detenção no Rio de Janeiro e sua avó paterna estava entrando num estado misto de depressão e histeria por causa da situação. A família do pai da menina acha que a garota é anormal por causa das músicas que ela ouve, das roupas que veste e do comportamento reservado. Talvez a preferissem se ela fosse uma patricinha biscate, já que esse parece ser o destino sonhado pelas mães para suas filhas adolescentes. A mãe da menina a tomou para si e faz o possível para evitar que ela tenha contato com o pai. Só que ela foi criada pelo pai e tem com ele aquela relação que eu, embora não goste muito da palavra, poderia definir como amor. Diria apenas, para ser mais justo, que ela gosta do pai além do que as palavras podem descrever, e que ela sente demais a falta dele, já que não o vê desde a Páscoa (a distância Rio-Foz é longa e cara, muito cara).

Há coisa de duas semanas, houve uma rebelião no presídio em questão e o pai dela foi baleado no rim, um órgão que já estava bem baleado pelo álcool que ele ingeria. Claro que a situação ficou feia. E quando a avó (mãe do cara) em questão soube disso, teve um ataque histérico seguido de uma pane cardíaca (desculpem-me pela falta de terminologia médica adequada). Coube a essa minha aluna a tarefa de cuidar da avó. E coube a ela toda a angústia da situação.

Cursos de idioma - inglês, principalmente - têm como parte intrínseca apresentações orais, que costumam variar do deleite ao tédio, dependendo do naipe dos alunos que você tem, e aqui estou falando mais do lado cultural/criativo/interessante da coisa do que do lingüístico. Costuma ser o ponto culminante do curso. E a garota me mandando e-mails e recados pedindo-me paciência e avisando que faria a apresentação dela tão logo pudesse ir pra aula. Eu sempre a esperei. Esperaria o que precisasse, mas hoje ela apareceu, e pediu para fazer a apresentação. Tivemos uma atividade e aí ela fez. E eu perdi as palavras até agora.

Ela contou, na frente de todos os outros, quase todos os lances que contei aí em cima. Alguns estão um pouco mais detalhados aí, mas ela não ocultou de ninguém. De postura firme e mãos trêmulas, ela contou tudo. Sem chorar, sem pedir pena, sem querer inspirar dó ou se martirizar. Só contou, e falou que todo mundo tem problema, e o dela não é maior que o de ninguém. É só que ela viu que não adianta ficar só chorando. Não é que chorar seja um problema, é que só chorar não resolve nada.

Foi só isso que ela disse, e sem qualquer um dos traços de pieguice que estão espalhados nesse meu texto. Falou com abertura e convicção. Não julgou nada nem ninguém. Quando terminou, o pessoal aplaudiu, começando pelo mais palha deles. E eu não tive o que dizer. Costumo falar o tempo todo quando estou em sala de aula, mas só fiquei quieto, de cabeça baixa, e disse que nada tinha a dizer. Ao final do horário, fui dar-lhe um abraço de lado e um beijo. Ela tem a maneira e a distância dela de lidar com seus sentimentos e eu não ia forçar qualquer intrusão. Mas me deu essa puta vontade de dar-lhe esse abraço.

Fui conversar com ela logo depois, e ela me surpreendeu ainda mais. Não me julgo no direito de escrever sobre o que conversamos, porque conversa reservada entre duas pessoas não é objeto para texto de blog. Perguntei quase nada e ouvi o que ela disse em concisas e contundentes frases. E não consegui dizer nada inteligente, nenhuma frase de efeito, nenhum momento genial. Só pude falar que o que ela fizera requeria culhão. E pude ainda chegar perto dela, dar um outro abraço e falar, meio entre os dentes e totalmente sem jeito: "pago pau pra você".

Ela riu o riso mais adulto que já vi numa adolescente e sorriu, seguindo seu curso.

Saturday, November 18, 2006

Árbol - El Fantasma



Conheci essa banda através da Rolling Stone latina e quando consegui seus mp3, ela veio se instalando no meu ouvido aos poucos, até que já fazia parte da minha memória auditiva afetiva.
O primeiro disco deles, "Árbol" (1999), tem umas "kornices" dignas de um Charlie Brown Jr., mas já trazia material mais promissor, como "Luna" e "Rosita".
"Guau!", o último, é de 2004, e estourou na Argentina graças a uma pilha de hits, dos quais o maior foi esse "El Fantasma", "un tema muy sencillo", como diriam nossos hermanos. Uma discreta melodia pop, com uma letra sagaz e nada tola sobre aquele escapismo que começa na adolescência e teima em não abandonar a nós, homens, na vida adulta.
O vídeo foi inspirado naquele filme muito massa do Joe Dante, "Explorers" (me esqueci do título em português), em que quatro garotos saem voando pelo universo num misto de fantasia e realidade, confrontando seus medos nessa viagem tão real quanto imaginária.
Pode parecer exagero, mas acho que o Árbol é a única banda que conheço que traz esse espírito.

Thursday, November 16, 2006

"Como eu adoro esse mundinho pop" (Marcelo Costa)

Confira a escalação do Personal Fest, o equivalente argentino ao Tim Festival, para o dia 17 de novembro:

Escenario Personal Motorola
22.30 Black Eyed Peas
20.25 Madness
19.05 Arbol
18.10 Dante
17.30 Imperfectos

Escenario Personal Manía
21.20 The Rasmus
19.55 Carlinhos Brown
18.55 La portuaria
18.05 Estelares
17.30 No lo soporto

Escenario Arnet
21.30 Tati Quebra Barraco
20.30 Lisandro Aristimuño
19.45 Anita no duerme
19.00 Rosal
18.20 Azafata
17.45 Transmundial

Escenario Motomix

17.30 Datura
18.00 Virginia da Cunha
18.30 Apolo 11
Sigue con los dj's Monty, Kox Tortuga, Cata Spinetta, Stuart, Nico Cota + Saga Scratch, y Leeva y Tiro de gracia.

Perceba que a funkeira carioca fecha o evento.

Os modernos de lá são piores que os modernos daqui? Respostas nos comments, a quem se aventurar.

Friday, November 10, 2006

O menino de kichute

(...) nos textos do Márcio há outro tipo de Deus, algo que eu não sei explicar, mas que pelo menos não me incomoda. Eu cuido das minhas coisas e ele cuida das dele. O que me incomoda na religião é o ateísmo deles, o ateísmo cristão. O sujeito se diz atleta de Cristo, mas mente e usa violência, o outro é beato e sonega impostos, cruza sinal vermelho... Os cristãos em sua maioria são os grandes ateus porque eles sabem que o deus deles não faz porra nenhuma, não pune ninguém, eles acreditam mesmo é no diabo. Peça pra um cristão desafiar o diabo! Eles morrem de medo. Mas de Deus eles não tem medo, tão cagando e andando. Aí eles dizem que eu sou ateu. Vão se foder. Se foder, não, sifudê! Os cristãos inventaram um tipo de igreja onde não é necessário amar o próximo. Porra, não dá pra amar incondicionalmente o próximo, principalmente se entre estes próximos estiverem o Latino e a Preta Gil, então a igreja criou um rol de normas, rituais, datas santas, você cumpre tudo isto e está salvo, não precisa amar o próximo. Boa, né?”

Isso é Márcio Américo, autor de Meninos de Kichute, sendo entrevistado por mim no Scream&Yell. Só clicar aqui e conferir.

O que eu não digo no texto é que o Marcio é também um grande camarada, que me deu Londrina por presente quando eu fui lá. Sem me conhecer, tendo havido apenas o contato da entrevista (realizada há cerca de um mês), ele foi me apanhar na Rodoviária, me indicou um hotel bem massa e bem em conta, me ciceroneou entre grandes camaradas que pretendo rever (Agenor, Isaías, Vitor e mais gente do que eu posso me lembrar dos nomes, mas cuja conversa não vou esquecer). Não conto que o Marcio é um cara de um senso crítico agudíssimo, uma empatia tranqüila e contagiante, um humor sagaz e certeiro, que me atingiu em vários momentos e me custou a perceber. Às vezes eu me sentia lerdo diante do raciocínio do cara. Aí aprendi que é melhor só ouvi-lo. E se um dia puderem sentar para tomar um café com ele, sentado, só ouvindo, não percam a chance.

Sobre a Ilva

É sobre um anjo de olhos azuis fulgurantes e fortes, um anjo que apareceu em um momento singular da vida desse ateu por tentativas.
Faz anos que venho tentando abandonar qualquer gnosticismo ou resquício de fé religiosa, tentando crer em um Deus que não seja o Deus tirânico e calhorda das instituições cristãs. Continuo rejeitando esse Deus, chamando-o para a briga se Ele se aventurar a tanto. Mas Ele nem encara a contenda, e uma espécie de solidão acompanha aquele que já teve a certeza da fé. Porém, é a certeza a maior geradora de monstros, e tenho a pretensão de dizer que melhorei como pessoa desde que essas “seguranças” se foram.
A imagem do tal Deus Pai fazia mais sentido que a do tal Deus Filho, que a mim sempre me pareceu distante, divinizado demais para quem se propôs ser homem. Um sujeito que dizia que podíamos todos ser gente boa como Ele mas sem ficar com muitas frescuras, até que um camarada chamado Paulo começou a reinventar o que Ele disse, inventando repressões que não constavam em suas idéias e aí começou esse cristianismo “bonito” que se tem hoje. O Jesus que me parecia (e ainda parece) crível até hoje é um cara que andava entre putas e ladrões, usurários e enlouquecidos, santos e pecadores. Desprezava beatos e pagadores de pau, aduladores de um falso Deus. E não pedia para que pagassem pau para Ele o tempo todo, preferia que em vez disso vivêssemos nossa vida sem nos preocupar com templos e convenções. Esse Deus foi expulso das igrejas há muito tempo, e duvido que qualquer uma dessas que usam seu nome em itens de merchandising venha deixá-lo entrar novamente.
Mas há alguém que aparece de forma muito sutil e suave na minha vida, alguém se certezas, mas cheia de fé. Uma espécie de anjo da consolação para o herege que já mandou Deus tomar naquele lugar. Quando freqüentava a igreja, acreditava em anjos como aqueles que estão por aí, que conhecem um amor divino que não é opressão disfarçada de caridade burguesa, e se propõem a dar uns toques desse amor descompromissado e acolhedor para nós, seres alucinados e imperfeitos. E assim ela tem sido em minha vida.
Um mês que ela ficou longe, meu coração ardia de saudades por não vê-la. Ocultava as saudades de todos, porque não sou homem de admitir ter saudades de uma mulher que apenas cruza meu caminho poucas vezes na semana, não mais que alguns minutos por dia. Não costumo ser macho a ponto de declarar a fragilidade de assumir que alguém me faz um bem enorme só de sorrir para mim. Um sorriso que quebrou uma resistência e um ceticismo que levaram anos para serem construídos.
Claro que anos de descrença não são miraculosamente colocados de lado. Ainda acredito em milagres, mas duvido de qualquer conversão momentânea, principalmente da minha. E ela não vem me “converter”, não vem “trazer mensagens de paz” ou mesmo impor qualquer forma de fé forjada. Ela só sorri. E me ouve. E é sincera quando fala. E acolhe putas, loucos e ladrões em sua casa, literalmente. Ela os acolhe também em sua vida. Acolhe loucos blasfemos como eu, que usam da prepotência para esconder o próprio vazio, que forjam a couraça da dureza para não admitir que a solidão de algumas noites escuras dói e que na verdade adoraria acreditar em certas coisas.Continuo não acreditando em nada disso, ou tentando muito não acreditar. Aquela história de “você tira uma pessoa de dentro da igreja, mas não a igreja de dentro dela”, sabe? Mas acredito no sorriso e na amizade dela, em sua sinceridade e em sua paz, que não é essa paz de vidro dos ratos de missa, mas aquela paz que aparece em duas ou três linhas de um bilhete que ela me deixa; a paz que fez um camarada peitar romanos, religiosos e idólatras; a paz que vale a pena de fato e faz esse mundo ser um lugar bem mais agradável.

Thursday, November 09, 2006

Rolling Stone

Na sua coluna Revoluttion, o jornalista Marcelo Costa, também editor do Scream&Yell, fez uma análise interessante sobre o, por assim dizer, mercado de revistas de música aqui no Brasil. É só clicar aqui e ler. E por isso escrevi algo para ele, que uso como primeiro parágrafo do texto que vem a seguir:


Mac querido,
vou exercer o direito de comentar aqui. Como leitor assíduo da RS Latina (ainda que baseada na Argentina, ela abrange Chile, Paraguai, Uruguai, Colômbia, Peru, Venezuela e Bolívia, já que o mercado argentino abastece esses países) e posso dizer que o que me incomoda nela é o tom excessivamente reverente das reportagens. Qualquer banda com mais de três discos é "clássica" e nenhum artista ganha paredão, ou sequer uma resenha negativa lá. Não que descer a lenha seja a única função do jornalismo cultural, mas acariciar o ego dos artistas também não o é. Além disso, há uma uniformidade textual que me incomoda: você só sabe se um texto é do Oscar Jalil, do Claudio Kleiman ou do Pablo Hernandez se olhar os créditos da matéria. Ninguém tem um texto distingüível, e isso é fundamental em qualquer jornalismo opinativo, como é o caso da música. Isso facilita a identificação do ouvinte. Esse tipo de coisa pode vir a se anunciar na RS Brasil. Veremos...

Desde quando comecei a ter acesso a revistas de música estrangeiras (européias, principalmente), pude ver que a Bizz dos anos 00 se baseava em diversas delas tanto em termos gráficos quanto textuais. Tudo bem que a chance de fazer algo 100% inédito era desconsiderável, já que o assunto (música e o mundo pop) acaba fazendo com que algumas coisas venham a se assemelhar, assim como acontece em publicações sobre carros, esportes, etc. O problema é que a isso somou-se um misto de iconoclastia gratuita com mitificação premonitória. Como a "Bizz antiga" (e aqui cabem as aspas, porque também essa revista do fim dos 80 e começo dos 90 é muito mistificada por quem muitas vezes sequer a leu) tivesse revelado vários artistas que depois viriam a assumir proporções gigantescas, tanto do ponto de vista comercial como artístico, os jornalistas da "nova geração" começaram a pegar qualquer Bidê ou Balde e chamar de "grande promessa", "pop perfeito" e outras heresias. Criou-se um mito de "rock gaúcho" que nem o pessoal do Rio Grande do Sul leva a sério. Textos irritantes, que prestavam um desserviço ao ouvinte de boa música pop, foram escritos. E a revista faliu, para ser reerguida como um almanaque de curiosidades dos "clássicos" e novidades para a classe média alta que baixa música de suas conexões bandas largas ou pode pagar mais de R$ 10,00 por uma revista que é lida em menos de duas horas.

A RS vem como uma alternativa? Não sei, ainda não a li, e não o farei com o primeiro número. Na estréia, o pessoal ainda está arrumando a casa. Além do mais, não houve nenhuma pauta que realmente me interessasse. Não vou comprar uma revista só por causa de uma matéria boazinha com os Killers, eles não estão tão altos assim no meu Olimpo. Assim como não vou gastar meu suado dinheirinho só para ter algo que comentar em listas de discussões e blogs com gente que não me conhece e não é disposta a dialogar. Prefiro trocar essas impressões com os amigos aqui.

Mas ainda amo, respiro e como música. E gosto quase tanto de ler sobre ela. Se uma publicação legal está vindo para cá, que bons ventos a impulsionem. A RS Latina vem perdendo qualidade a cada edição, e eu já deixei passar alguns números. Acho que esse mês vou arriscar uma chance. Quem sabe no mês que vem é a brasileira que vai parar na minha cozinha? (meu apartamento não tem sala...)

Monday, November 06, 2006

A cara da criança


Clica aí que a imagem amplia, acho. Ainda não tô habituado ao funcionamento do blogger.

Saturday, November 04, 2006

Babasónicos - Viva Satana!



Exagerados, mundanos, amorais... é por isso que são minha banda preferida hoje em dia. Essa é do Dopádromo, disco de 96 em que incorporaram o DJ Peggyn como membro fixo (sairia em 1999 ou 2000, não tenho certeza) e botaram Diego Rodriguez para suar nos bongôs, tocados em ritmo primitivo e selvagem (deixa de ser clichê quando você escuta, acredite).

Esse clip é uma homenagem aos filmes de Russ Meyer, o diretor de Faster Pussycat! Kill! Kill!, que todos comentam e quase ninguém viu. Nem eu.

La Carne de Boi

O Boi escreve. Em seu blogue, ele despeja reflexões, opiniões, pareceres, ironias, alegrias, preferências e mau humor, em proporções sazonalmente desiguais, mas na maioria das vezes muito interessantes. E ele escreve muito.
E agora ele está terminando seu livro sobre o La Carne. Sim, como projeto de conclusão de seu curso de jornalismo, ele escolheu redigir um livro-reportagem sobre os quatro demônios tristes de Osasco. Não dá para culpá-lo. Quem vê um show do La Carne sabe que é necessário escrever sobre a banda. Cada show é diferente. Cada show te faz diferente. Redenção em forma de uma arte que é superior ao rock’n’roll, mas que se parece muito com este. Violência e paixão desovadas aos borbotões. Catarse e êxtase coletivo. Precisa se escrever sobre eles porque, após o esgotamento dos clichês, talvez se encontre a substância do que faz o La Carne ser tão (perdoem-me pelo uso da palavra) especial. Descobrir porque um show deles não é uma busca ao Santo Graal, mas sim o encontro com a redenção (novamente ela) em um paraíso selvagem como os habitados pelos lobos de Jack London. Enquanto não se chega lá, se escreve.
E o Boi escreveu, É compreensível. Ele sofre até hoje o impacto de ter visto o La Carne ao vivo, com Sidnei de braço quebrado tocando “Do It Clean”, do Echo, como uma espécie de Rick Allen roqueiro, assim como eu gozo com a glória primitiva de tê-los visto tocando “É Baderna!” enquanto o telão do bar exibia a cena de estupro do Laranja Mecânica. Foi o Bom quem sempre insistiu comigo para que eu visse um show do La Carne. Foi ele quem me emprestou o primeiro disco dos caras. Foi ele quem me propôs de juntar o pessoal (Meteoro, Gabi, Lucas, ele e eu) para ir a São Paulo aquela noite, ver os caras precedidos de OAEOZ, Íris e uma bandinha bisonha cujo nome não vale ser mencionado. Noite inesquecível. Como foram várias outras onde o La Carne estava no palco e nós, na platéia.
Claro que, com essa carga toda e sendo o Boi como é, o livro acaba caindo num certo exagero e numa grande mitificação. Seria muito difícil não fazê-lo, já que, embora com uma trajetória mais que respeitável e digna, o La Carne não tem nenhum ponto culminante ou de reviravoltas pesadas. Nenhum “turning point”, nenhum momento de ascensão e queda. A história de Carlos, Jorge, Linari e Sidnei como banda não é muito diferente da história de centenas de bandas independentes pelo mundo afora. A diferença é que a música deles é melhor que a de qualquer outro, a um ponto além da racionalidade. Então, no texto do Boi, cabe ao exagero e à multiplicação de adjetivos a função de contar a história lacarniana.
Enquanto o “produto” final não fica pronto, o Boi disponibiliza o livro on-line para quem quiser ler. É só clicar aqui e dar sua opinião, ruidosa ou silenciosamente. Há exageros e tudo mais, como já foi dito. Mas o Boi é exagerado. Não fosse assim, ele não seria o camarada que é. E o La Carne é além das palavras, mas mesmo assim a gente tenta escrever sobre ele. Seus shows sempre nos deixam uma lembrança estranha.

Friday, November 03, 2006

Sobre não comer carne de vaca

Desde que aderi, com alguma relutância, à ordem dos monogâmicos, vivo no iminente risco de me enredar na pasmaceira na mediocridade que essa escolha atrai. E às vezes me pego pensando se tomei a decisão certa. É incrível como alguns quadrúpedes (chamar de “vaca” seria um desrespeito ao inocente animal) fazem questão de demonstrar que sim, com uma veemência assustadora.
Não que eu precise saber que as outras são tranqueiras para poder ficar feliz com a minha. Sou raso, mas não a esse ponto. É que algumas pessoas me dão motivo de sobra para crer que, se não tivesse namorada, viveria uma vida monástica e celibatária. Senão vejamos:
- garotinhas de cabelo escovado, blusinhas rosa de alcinha, sapatos de salto alto e rosto maquiado, que saem para “baladinha” em lugares onde rola a insuportável gosma amorfa e desarmônica conhecida como “dance music” (e onde às vezes tocam bandas que fazem cover de Jota Quest e Armandinho... sim, meus amigos taubateanos, existe Mutley em todas as partes desse mundo). Essas têm uma conversa tão autêntica e profunda quanto sua “beleza”, que por sua vez é forjada à custa de produção e ditames de moda. A conversa segue esse mesmo naipe. Algumas delas já são até meio velhinhas, mas continuam se portando como garotinhas.
- garotinhas sem um mínimo milímetro de pança, obcecadas com cultura física, dietas e quejandos. Às vezes, tal corpo vem de uma benesse genética, o que torna a coisa toda bem pior, já que as moçoilas daí espezinham as “amigas” que não conseguem ter a cinturinha fina o suficiente para ser deformada em calças de cintura baixa.
- piranhas (já disse, me recuso a usar “vacas”) que são um misto dos dois tipos acima, com uma ou outra característica diferenciando-as. Do tipo que gosta do que elas chamam de “vida loca” (sem u mesmo). Essas são as piores. Costumam arrotar com orgulho sua resistência ao álcool, sua falta de opinião (expressa em palavras de ordem tipo “não gosto” e “não suporto”), sua suposta libertinagem (não dão metade do que dizem dar, e vivem caindo apaixonadas pelo primeiro otário que lhes dá o merecido tratamento canino), alardeiam sua “amizade” com suas semelhantes, a qual sempre é quebrada por ciúme ou inveja em ruidosas brigas, e vivem metendo seus bicos coberto de batom caro na vida alheia – sem terem sido convidadas a tanto, logicamente. Essas não agüentariam uma noite dentro de uma vida verdadeiramente louca, desregrada e despudorada. Agüentariam menos tempo ainda em um ambiente onde predomine lealdade e sinceridade.
Os tipinhos continuariam, mas esses três descritos acima servem como grandes baldes para jogar a massa disforme que o mulherio vem se tornando. Não que os homens estejam muito melhores. É que eles não me interessam. Meus amigos me interessam. Minha namorada também. Não preciso compará-la para ficar feliz com ela. Mas como disse, acho que a chance de uma vida monástica seria grande se eu estivesse solteiro.