Um blog em todos os sentidos, com umas coisas escritas por Leonardo Vinhas. Tudo que representa o presente e reflete o passado, sem vaticínios futuros.

Friday, September 28, 2007

VMB 2007

Eu nunca assisti um VMB pela simples razão que não tenho paciência para cerimônias de premiações, televisivas ou não. Nem colação de grau de irmã eu agüento muito bem, que dizer de prêmios para bandas que não ouço? Mas nunca perdi um dos geniais textos do André ZP sobre o tema: ranhetice a prova de chatice. Vai lá e dá uma lida.

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Monday, September 24, 2007

Babel

O diretore Alejandro Iñarritu se empolgou com grana demais na mão ou 21 Gramas foi apenas um golpe de um gênio que só se manifesta uma vez? Não sei, mas o fato é que, qualquer que fosse a intenção dele com Babel, ela não foi atingida.

Quando até a Isabela Boscov, da Veja, disse que o filme se perdia numa duração excessiva e que todos os atores, fora a chinesinha medonha, estavam péssimos, eu já fiquei com um pé atrás. Quem conhece os textos da moça em questão sabe do que estou falando. Aí, amigos começaram a dizer que o filme... bom, não era tudo isso. Nem aquilo. Não era nada, na real.

Não sei se minha mente é que é deturpada demais, mas me pareceu um filme preconceituoso, maniqueísta e depravado (criança se masturbando, adolescente surda-muda pelada, crianças assassinando adultos, necro-coprofilia sugerida - naquela cena em que Brad Pitt beija a mulher moribunda enquanto ela está mijando numa panela. Enfim, uma senhora perda de tempo, no qual todos gritam e ninguém se entende.

Só tenho dó do público feminino que foi ao cinema para ver Pitt e Gael García Bernal (atuação apagada num papel francamente acessório) no mesmo filme. Deve ter sido uma puta decepção.

Eu fico com o Barão de Itararé: "de onde menos se espera, daí é que não sai nada mesmo".

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Essas linhas são contrabandeadas de um e-mail que acabo de escrever para um amigo:

"Ando bem tranqûilo, com a namorada, com uma cadelinha chamada Lilica e uns bons filmes no player. Encontrei uma serenidade e uma alegria em simplesmente estar vivo que não sabia nem o que era antes. Vai durar? Claro que não vai durar pra sempre. Mas tá durando agora, e isso só aumenta a beleza do momento, e a alegria que eu sinto."

Nunca gostei de alardear felicidade por aí. Sempre pareceu meio ufanista, algo zombeteiro, sem senso crítico, feito mais para se convencer de algo do que para convencer alguém. Aliás, não acho que mudei muito de opinião quanto a isso.

Mas tem uma hora na vida que você precisa celebrar. Você precisa saber que seus amigos estão por aí, que as coisas vão passar e que, se é assim, que elas passem ao lado de quem realmente importa. De quem não vai te julgar, vai te acolher e vai te entender. De quem vai saber te deixar sozinho numa hora e pousar a mão no ombro na outra. Isso é algo que minha namorada tem.

Lidi, eu realmente nunca escrevi nada sobre você aqui porque nunca gostei de falar sobre o que vivo intimamente em público. Poucas vezes citei seu nome. Mas você sabe que seu conforto e sua paz guiaram praticamente cada linha escrita aqui.

Claro que houve momentos difíceis, momentos nos quais a dor parecia ser mais constante que qualquer sentimento. Claro que eu pisei na bola, e que você também escorregou. E também é claro, para nós dois, que foram essas coisas e muitas outras que nos trouxeram até aqui, que nos deram o domingo que tivemos juntos, que me deram cada lágrima que escorreu dentro da minha lama esses dias.

Claro que eu sei que um texto não garante nada, mas esse é o meu jeito de comemorar o momento presente. Claro que parece um jeito incomum e diferente de "celebrar", se não há vinhos, danças e festejos. Mas eu não sou Dionísio. Eu sou apenas seu namorado, que anda do seu lado quando você me estende a mão. E ela continua estendida. Isso é o que importa.

Acho que esse é o meu jeito de dizer que você me faz feliz. Amém.

Friday, September 21, 2007

Pequena observação sobre o amor

Voltei do trabalho escutando Cascadura. Nos versos de “Gigante”, Fabio canta que “não se pode ter tudo o que se quer / Grana fácil, o amor de uma mulher”. Pois é, o tal do “ter alguém”. Ter alguém é fácil. “Alguém” está sempre disponível. Você encontra “alguém” em qualquer lugar ponde você passe. Difícil, para muita gente, é saber o que fazer com esse alguém. Deixemos as piadinhas obviamente sexualizadas de lado e continuemos no tema da canção. Sabe como é, “o amor de uma mulher” (ou de um homem).
O que é o amor? Uma figura de linguagem? Uma falha de tradução? Uma palavra com duas vogais, duas consoantes e dois idiotas, como já se disse por aí? Nada mais supervalorizado, idealizado e endeusado que o amor. Não à toa, as religiões se baseiam em amar, e garantem que Deus ama além de nossa compreensão, e por isso mesmo não entenderemos e devemos nos sentir gratos por isso, vivendo em função dele.
Essa é a parte que não entendo e que me foi atingida pela canção. Toda a literatura que envolve o amor diz que ele é gratuito, não é? Portanto, ele vem de graça e – se há reciprocidade – volta de graça. Ele implica em viver e deixar viver, em se entregar e saber abandonar. É uma arte difícil, rara, e por isso mesmo sempre me soa estranho quando o “você não sabe o quanto amo alguém” vem sempre acompanhado de uma lista de tudo pelo que a pessoa passou “em nome do amor”. Oh, como é belo sofrer em nome do amor! Como nos faz grandiosos! E como usamos isso querendo ser reconhecidos pelo amor dispensado...
Também me soa estranho quando uma frase de três palavrinhas e um erro prévio de concordância, a famosa “eu te amo”, vem subliminarmente acompanhada de um contrato de exclusividade, de uma sentença do tipo “agora ficou sério” ou “vai ter coragem de terminar com quem te ama?” O tal do amor, não se contentando em ser moeda de reconhecimento, agora vira bilhete de chantagem.
Às vezes vira peça de barganha também: “troquei tudo pelo seu amor”,
É engraçado que, quando nos referimos a trabalho, arte ou outra coisa qualquer, dizemos que “adoramos” a coisa. É um verbo com significado muito mais pesado e intenso, cuja força tratamos de diminuir pela repetição e aí diminuímos o comprometimento. Quer dizer, você adora o seu trabalho, mas troca por outro que lhe ofereça melhor proposta sem muita dor de cabeça. Você adora Beatles, porém Paul e Ringo não vão pensar em se matar se você começar a preferir os Rolling Stones. Por mais que você ame futebol, o Ronaldinho Gaúcho não vai fazer chantagem emocional contigo nem jogar sacrifícios que ele fez em campo na sua cara, mesmo que você desligue o televisor na hora dos jogos e não freqüente mais estádios. Enfim, tiramos o amor dessas coisas e deixamo-lo exclusivo para as pessoas. E elas têm que assumir a mesma exclusividade e compromisso para conosco, senão, de que vale o amor?
Não estou escrevendo isso como desculpa para o tal do “relacionamento aberto”, até porque seria muito tolo se eu negasse que as pessoas (todas as pessoas) geram alguma espécie de expectativa em relação àqueles com quem se relacionam, seja em nível pessoal, profissional, festivo, etc. Até para a putaria você forma expectativas: você espera que a f*** seja boa, senão, por que estaria ali na gandaia com alguém que acabou de encontrar? E expectativas, sabemos todos, podem ser superadas ou frustradas. Esse não é o ponto.
O “ponto” é justamente o amor como meio de chantagem, o amor como moeda que garante a posse, o amor que tiraniza e lhe prende a uma realidade que você, muitas vezes, não escolheu. O amor que está ali, alimentando a paixão do ciúme e a volúpia da exclusividade assumida – não à toa, usa-se mais o termo “conquista” que “sedução”.
Eu aceito ser seduzido. É terrivelmente lisonjeador, sexy e apalermante ser seduzido. Dá um misto de entusiasmo e impotência. Mas odiaria ser “conquistado”. Odiaria que me julgassem pela minha dedicação ao meu “amor”, que se apiedassem de mim por um amor não-correspondido, que vissem as manifestações desse tipo de amor como uma virtude. Não é. É um vício, um laivo de crueldade, um jorro de tirania e jogo de culpas.
Nesse aspecto eu, definitivamente, não amo ninguém. Nem a mim mesmo. Mas se você quiser conversar sobre solidariedade, respeito e confiança, ou outras coisas que realmente isentam de egoísmo o coração, é só chegar e puxar a cadeira.
E quanto à música do Cascadura... olha, eu acho que “grana fácil” também não existe. Mas conheço o aconchego e carinho sinceros de uma mulher que se preocupa comigo, e dá para ter isso e uns trocados no bolso ao mesmo tempo. Se isso é amor, não sei. Mas é algo do qual gosto muito.

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Black Barn Music

O Black Barn Music já se chamou Palace Hotel, mas sempre foi um trabalho individual, intimista, introspectivo e todos os outros adjetivos que possam significar “altamente pessoal” para o André Pagnossim, cineasta, editor de imagens e amigo de longa data.
O André é brother, mesmo, e é um cara de quem tenho plena liberdade de falar mal, caso um dia ele escreva algo que não preste. Mas até hoje ele não fez isso. Fosse no extinto McQuade (banda que misturava Mudhoney, microfonia e cow punk com folguedos juninos paulistas e romantismo wanderwildneriano), nos seus peculiares filmes ou no
blogue que ele mantém, o cara mantém a qualidade.
No BBM, a coisa era assim: André pirando em Daniel Johnston, Willie Nelson e Johnny Cash – acho que ele é a única pessoa que conheço que ouvia Cash antes da série American. Tudo muito lo-fi, ele, o violão, um tecladinho e letras fossentas. Tudo muito bom – como atestava o single “A Xmas Dream” / “January the 1st”, o único lançamento em disco do projeto – mas claramente derivativo.
Aí André se impôs um prazo para terminar suas composições e põe, à disposição de quem quiser baixar de graça, Carnival Nights, composto, gravado e produzido no quarto de seu apartamento em São Paulo. Pirado em Sparklehorse e Flaming Lips, o André brincou com voz e efeitos, mas mantendo o espírito folk/country da empreitada, e aí residindo o melhor de tudo: André tem como referência tanto Willie Nelson como Renato Teixeira. Ele certamente vê tons bucólicos em Uncle Tupelo, mas os sente muito mais fortes em Pena Branca & Xavantinho. Ele nunca negou ser um cara criado em José Bonifácio (interiorzão rural de SP, oeste do Estado), e portanto nunca padeceu do mal de querer pagar de gringo. Canta em inglês, mas a solidão dos seus versos faz sentido em qualquer um que cresceu sem entender e sem fazer parte desse mundo de relações corporativas, mas também não fugiu da raia e foi se afundar em sonhos vazios e arrogância isolada. Na suas demos, isso já era sentido na belíssima “It´s Alright Now” e wilconiana “The Things I Have Found”: melancolia, mas com esperança. Herança da sua criação cristã, ingenuidade ou determinação de espírito – eu não sei o que lega isso. Mas toca.
Em Carnival Nights, esse tom está mais presente, com cortes de filmes, aulas e transmissões radiofônicas inseridos nas melodias que vão do agreste ao psicodélico sem muita dor ou demora. As faixas podem se suceder por uma tarde inteira sem que você se incomode com elas ou queira trocá-las por outras canções. E assim detalhes vão se revelando, ainda que “Bugs” se sobressaia numa primeira audição, graças ao seu timbre de teclado (entre Serge Gainsbourg e órgão de igreja) e a melodia violeira, entrecortada por silbidos, silvos e outras intervenções. E talvez seja esse o máximo de destaque individual que possa se dar a uma das faixas, pois o trabalho é todo conciso, parece ter sido concebido para funcionar como um todo, para ser ouvido do começo ao fim, embora não tenha nada de “conceitual”.
É um disco bonito como poucos, a poucas passadas de distância do Lo-Fi Dream, outro trabalho “doméstico” surpreendente lançado nesse atípico 2007. Nessa comparação, dá para dizer que Pagnossim não é Gian Ruffato, mas quem quer fazer essas comparações tolas? Na verdade, só trouxe isso à tona porque ambos são trabalhos caseiros, feitos por caras que não sabem “se vender”, não freqüentam as “rodas” certas e não estão nem aí com isso. Preferem fazer o que sabem e gostam, e o fazem com dedicação apaixonada e discreta. E disponibilizam de graça para nós.
É sábado, está chovendo e estou sozinho em casa. É a terceira vez que esse disco soa nos falantes pequenos do computador. Não é por nada, mas acho que não quero sair nem receber visita... Tá bom aqui.

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Tuesday, September 18, 2007

Top 3

Estávamos em uma festa na qual rolavam grandes vinis oitentistas (Smiths, Echo, PIL, Villeta de Outono, Talking Heads, etc) e todo mundo já estava ou meio alto, ou naquele estágio onde as “opiniões” saem com mais facilidade e menos censura prévia. A “fauna” era basicamente composta de professores, jornalistas e gente do teatro – ou no caso de alguns, como eu, gente que combina as três atividades. Ou seja, um povo que sempre achava que sabe mais que os outros. E todo mundo gostando muito de música.
Nesse estágio, o óbvio não tardou a acontecer e foi divertido. Começamos a elencar os piores discos e artistas nacionais que surgiram dos 90 pra cá. NX Zero, CPM e afins foram citados en passant, pois não tem graça chutar cachorro morto. Gente como Preta Gil e Latino nem entrou no ranking pela sua condição de hors-concours. Mas veio uma lista, e ficou mais ou menos assim:

PATO FU

“Puta banda paia, hein?”, disse um colega, baterista de uma banda igualmente “palha”, mas gente fina. Pato Fu é irritante demais, cara. Aceito quem venha defender que quando eles eram uma banda, eram até divertidos – eu sou um dos que costuma manifestar essa opinião. Mas depois que eles viraram o veículo da Fernanda – com aquela insuportável vozinha de menina-educada-e-gentil-que-todo-o-pessoal-do-escritório-gosta, aí não deu mais. Do Televisão de Cachorro pra frente, só se salva... se salva alguma coisa? Ah, tá, o riff de "Licitação", chupado do Nirvana, que já tinha decalcado de seqüências de acordes parecidos, feitos pelo MC5. Só isso. Ou você acha aquelas imitaçõezinhas de Super Furry Animals realmente boas? Ah, você não conhece o SFA? Não perdeu muito – mas saiba que eles são a maior “referência” Fu. Para não mencionar as tentativas risíveis de “se deixar influenciar” por Radiohead e bandas “sérias”.
Seus shows – seqüenciados, programados e “playbackados” – foram incessantemente lembrados, graças à sua assepsia. Seu ostracismo também – se eles tocam no decadente Farol da República, em Foz, é sinal de que tá valendo qualquer lugar. E claro que não deixamos de lado – ainda que comentando brevemente – sua ineficácia em aproveitar os benefícios do jabá que a gravadora pagou. Mas uma coisa eles sabem: fazer média com jornalistas. Duas vezes fui impedido de fazer menções jocosas a elas, em veículos diferentes, porque “a Fernandinha ia ficar triste” (um editor chegou a usar exatamente essas palavras). Ah, é, a dona Takai é formada em Relações Públicas... Tá explicado.

CHARLIE BROWN JR.

Café-com-leite. A única graça de falar mal do Charlie Brown é pensar que um dia o chorão pode querer vir dar um murro na sua cara – e se você não se chamar Marcelo Camelo, acredito que você conseguirá se esquivar ou mesmo revidar.
Vamos usar palavras alheias para resumir a coisa. À época do filme Cazuza, o jornalista Terence Machado escreveu mais ou menos assim: “Cazuza não é um grande filme, mas em tempos em que o maior sucesso do rock nacional diz ‘eu não sei fazer poesia / mas que se foda’, é bom ter quem nos lembre de um compositor como Cazuza. Pois é fácil mandar tudo à merda por não saber escrever poesia. Difícil é mandar tudo à merda escrevendo poesia, e isso Cazuza fez sua vida inteira”.
I rest my case.

MARCELO NOVA

Tá, esse admito que é uma implicância minha. Um dos presentes até o admira. Os outros simplesmente ignoram sua existência. Mas quem reclama de Velhas Virgens deveria se lembrar de “Silvia”. Mas podemos argumentar que é só uma piada machista, e piadas machistas podem ser divertidas. O duro mesmo é agüentar esse cara se arrogando a condição de “roqueiro” (coisa mais ridícula, um tiozão se preocupando com rótulos!), descendo a lenha em bandas cover, quando o Camisa de Vênus não passava de uma banda que recriava (sem dar o devido crédito), com letras sofríveis, refrões e até músicas inteiras de artistas consagrados. Rolling Stones, The Jam, Clash, Buzzcocks... a lista poderia continuar, mas pra que? Digam o que disserem, a única coisa minimamente interessante que esse cara fez foi sua filha Penélope.
E nem vamos mencionar o fato de ele ter se aproveitado de um moribundo Raul Seixas para se promover. Aí entramos no ramo da baixaria mesmo.
“Marcelo Nova? Ah, aquele cara que morreu amarrado no saco do Raul Seixas?”
(Samuel Rosa, na revista Showbizz)

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Friday, September 14, 2007

Variações sobre o mesmo frango

Depois que metade das pessoas começaram a se preocupar em comer “comida saudável” (preocupação que não repercutiu em ação pela maioria, diga-se), o frango grelhado virou uma espécie de clássico, um substituto para o bife na equação “arroz, feijão e salada”.
Paranóias alimentares à parte, eu gosto de um frango grelhado bem feito. E recentemente descobri variantes. Uma delas é assim: numa frigideira de teflon, jogue o filé bem cortado e bem limpo com um mínimo de óleo, temperado com cominho, curry e orégano a gosto. Pode usar o clássico “tempero completo” também, se preferir algo mais básico. Dê uma dourada leve, o suficiente para ele adquirir uma cor simpática mas sem ficar duro ou ressecado (o ideal é que não seja um filé muito fino, um corte mais grossinho vai bem). Tire do fogo e coloque-o numa assadeira (de vidro, preferencialmente), polvilhando-o com cebola picada (bastante), orégano (pouco) e queijo ralado (a gosto). Deixe no forno por dez minutos – ou oito, se as chamas do seu aparelho forem mais violentas. Pronto. Tá feito.
Na falta de uma assadeira, ou mesmo de paciência, dá para fazer essa idéia no George Foreman Grill ou similar, lembrando que aí não vai óleo mas em “compensação”, a carne fica meio ressequida. Nesse caso, não precisa nem grelhar antes. A cebola, o queijo e o orégano vão depois que você virar os filés.
A outra variante é fazê-lo à indiana, semi-refogado num molho de azeite, curry e alcaparras. Mas esse é um segredo meu.

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Améééém!

Para quem não viu ainda: a guria em questão tem nove anos (oito na época do vídeo) e é PASTORA OFICIAL da Assembléia de Deus.

O cara que fez a legenda do vídeo merece o título de Doutor "causa honoris" de linguística. Gênio!

Funk do "Ai que susto!"

Uma retransmissora do SBT tem um programa vespertino que conseguiu ensinar a fazer sexo anal sem muita dor às duas horas da tarde de um dia útil. Até aí, não deveríamos nos surpreender - afinal, é o SBT, pô!

Porém, deve ser ressaltado esse exemplo singular do do-it-yourself que é esse funk criado via youtube. Melhor que o "funk do Jeremias"!

Tuesday, September 11, 2007

Acústicos e Valvulados

Julho passado, entrevisto os Acústicos & Valvulados durante sua mais recente turnê. Faço um texto para o Crase, outro para o Gordurama, e os dois sites entram em recesso. Acontece. Os dois voltarão, em breve. Mas enquanto não voltam, os textos ganham vida nesse blogue. Primeiro, o do Cràse: uma entrevista simpática, didática e bem-feitinha. Depois, a resenha do show, para o Gordurama. Didática, a resenha até é, mas simpática... Bem, você conhece o Gordurama, né? Não? Pô, então tá fazendo o que nesse blogue?

Aos textos:

ENTREVISTA: Acústicos & Valvulados


Os Acústicos e Valvulados são a banda que eu mais vezes entrevistei, e o que conta nesse fato é que eles sempre têm algo a dizer. Mais uma vez, como fazem desde seu primeiro disco, estão caindo na estrada para divulgar o mais recente, Acústico, Ao Vivo e a Cores, naquele já tradicional combo “CD e DVD” (vendidos separadamente). Não, esse não tem o selo da MTV (como aquele nojento “Acústico Bandas Gaúchas”, pau-de-sebo* versão crise comercial dos anos 00). Tem outro selinho, o da Atlântida FM.
E aqui já cabem duas considerações: se você lê o Cràse, provavelmente é paulista e deve achar que todos aqueles hypes que fazem de bandas do sul não correspondem à realidade. Fato: bandas indies (aquelas sobre as quais você sempre encontra uma materinha) suam para tocar para mais de vinte pessoas, maaas há uma parcela de bandas, muitas com apoio de gravadoras grandes, que são REALMENTE populares do Paraná pra baixo. Dessas, em termos de popularidade, há um “primeiro escalão” (Nenhum de Nós, Papas da Língua, até a Cachorro Grande, de certa forma) e um “segundo” (Tequila Baby, Acústicos & Valvulados, Comunidade Ninjitsu, Ultramen, Chimarruts), bandas que tocam no rádio, têm suas músicas conhecidas por mamães e filhinhas bem dispostas a “groupiar” por aí, revistas de cifras trazem transcrições de suas canções, etc. E principalmente, fazem muitos shows (em lugares “pop” e espaçosos, não em inferninhos semi-vazios), sempre cheios. De modo que o “cair na estrada” não é mero clichê no caso dessas bandas, Acústicos & Valvulados incluídos. E foi antes de um desses shows, em Foz do Iguaçu (PR), que eu sentei para tomar um vinho e charlar com o baterista e compositor principal da banda, Paulo James.
Isso nos leva à segunda consideração: pode não ter sido a Atlântida (popularíssima no RS, tanto que organiza anualmente um disputadíssimo festival), mas foi pelo canal das rádios que eles percorreram a estrada que liga o Paraná à terra de Bento Gonçalves – graças à sua presença massiva no dial da Itaipu FM, estação que abrange do extremo oeste do Paraná até seus países vizinhos (Paraguai e Argentina). Desde que eu cheguei a essa cidade há dois anos, ouço Acústicos & Valvulados sendo executados diariamente nas rádios, canções novas e velhas. Pode não ser essa necessariamente uma medida de qualidade (e concordo que não seja), mas certamente dá a medida da popularidade.
Isso posto, eu pergunto a Mr. James qual é a cara do público de sua banda. “Cara, isso é um lance muito curioso. Porque o Acústicos e Valvulados (A&V) não é uma ‘banda de camiseta’. Tequila Baby é uma banda de camiseta! Nós vamos tocar num festival como o [Planeta] Atlântida, e vemos camisetas do Tequila Baby, Fresno... não tem ninguém com camiseta do A&V, mas todo mundo sabe cantar as músicas”.
- É – corto a frase no meio – Da primeira vez que vi show de vocês aqui (em 2006), perguntei pro pessoal do meu trabalho “quem vai?”, e eles responderam “que músicas eles tocam?” (N. frase clássica de quem tem a música como mero acessório). Foi só eu começar a rolar a primeira faixa para todo mundo começar a cantarolar!
“Pois é, é bem esse tipo de coisa. Claro que tem o piá ou a guria que sabe todas as músicas, conhece os discos todos, é fã e tal, mas quer ver uma coisa? Esses dias eu digitei ‘Acústicos & Valvulados’ no eMule para ver o que ia aparecer. Pó, tinha um monte, véio! Mas aí eu olho e vejo uma canção chamada ‘Olha Só’. Pensei comigo: ‘será que alguém tem um som nosso que nem a gente conhece?’ (risos) Ou então tem essa coisa de colocar outro nome na música, né? Aí eu baixei o som para ver qual era e... começou uma música do Papas da Língua! (mais risos) É uma música que tem a caixa da bateria ‘virada’, uma batida que é 100% característica nossa, uma pá de músicas nossas tem essa batidinha... E tava lá, como nossa!” (mais umas risadas).
Se o público da banda é esse, não é de surpreender que esse lançamento seja um acústico. Numa época em que um artista lança um DVD quase simultaneamente à sua primeira gravação, é até justo que os A&V estejam lançando CD e DVD ao vivo depois de cinco discos de estúdio (todos independentes). E é o sonho de toda banda de estrada lançar um disco ao vivo. Mas por que acústico, hein? Deixemos de lado toda a conversa de releases que diz que “estava na hora de fazer mais jus a essa primeira parte do nome”. O quanto isso tem de vontade pessoal, e o quanto tem de jogada de vendas?
Perguntas cretinas merecem respostas idem. Afinal, quem não tem vontade de vender seu trabalho? Mas Paulo James é educado e dá toda a linha: “cara, toda banda de rock quer ter um disco ao vivo, principalmente com um vídeo junto, mas sem ter uma estrutura por trás disso é muito difícil, é financeiramente inviável. Quando rolou esse convite de nos juntarmos a esse projeto da Atlântida, não teve nem muito o que pensar! E foi um repertório de hits mesmo, porque funciona também como uma coletânea. Tem as [quatro] músicas novas, mas quando você vai tocar, o pessoal quer ouvir ‘Remédio’. Não tem como escapar. Nem tem porque. Só acho que a gente marcou de voltar para [o selo] Antídoto. Acho que devíamos nós mesmos ter encampado a coisa da divulgação e distribuição, porque hoje em dia...” (reticências inconformadas)
A distribuição é precária mesmo, e não é só as independentes. Me lembro que na época do Creme Dental Rock’n’Roll (2003), “Se Você For Assim” e “Cinco Frases” foram megahits por aqui e ninguém achava o disco para comprar. E ele tinha sido lançado pela [hoje falida] Sum!
“Pois é, foi complicado isso. O único disco que teve distribuição legal foi o de 1999 (Acústicos & Valvulados), que era da parceria Antídoto/Abril”.
E até um lance engraçado: quando os Autoramas vieram fazer um show aqui na fronteira com a Argentina, usaram “Se Você For Assim” como vinheta de divulgação do show deles!
“Bá... “ (risos)
E ainda nessa de popularidade: no que a projeção semi-estelar que o Rafael [Malenotti, vocalista] tem como o Beduíno Albino do MTV Rockgol ajuda a banda?
“Cara, é legal ver o Rafael no Rockgol, aquilo é uma vitrine legal. Claro que o ideal seria as pessoas chegarem em nós pela música, mas assim também é bom. E aqueles caras [Marco Bianchi e Paulo Bonfá, apresentadores do programa] são uma troça só, cê dá muita risada com eles”.
Como não se vive só de amenidades, aproveito para desengavetar uma pergunta antiga: por que o baixista (e membro fundador) Beto Abreu saiu da banda?
“Porque com essa coisa de banda, chega uma hora que não dá mais. (pausa) Teve hora que pensamos até em falar: ‘bá, cada um pro seu lado, vamos acabar com isso’. Mas precisamos chegar e falar pra ele que tava na hora de sair. E foi isso”.
E hoje, com Diego Lopes no baixo (e nos teclados também) e Daniel Mossman na segunda guitarra (deixando Rafael só com o microfone), a banda, completada pelo guitarrista Alexandre Móica, segue numa linha mais “melodia setentista” que nunca. Esse caminho vai continuar sendo trilhado?
“Olha, cara, nenhum disco funciona muito de caso pensado, não. É meio que na hora que a gente decide. Mas se for pra te dizer, eu te diria que o próximo disco de estúdio do A&V vai numa linha mais Esse Som Me Faz Tão Bem (2005) que na linha do Creme Dental... Esse foi um disco muito porrada, até as baladas são porrada! (risos) Era uma coisa que a gente queria na época, mas acho até que rolou uma forçada no som para chegar nesse caminho, sabe? Acho que Esse Som... é próximo ao nosso disco de 1999, e acho que é nesse caminho que vamos continuar”.
E já que estamos nessa conversa, dá para você dizer qual disco dos A&V você considera teu preferido, um realmente afudê?
“Ah, eu diria o de 2001 (N. também chamado Acústicos & Valvulados), com certeza”.
Mais umas bobagens e faz-se o tempo do vinho acabar e da banda subir ao palco. Eu me muno de umas cervejas e fico no backstage, pensando que o formato acústico funciona que é uma beleza com eles. Penso ainda que Alexandre Móica funciona como melhor cantor que Rafael Malenotti, que as novas canções têm uma cara entre o country e o bittersweet, que o arranjo para “Milésima Canção de Amor” ficou muito massa, que a platéia tá cheia de gurias lindas e cantantes... Enfim, que eu estou numa festa com uma banda cheia de carisma e boas canções, e tenho mais que aproveitar.
Mas antes, um minuto antes do show começar, eu tinha perguntado pro Paulo quanto tempo ele ainda se via fazendo isso. O show já responderia minha indagação, mas ele respondeu assim mesmo.
“Ah, é o que a gente gosta, né meu? Você vê um cara como o Paul McCartney, que ainda tá aí, e tá botando pra fuder, ou um Elvis Costello... Enquanto der, vamos estar aí”.

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Ao vivo

Porque misoginia é um estilo de vida OU Um texto escrito no Dia Internacional do Rock – que porra é essa de “Dia Internacional”?

Onde há guitarra, há buceta. Essa máxima foi cunhada na minha adolescência, quando, rodando de bike pelos subúrbios de uma cidadezica do interior paulista, vi uns guris com uma bateria podre e uma guitarra simples plugada num amp “caixa de abelha” tocando um Charlie Brown cover qualquer, rodeado de gurias sumariamente vestidas em volta. Aí foi só virar zineiro e começar a freqüentar uns camarins de bandas para ver que a teoria não só procede, como é extrapolada no caso de ser um grupo minimamente conhecido.
Os Acústicos & Valvulados começaram rockabilly em God Bless Your Ass (1996), foram para um country folk que embalava sonhos de pós-púberes semi-virgens em Acústicos e Valvulados (1999), mandaram pop pesado de produção afu (o outro disco homônimo, de 2001), sentaram o pau no invocado Creme Dental Rock’n’Roll (2003) e voltaram às teenage love songs em Esse Som Me Faz Tão Bem (2005) – o mais fraquinho. É claro que sempre tem uns magrões (eu, por exemplo) que gostam pra caralho do som da banda, principalmente quando eles se metem a invocar na rifferama ou a acertar nuns arranjos country. Mas o público maior deles, principalmente aqui no Paraná, são as gurias. Em Foz do Iguaçu, especialmente, os caras são hit certeiro. Aliás, isso já foi debatido aqui no Gordura: tem uma pá de banda gaúcha que é taxada de “indie” em SP e afins (Tequila Baby, Ultramen, os próprios Acústicos), mas que nos estados de barro vermelho apitam muito e, se não lotam lugares para mais de mil pessoas, estão perto disso – ao passo que as bandecas do tal “indie” paulista não chegam a encher um moquifo tocando para um público de amigos. Claro que a convocatória de uma banda não é sempre proporcional à sua qualidade, mas só para lembrar ao leitor indie-bunda padrão (não escolhemos quem nos lê): aqui esses caras tocam no rádio pau-a-pau com hypes nacionais, as meninas semi-virgens (definição apropriadíssima cunhada pelo Vignoli) têm fotos deles nos seus fichários de Hello Kitty e os piás tentam tocar sons deles nas aulas de guitarra.
Assim, não era de surpreender que, mesmo sendo uma quinta-feira fria como a buça da rainha Elizabeth II, o tal Ono Teatro Bar estivesse bem cheio, mais ou menos nessa proporção: de cada 10 pessoas, dois eram guris fãs da banda que foram lá ver os caras fazer o show da turnê/CD/DVD Acústico Ao Vivo e A Cores, dois eram pessoas de qualquer sexo que são habitués da casa (ou seja, o tipo de pessoa que gasta grana e tempo em roupas e produção e, na hora H, faz de conta que não saiu para comer ou ser comido/a) e outras seis eram gurias ávidas de “energia roqueira”. Se é que preciso explicar.
Então, a exemplo duma outra resenha de show gaúcho em terras fronteiriças, vamos tipificar a coisa toda para você, que vive atrás de uma tela de computador e não viaja nunca, entender qual é a da coisa:

O LUGAR
Ono Teatro Bar. Só os donos sabem porque há o “teatro” no nome. Se pá, nem eles. Não tem nada de teatro nem dentro nem fora, o lugar parece meio vagamente um navio, tendo sido decorado como tal. Tem uma pista onde cabem umas duas mil pessoas, um bar cheio de cerva a preço caro (cerveja Skol long neck a R$ 3,50) e coquetéis coloridos, insossos e mais caros ainda; uns camarotes com sofazões para o pessoal ficar se pegando ou fazendo pose e; no sobrepiso que mais parece um mezanino, um restaurante japonês! Costuma receber em sua agenda de shows: bandas que fazem cover de Jota Quest, bandas gaúchas quase famosas, bandas gaúchas famosas, bandas de “forreggae universitário” (Maskavo e todas aquelas merdas que se parecem com eles, com nomes naturebas que não escondem a vocação maconheira-vagabunda de seus integrantes e seu público), micaretas, DJs brazucas com “nomes artísticos” cheios de consoantes, gauchescos presepeiros e a banda Viva A Noite, aquela do Pânico na TV.

OS HABITUÉS DA CASA

Você leu o parágrafo acima. Precisa de mais alguma informação?

OS MAGRÕES QUE GOSTAM DA BANDA
Esses devem ter se matado de rir no ano passado quando, para anunciar um show do Autoramas, um bar local usou o riff de “Se Você For Assim”, dos A&V. Para você ver que, apesar dos pesares (ter eleito o Requião, foder todo o Estado para plantar soja, etc), o pessoal aqui é sensato: dão aos Autoramas sua devida irrelevância. Claro, eles foram legais um dia. Mas faz tanto tempo que minha mente até já perdeu esse dia de vista.

De volta aos magrões: pareciam estar no começo dos seus vinte anos. Sabiam as letras de cor. Ouviam atentamente as inéditas. Alguns identificaram até mesmo o cover de “Sob Um Céu de Blues”. Ou seja, se você não fosse avisado, poderia achar que está no Rio Grande, olhando para eles. Mas pra que ficar olhando para eles, se haviam...

60% DE GURIAS...
Sabe as tais pós-puberes? Elas cresceram. Seus peitos e bundas também. E não estavam preocupadas em se proteger do frio. Provavelmente, deixaram de ser semi-virgens há algum tempo, o que não quer dizer que se descabaçaram de vez. Também sabiam um ou outro trecho das letras. Sabiam rebolar muito bem – manja o tipo de universitária de facul particular que não pode ouvir funk carioca para ver se consegue se sentir meio puta? É por aí. Algumas provavelmente deixaram sua semi-cabacice naquela noite, com algum cara da banda. O camarim tava uma festa só: o batera Paulo James na dele, só tomando um vinho, e o vocalista Rafael Malenotti (o quase-estrela do MTV Rockgol) na companhia da assistente da banda. Os outros músicos (Diego Lopes, Daniel Mossman, Alexandre Móica e o tecladista contratado Luciano Leães, da banda Locomotores) eram disputados às penas, podendo escolher quem levar. Eu e minha namorada, já meio duros no trago, vendo tudo e nos matando de rir. São as mesmas ex-alunas de cursos e faculs onde lecionei, que faziam pose de santas não faz nem um ano.
Tinha também uma nova leva de adolescentes ainda com alguma proporção de inocência dentro de si. Essas só deliravam por estar de frente com seus “ídolos”. Como delirariam frente a qualquer outro show de outro artista com música nas FMs.

O SHOW
Vi todo ele detrás do palco, o que me deu uma visão privilegiada do público (daí essa riqueza de detalhes e poder de observação) e uma chance de curtir o show numa boa, cerveja e vinho acompanhando. Como já disse, gosto muito do som dos caras, e acho que o formato acústico cai bem a eles, na maioria das vezes (“O Dia D É Hoje” ficou meio frau, mas só ela). O lance de ter órgão e piano também faz uma boa diferença. O que eu nunca gostei do show dos pintas é que eles sempre prezam pelo set list mais óbvio quando estão fora de casa, e agora que a turnê está divulgando um disco ao vivo, mais ainda. De surpresa mesmo, só “Sob Um Céu de Blues” num arranjo simples e massa, já que as quatro inéditas foram tiradas do disco novo. Dessas, “Vou Com Você” tem o vocal de Alexandre Móica, bem melhor que o de Rafael Malenotti. Mas o Beduíno Albino tem carisma, não dá para negar. Ainda que apele para as frasesinhas decoradas de sempre. Mas até aí, quem quer verborragia também?
O show foi bem curto, e deixou de lado até uns hits locais, como “Cinco Frases” e “A Minha Cura”. Mesmo assim, tocado com vontade, e com umas soluções legais incorporadas a um formato que já é manjado desde que nasceu. Quem gosta da banda aproveitou, lógico (esses tipos sempre aproveitam, aplaudem até espirro), mas fiquei com a impressão que, quem não gosta, ficou tentado a fazê-lo. Na real, foi um dos melhores shows dos caras que eu vi. Certamente tem a ver com o entrosamento dos caras – visível até para quem não é perceptivo.

O VEREDITO
Cada enfia ou esfrega suas partes pudendas e órgãos alimentares onde bem entender.

PÓS-ESCRITO
Diego Lopes, baixista e tecladista do A&V, também faz parte do Super D, uma “talagada de Ben Folds Five e Jellyfish, uma cópia assim, na cara dura”, segundo palavras dele próprio. Chego até ele, num átimo de impulso jornalístico, e pergunto: “cara, digamos que eu tô duro no trago, pego o CD do Super D e pergunto: ‘que porra é essa?’ Quié que tu me responderia?”
De bate pronto, o gurizão manda essa, rindo: “hardcore pra viadinho”.
Ninguém pode acusar os caras de não serem autênticos.

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Monday, September 10, 2007

A discretíssima arte de fazer panquecas

Diz um ditado inventado por mim que a primeira coisa que um cara aprende quando vai morar sozinho é fazer panquecas. Se eu me esforçar, certamente consigo pensar nos meios de transformar isso num aforismo bisonho e viro uma espécie de Lair Ribeiro culinário. Melhor não. De volta ao rango.

Panquecas são facílimas de se fazer. Um copo de leite, outro de farinha de trigo, uma colher de café de maisena e um ovo. Bateu no liquidificador e pronto, tá ali. O recheio é o que dá o melhor tom da coisa. Mas existe um jeito de você, solteiro preguiçoso que contou vantagem na hora do cafezinho, impressionar com panquecas. Dá até para fazer uma presença na mesa da sogra, se você quiser chegar a tanto. Olha só:

Com beterraba, espinafre ou cenoura, você consegue fazer panquecas coloridas. É isso aí, é só adequar a dose desejada de cada um desses ingredientes em separado, bater junto com os demais no liquidificador e você tem uma massa com sabor discretamente diferente, que abre inclusive para a possibilidade de outros recheios além da indefectível carne moída. Dá para usar ricota (com a de espinafre), carne com seleta de milho e ervilhas ou uma calabresinha picada (na de cenoura) e qualquer opção com a de beterraba. O importante é ter a certeza de que tudo foi bem batido, para você não acabar com pedaços brutos na massa.

Tá aí: prato simples, barato, que não requer mais que a paciência para lavar o liquidificador vez ou outra, e que bem arrumado numa travessa, faz farol na presença de incautos e até rende elogios.

Testado e aprovado pelo detentor desse blogue, agora extensivo aos amigos.

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O Albergue Espanhol

Filme feito em 2003, mas que se passa à época da unificação européia, na qual os países ainda mantinham suas moedas (e identidades) nacionais. Embora os mais querelantes possam considerar o filme como “anti-integracionista” ou alguma coisa assim, dá para perceber que sua tônica é o respeito à integridade cultural de cada um – aliás, é quase uma pequena pérola sobre ser você mesmo convivendo com os outros. Claro que tudo é facilitado dentro da realidade onde o filme se insere – ou seja, é fácil “se integrar” se você é jovem, bem-apessoado e europeu (tá, tem um figurante do Gâmbia para livrar a cara do diretor Cédric Klapisch). Considerações sociológicas à parte, é muito bacana ver como Klapisch trabalha possibilidades simples de câmera, principalmente a perspectiva, para mostrar as transformações pelas quais o personagem Xavier (Romain Duris) passa. Ele é um bundinha parisiense que vai passar um ano na Espanha estudando economia para garantir um emprego na companhia do amigo do papai. Mas a partir do momento que se despede da mãe hippie superprotetora e da namorada chatinha (Audrey Tautou, a Amélie Poulin) no aeroporto, já se percebe que a bundamolice vai ter que acabar na marra – aquele “se virar” que todo mundo que largou o útero familiar e foi morar sozinho já passou, uma experiência que acaba te mostrando o teu verdadeiro caráter e te revela seus mais íntimos valores, alguns surpreendentes e outros desastrosos. Nesse processo, a Barcelona onde Xavier está é geograficamente a mesma, mas vai se revelando diferente conforme a necessidade o obriga a sair de seu confortável casulo.

O filme conserva um astral altíssimo, mesmo na hora das fossas abissais vividas pelos “pós-adolescentes” (interpretados por atores muito mais velhos que essa idade, diga-se), mas faz até de seus pecadinhos pequenas virtudes: afinal, o quanto conhecemos alguém? Não sabemos mais que pequenos detalhes ou grandes irrelevâncias, e terminamos o filme conhecendo tão pouco dos “alberguistas” (é uma “república estudantil”, na verdade – será que ainda se usa esse termo?) quanto Xavier, mas o que vemos, nos permite inferir algumas coisinhas... inclusive que a vida não será a mesma. Que muita coisa mais vai parecer sem graça e insuportável. Que nada vai ter aquela emoção que te acomete quando você se põe a arriscar uma comovedora ingenuidade. Que o cinismo vai ser uma presença mais constante.

Quando Xavier volta, ele se sente, enfim, estrangeiro em sua própria casa. Não mais parisiense nem nada, mas alguém que sabe que seguir em frente é o único meio de continuar a vida, pois olhar para trás, além de atravancar tudo, só traz dor. E a câmera acompanha essa mudança em seu rosto, o ar de bundão abandonando subitamente sua cara.

Alguns poderiam reclamar do final algo irreal e sonhador, ainda mais depois do passeio parisiense impregnado de “realidade”. Mas o diretor, pelo visto, se permite sonhar, e quis fazer uma película na qual pudesse compartilhar isso com os outros. Agradecemos.


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Thursday, September 06, 2007

Mimetizando

Existe algo de glamouroso na imagem do escritor sentado à sua escrivaninha, máquina de escrever à sua frente e um copo de whisky ao seu lado; ou na imagem do garotão jovem e belo, metido a escritor, preso em um narcisismo de cabelos encaracolados em frente ao computador, cerveja preta embalando uma noite quase fria. Imagens que alguém concebeu e muitos introjetaram de modo a reproduzi-la em suas vidas, como aqueles monges copistas que levavam seu ofício a sério demais. Só que os monges se davam conta, antes mesmo de começar seu trabalho, que iriam meramente reproduzir o que alguém já fizera.
Está aí uma possível razão – ou pelo menos uma tese bem discutível, que encontra ressonância numa mesa de bar – para muitos dos tais “males da alma” que nos atormentam já há um tempinho (sendo “alma”, é claro, um conceito pra lá de abstrato, às vezes além do limite saudável). Não nos satisfizemos profissionalmente porque temos que ser igual àqueles “modelos” de histórias edificantes que nos contaram, seja via midiática ou oral. Não somos correspondidos no amor porque não alcançamos nosso ideal de romance, e este não está na nossa experiência pessoal, e sim em meia dúzia de clichês literários e/ou hollywoodianos.
Beijar na chuva ou esperar alguém do lado errado da rodoviária pode ficar bem em celulóide, e talvez até fique como um referencial simpático na biografia de cada um. Mas, às vezes, dar a chance de alguém falar pode ser absurdamente romântico. Deixar alguém dormir quando você sabe que há vida lá fora pode ser tristemente romântico, amargamente romântico, ou simplesmente belo.
Esse preâmbulo, que no fim virou o próprio texto, veio à tona por quê mesmo? Porque eu passei os últimos dias ouvindo pessoas que me importam, pessoas decididamente importantes para mim (inclusive eu mesmo, veja só), se perguntando o que vai ou o que foi de errado em sua vida. E as mais diferentes perguntas pareciam encontrar uma resposta semelhante: ninguém parece saber por quê faz o que faz. Ou melhor, sabem que querem corresponder a uma idéia, um arremedo de “objetivo” (essa palavra surrada e maltratada dos dias de hoje) que herdaram de alguma experiência de mass media ou de algum livro que impressionou além do mero encanto textual.
Isso é errado? Não sei. Quem sou eu para dizer, se caí na estrada e nos bares depois de pegar o Bagana na Chuva, e até hoje sofrer vendo que alguns dos meus textos não passam de imitação sofrível do Mário Bortolotto. Só que sei que toda vez que tentar escrever como ele escreve, o máximo que conseguirei é fazer uma cópia razoável, que, entretanto, nunca parecerá mais que uma cópia, desfigurada se comparada ao original.
Eu e meus amigos e minhas amigas destes últimos dias, single serving friends ou irmãos que acompanharão na estrada (obrigado, Chuck Palanihuk!) estamos todos, cada qual a seu modo e em suas áreas particulares, presos à repetição do que não vivemos. Queremos – e junto com nós, toda a humanidade, ao que parece – viver o que alguém viveu, gozar com o pau alheio, beber da mesma água em uma garrafa diferente. Isso não vai dar certo. Isso angustia. Isso dá no tal do vazio. E o vazio sempre esteve aí. Ele também acaba sendo uma cópia.

Tuesday, September 04, 2007

Gênese

(Uma fábula criada pela mente adolescente que não deixa nem o corpo parecer com o de um homem. Ainda somos todos garotos)

No princípio havia o silêncio, e o silêncio era tudo e o silêncio oprimia. E a opressão se fez ruído, e Alan Freed disse que era a hora do rock and roll, e quando Bill Haley contou até dez, a sala de aula se tornou uma selva e a vida se fez Música. E a Música estava em todas as ruas, e seus seguidores viram que ela era boa. Mas havia alguns que não queriam a Música, queriam só os blusões de couro e a inconseqüência, porque eram maus. E esses tornaram a selva uma cadeia alimentar com mais predadores que presas, e a Música foi se esconder.

Veio Pat Boone e a Era das Trevas. Os Mil Anos do Inimigo vieram antes mesmo do Apocalispe começar, e estávamos todos na Escuridão, até que os apóstolos João e Paulo vieram, saindo das hostes profanas para converter o mundo à verdadeira fé, a de que todos tínhamos almas de borracha. E a luz veio trazer tons coloridos e espiralados à Música, que agora estava em todos os lugares onde não se comia de hashi. A Música se espalhava, e conforme o fazia, se transformava e se engrandecia. E quiseram tornar a Música popular, e organizaram grandes cultos, com grandes corporações das Trevas bancando-os, e assim se deu a Apostasia, com todos comprando a Música e os produtos associados à ela. E os Músicos ficaram ricos, e os fiéis se tornaram cínicos.

Novos rebanhos foram arrebatados. Novos rebanhos ainda o são. E hoje, passados quase quarenta anos, temos saudades da Era das Trevas, pois elas hoje nos parecem inocentes e inofensivas. Os rebanhos estão cada vez maiores. Os rituais mudaram, se modernizaram. Os cultos estão cheios de alta tecnologia e anúncios luminosos & luxuosos. A fé está nas roupas e na “atitude”. A Música se foi. Só ficaram os ruídos.

Mas ainda há devotos, anacrônicos devotos que sabem que a Música não precisa estar entre as massas. Que o Apocalipse já chegou à plebe e esta prefere ter camarote vip e traquitanas eletrônicas para “curtir o show” em vez de salvar suas almas – agora não mais de borracha, mas de fibra sintética e poliéster. Esses devotos ainda estão por aqui, e não querem “preservar a fé”, converter descrentes ou salvar os que estavam perdidos antes de nascer. Elas só querem colocar a Música onde suas vidas permitirem, e seguir seu caminho, deixando a porta da casa aberta para quem quiser entrar, ou oferecendo lugar na caravana. Eles estão por aí, tocando em algum lugar onde as luzes não brilham nomes de produtos e onde suas letras fazem o sentido que um dia outras fizeram.

Eles ainda estão por aqui. São a saída que permite dar as costas ao Apocalipse e andar por outros caminhos menos iluminados e mais lentos, mas caminhos nos quais você pode parar e apreciar a vista. Nos quais você pode sofrer, mas encontrará alívio nas provações e consolo nos intervalos da dor. Nos quais você pode entender que a felicidade não está num posto de gasolina aberto às 5h da manhã ou ao alcance do clique do mouse.

Aliás, eles nem sabem se a felicidade está mesmo por aí. Mas estão a fim de procurar. E por extensão, acabam ajudando a alguns na busca.

Amém.

(texto dedicado ao Ivan Santos, ao Fábio Cascadura e aos irmãos Carlos e Renato Zubek. Às vezes, a felicidade está numa canção bem colocada no melhor dia possível)

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Sobre antagonismos e a tal "lei da ação-e-reação"

“Quando eu era mais novo, eu era tolo e só pensava em trepar. Hoje que estou mais velho e mais maduro, me dedico ao que realmente importa: ESMAGAR MEUS INIMIGOS”.

(Harvey Pekar)

Essa coisa toda do “nós” contra “eles” parece tomar o coração das pessoas. Sempre há um “nós” ou um “eu”, fora disso, apenas o resto. “Quem não está por nós, está contra nós”, disse Jesus Cristo (disse mesmo?), num militarismo de fazer inveja ao Bush ou (para ficar no território nacional) ao Médici.

É como se precisássemos do inimigo. Tem que haver alguém contra quem lutar, senão não há pelo que vivier, não é?. O grande lance é que às vezes “o inimigo” está dentro de nós mesmos. Só temos que combater aqueles demoniozinhos que parecem uma legião, ou que aquele um tem um porte de derrubar o Gigante Adamastor.

É fácil achar inimigos externos. É fácil polarizar. É fácil ver tudo como um jogo onde é um time “versus” o outro. E “versus”, convém lembrar, significa “em oposição”. Mas às vezes, os únicos obstáculos reais são aqueles que a gente criou. O outro, em algumas ocasiões, nem é “inimigo”. Só está ali, tentando garantir a dele, exatamente como nós estamos fazendo. Ele pode ser um pulha, não resta dúvida. Mas nós também podemos ser boçais, canalhas ou incômodos. E aí?

Brigar é atravessar a rua para acertar o cara que ia te bater. É tirar o seu da reta, colocando o do outro. Há momentos em que isso dá certo, e outros onde isso cobra um preço.

Eu sempre estive disposto a brigar, não necessariamente (embora também) no sentido braçal. Ultimamente tenho fugido, e isso vinha me fazendo alguma falta. Muita falta, me corrijo. Aliás, hoje me permiti brigar. Mas me dei conta que o “inimigo” não é um monstro demoníaco com dezoito chifres e quatorze olhos, um dos quais sofrendo de catarata. Ele é um bípde como eu, que come, sofre, trepa, broxa e paga as contas (as tais “funções vitais”, revistas e ampliadas para os tempos atuais). Só quer garantir o dele, assim como eu quero garantir o que é meu. Ele pode ser um canalha tentnado chegar a isso. Mas eu tenho minhas defesas, nem sempre intransponíveis, pero las tengo.

Entretanto– e isso já desde muito tempo – julgo que não vale brincar de rolo compressor e pegar o meu usando dos meios que estão à disposição. Existe mais que alimentar animosidades e buscar discrepâncias. Tá me parecendo mais lógico – mais óbvio, mais gozoso – fazer o que é de minha índole e meu estilo. Garantir a preservação do meu eu, mesmo que eu perca a “briga”. Aliás, eu não vou brigar. Eu só vou fazer como os monges budistas da parábola: vou terminar o jogo. Eu não largo uma partida no meio. Uma hora as coisas têm que terminar, e meu tempo aqui (“aqui” significando Foz do Iguaçu, o mundo, essa vida – não necessariamente nessa ordem) não é exceção. E quando acabar, eu terei feito o meu trabalho. Eu entendo que há limites. E entendo que é justamente por causa do último limite que eu tenho que relevar alguns dos anteriores. Para isso, eu não preciso transformar ninguém em antagonista. Claro que alguns vão estar contra mesmo. Vão até ali (“ali” sendo exatamente aquele lugar para onde você está indo também) só para se interpor no seu caminho. E daí? Eu tô ocupado demais brigando comigo mesmo, e me garantindo os meus acordos de paz. Eu é que não vou descer o punho ou a alma onde eles não são necessários.

Não somos “nós” contra “eles”. É só contra nós mesmos. Se "eles" não estivessem, outros estariam. E outros sempre vão estar. Mas “nós” vamos embora. Eu quero ir “em grande estilo”. As pompas e circunstâncias eu dispenso. Mas fico com o cinturão de quem ganhou a batalha contra o adversário mais cruel: eu mesmo.

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Monday, September 03, 2007

The Indian Runner


“Assistiu a Indian Runner?”

“Só há um grande filme, e Sean Penn é seu diretor”.

(Diálogo entre os personagens Sbórnia e Cardan, no livro Bagana na Chuva)

... E foi numa tarde de terça-feira que eu achei o VHS de The Indian Runner, sob o título nacional Unidos pelo Sangue, à venda numa locadora falida de Foz do Iguaçu. Faz até algum sentido: encontrar esse filme ali, num lugar à vista de todos mas num canto meio esquecido e desconsiderado, mais ou menos como Frank Roberts.

Frank voltou do Vietnã para ver o irmão Joe, e somente ele. Deixa os pais de lado pois “eles vão até ficar aliviados”. Eles sabem que Frank é reckless, indomável, destrambelhado – e de delinqüente juvenil para paria adulto é um pulo, e não demora muito para que ele vá parar na cadeia por bater na namorada. Nesse ínterim, sua mãe morre, e Joe acha que é hora de fazer alguma coisa para salvar seu irmão. Joe é policial, acredita em família e vive segundo sua crença. É casado e tem um filho, algo que Frank parece (veja bem: parece) invejar, está sempre com eles e/ou com o pai. E parece preservar pouco deste, assim como o irmão. Os dois irmãos Roberts parecem ser forças à parte de sua família, a natureza e a civilização enquanto seres vivos, animais que agem segundo sua própria natureza e se vêem incapazes de compreender a natureza alheia. Claro que esse ímpeto de “salvação” proveniente de Joe vai cobrar de todos eles e de outros mais um preço. As escolhas ditarão caminhos que não estavam previstos e, se pararmos para pensar, não poderiam ser evitados.

Agora pense: Sean Penn é um diretor que, mais que contar histórias, arranca do ator atuações angustiantes em sua precisão, sempre com histórias de pessoas que estão entre o dever e a dor, pessoas que pagam pela própria vida (ou com a sanidade) por suas escolhas indomáveis. Assim ele arranca de Viggo Mortensen (Frank) e David Morse (Joe) as melhores atuações de suas vidas. Charles Bronson, numa participação cortante de tão frágil, é o pai do clã. Dennis Hopper aparece menos de cinco minutos para garantir um dos diálogos mais assustadores do filme (aliás, os diálogos são excepcionais, mas são cruelmente mutilados pela legendagem da Tri-Star.Columbia). Eu ia escrever que, não obstante a presença da bela Valeria Golino como a esposa de Joe, esse é um filme para homens. Mas já não tenho mais certeza – aliás, o filme não te deixa nenhuma certeza sobre muita coisa, já que os dilemas do dia-a-dia vão se avolumando a uma questão crucial: quanto se morre pra poder viver? Obrigado ao Linari pela frase.

Acontecimentos levam Frank a assumir trabalho, filho, a casa paterna, cama king-size e churrascos em pesqueiros no fim de semana. A pergunta é se Frank assumiu ou aceitou isso tudo, e a resposta vem em forma de vômito, a verdade escarrada para o mal estar de quem está na tela e do outro lado dela.

Nada disso impede Joe de ver seu irmão caçula como o garoto que brincava com ele na infância. Isso também é de sua natureza. Quando é preciso, Joe também vomita sua verdade, seu sangue sendo derramado com menos dor do que o sangue alheio. Joe mostra à Frank em que acredita, logo depois que ele fizera o mesmo. Coisas explodem, e os estilhaços vão criar feridas na alma que nunca cicatrizarão. Com a família é assim.

E a coisa toda daquela pergunta, sobre o que está em nossa natureza e o que advém de escolhas, volta, na forma de cartas na mesa, com a última colocação de Joe, narrador do filme. E vamos todos para a casa sem rumo, querendo saber se para onde estamos indo é casa ou só mais um lar.

Indian Runner (o porquê do título se perde nas legendas podres) é o filme mais perturbador que assisti em muito tempo. Não é tocante como O Labirinto do Fauno (filme que me deixou de cara há poucas semanas), está mais para O Lenhador, no qual Kevin Bacon mostrava que dentro de todo monstro tem um ser humano. Esse Runner corre em terreno semelhante, mas para um outro lado, o lado que reza conforme aquele velho aforismo: nem o mais alto dos muros consegue nos proteger de nós mesmos.

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